A entrada em vigor do Protocolo de Kyoto, em fevereiro, deu o primeiro grande impulso no mercado do carbono, que poderá render ao Brasil jáem2006€ 355,7 milhões, ou R$ 1,01 bilhão.
Deste total, € 11,85 milhões (R$ 33,9 milhões) poderão ir para o bolso dos suinocultores do Sistema Integrado Sadia que aderiram ao programa Suinocultura Sustentável Sadia (3S). O programa começou a ser escrito em janeiro e tem como objetivo principal dar sustentabilidade às 3,5 mil propriedades, responsáveis pela criação de 70% dos 3,5 milhões de suínos abatidos anualmente pela empresa. “Temos consciência de que o futuro das propriedades rurais brasileiras depende de profissionalização e modernização.
Esse programa tenta garantir isso”, diz Meirede Fátima Ferreira, coordenadora para sustentabilidade da Sadia e diretora executiva do Instituto Sadia de Sustentabilidade.
O Instituto, criado para implantar o projeto, está sendo financiado pela venda dos créditos de carbono gerados pelo biodigestor da granja da empresa, em Faxinal dos Guedes, em Santa Catarina, onde tudo começou.
A estimativa da Sadia é que a granja gere créditos de 260 milhões de toneladas de carbono em 10 anos. Meire diz que “só falta a liberação pelo Conselho da ONU para fechar a primeira venda”.
A compra e instalação dos biodigestores nas propriedades dos fornecedores está sendo feita através de financiamento da Sadia, que será pago com os recursos obtidos com a venda dos créditos de carbono. “O que sobrar, será entregue ao produtor, que deverá investir prioritariamente em ações de preservação ambiental”, explica a coordenadora.
Os técnicos envolvidos neste projeto, como na maioria dos 85 outros já aprovados pela Comissão Interministerial de Mudança de Clima, não sabem quanto de carbono será retido em cada biodigestor, que só será medido quando estiverem efetivamente em funcionamento. “Mas isso não impede as negociações de venda, feitas a partir de estimativa”, diz Marco Antonio Fujihara, diretor de Sustentabilidade da Pricewatherhousecooper, empresa que dá consultoria para todos os projetos de sustentabilidade da Sadia.
A cotação da tonelada de carbono na União Européia, por exemplo, está em € 19,45. Em fevereiro custava apenas € 7.
Esse aumento está sendo provocado pela demanda, que começou a se aquecer com a definição das multas para quem não cumprir as exigências do Protocolo, em€40a tonelada deCO2 excedente até 2007,e de €100/t de 2008 até 20012.
“A compra dos créditos é interessante mesmo que a cotação da tonelada de CO2 chegue a € 35”, avalia Meire. E não é preciso procurar os compradores. “São os compradores que nos procuram”, diz Fujihara.
Por exemplo, a AGCert, empresa certificadora multinacional, formada por grandes investidores, acaba de chegar ao Brasil para atuar no mercado de seqüestro de carbono. A empresa se propõe a assumir o financiamento e a gestão de todo o processo, desde a implantação dos biodigestores, em trocados créditos de carbono gerados por um período de 10 anos. O que pode ser interessante, já que o biodigestor, além de ser uma solução para os resíduos da granja, gera energia e fertilizante.
Fujihara diz que a solução do 3S é ideal para gerar renda a partir da venda de crédito de carbono por pequemos produtores.“ Não porque não seja viável, mas pela dificuldade de atuação no mercado internacional”, explica. Os suinocultores integrados da Sadia estão sendo beneficiados pelas relações internacionais da empresa. “Nossos agentes financeiros internacionais fazem essa ponte.
Além disso, este ano já fomos à Expo Carbon Found, uma feira de negócios para compra e venda de carbono”, conta Meire.
A União Européia, um dos principais mercados compradores, criou o Emissions Trading Scheme (ETS), para auxiliar os países membros a atingirem as metas estabelecidas pelo Protocolo. É um sistemade “cap-andtrade”, em funcionamento desde janeiro, onde se permitida a comercialização de permissões de emissões e de reduções de emissões, entre as 12 mil instalações cobertas pelo ETS ( empresas de geração de energia, produção de aço, cimento, cal, fusão de vidro, cerâmicas, celulose de materiais fibrosos e papel), responsáveis por 47% de toda a emissão de CO2 da UE. O mercado total, ou seja, a demanda por créditos de carbono, é estimado em € 60 bilhões.