São Paulo, Preços favoráveis e estiagem precipitam o corte de lavouras prematuras já no início de março. Preços remuneradores e problemas climáticos deverão contribuir para que o início da safra de cana-de-açúcar seja antecipada em até 10 dias em relação ao ano passado. Usineiros e técnicos do governo prevêem que já na primeira semana de março máquinas colheitadeiras (em lavouras mecanizadas) estarão em operação em um grande número de lavouras da região Centro-Sul e do Centro-Oeste para o corte da cana. Nos chamados solos mais pesados (predominantemente argilosos) o corte também deverá ser antecipado, mas a operação deverá ser manual por trabalhadores rurais. Será um recorde no setor, incentivado pelo desejo de alcançar bons preços e ainda, reduzir os custos fixos das usinas, por meio do alongamento do período em operação.
O início safra será precoce nas lavouras do Mato Grosso e do norte do Paraná, segundo acredita o presidente da Usinas e Destilarias do Oeste Paulista (Udop), Luiz Guilherme Zancaner. A estiagem ocorrida nos primeiros 12 dias do ano no chamado Norte Velho do Paraná (próximo à fronteira com o estado de São Paulo) comprometeu o rendimento das lavouras, mas precipita o início da safra porque contribui para potencializar a produção de sacarose.
No Mato Grosso, o clima favorece naturalmente a antecipação da safra, já que as chuvas se tornam menos freqüentes nessa época do ano. Como o solo nas lavouras daquele estado é mais leve, isto é, com maior capacidade de drenagem da água, dois dias de estiagem são suficientes para que os agricultores coloquem as máquinas no campo, afirma o diretor do Departamento de Açúcar e Álcool do Ministério da Agricultura, Ângelo Bressan Filho.
Os plantadores de cana contam ainda com a ajuda de produtos químicos para acelerar o amadurecimento das plantas e, com isso, melhorar o rendimento das lavouras, apesar do corte prematuro.
A antecipação da safra atende ao apelo do governo para aumento da oferta de álcool combustível e com isso, o início do declínio dos preços, que atingiram o seu pico na segunda semana de janeiro, resultado da redução dos estoques do produto. Bressan não acredita que neste ano exista risco de falta do produto na bomba. Para ele, a alta do preço do combustível contribuiu para a queda do consumo e, conseqüentemente, para a contenção do preço.
Embora o valor cobrado pelas usinas permaneça em alta, ainda não atingiu o valor negociado entre representantes do governo e das usinas no início deste mês. Segundo o acordo firmado na ocasião, as usinas não cobrariam mais que R$ 1,05 o litro do produto. Apesar da alta de 0,21% durante a semana passada, o preço médio cobrado nas usinas ficou em R$ 1,0138 o litro, informa o Cepea/USP.
Os usineiros temem a queda brusca dos preços a partir de março, por conta da repetição de uma rotina em que as empresas mais endividadas, ou com maior dificuldade de caixa, despejam sua produção no mercado. Para neutralizar esse fenômeno que se repete a cada ano, os usineiros contam com a ajuda financeira do governo para a formação dos estoques. O presidente da Udop lembra que o setor é composto por 280 usinas que não têm poder de fogo. A concentração da oferta de álcool favorece as oscilações bruscas do mercado e a conseqüente alta dos preços nos período de escassez.
Os empresários torcem pela liberação dos recursos da Contribuição da Intervenção no Domínio Econômico (Cide), o que não ocorreu em 2005. Apenas em 2004 o setor contou com o financiamento de R$ 500 milhões para estoques, suficientes para um bilhão de litros. Segundo Bressan, não há pressa para a liberação dos recursos.
(Gazeta Mercantil/Finanças & Mercados – Pág. 12)(Isabel Dias de Aguiar)