A agroindústria do óleo de babaçu tem-se mostrado pouco competitiva nos mercados de óleos láuricos, por está baseado em extrativismo primário com baixo nível tecnológico em toda a cadeia produtiva e que tem como conseqüência direta a má remuneração das famílias que sobrevivem da atividade e a ociosidade do parque industrial que trabalham exclusivamente com as amêndoas de babaçu.
Equivocadamente foi atribuída a concorrência do óleo de soja à decadência do setor, entretanto o óleo de babaçu tem aplicações industriais e o de soja é utilizado na culinária. Desta forma não podem ser considerados concorrentes, pois compete com mercados completamente diferentes, isto porque o uso do óleo de babaçu na culinária hoje tem sérias restrições para a saúde humana.
Um paradigma que é preciso ser quebrado, é de que o babaçu não pode ser classificado como uma oleaginosa, pois se considerarmos o coco inteiro, tem-se um rendimento de apenas 3,5% de óleo, entretanto, se for aproveitado todo potencial energético do coco, o babaçu é hoje uma das melhores alternativas para produção energia no Estado.
Carvão
Recentemente, o parque industrial de ferro-gusa ameaçado pela falta de carvão vegetal de florestas nativas que foi exaurida nesses últimos 20 anos no Estado, despertou para o potencial do carvão do coco babaçu, cuja qualidade é superior ao carvão vegetal de madeira em termos de poder calorífico, teor de carbono fixo e principalmente porque é uma das poucas fontes de carvão vegetal que para ser produzido não é necessário o sacrifício das florestas.
Essa demanda tem possibilitado que os agricultores possam auferir uma nova fonte de renda com a venda do coco inteiro e/ou da casca e tem levado muitos produtores a queimar os cocos velhos de safras anteriores que são refugados pelas mulheres no sistema tradicional e logo em seguida passam a carbonizar os cocos novos, haja vista que a produtividade da coleta aumenta consideravelmente.
Outro mercado promissor em níveis internacional, nacional e local que surge é de biomassa para geração de energia (geração de vapor e queima nos fornos das cerâmicas), e o endocarpo de babaçu pode contribuir para suprir essa demanda, entretanto, deve-se desestimular a instalação de empresas que pretendam usar como matéria prima o coco inteiro.
Renda
Como a quebra manual é uma atividade pouco atrativa para as quebradeiras de coco, pois não remunera adequadamente a mão de obra e nem provê satisfatoriamente a demanda do mercado, essa atividade tende a diminuir de importância à medida que essas famílias passem a auferir outras fontes de renda e tenham satisfeitas as suas necessidades básicas de segurança alimentar.
Assim sendo, o cenário de curto prazo é que não existirá casca suficiente para suprir as necessidades da produção de carvão e os agricultores continuarão queimando o coco inteiro para atender essa demanda que é crescente.
Ressalta-se que esse procedimento tende a tomar proporções com repercussões desastrosas para as indústrias de óleo e para as quebradeiras de coco e para o próprio Estado, haja vista que a transformação do coco inteiro em carvão não agrega valor ao produto, desperdiçando todo óleo e o amido do mesocarpo.
Para que possamos ter uma idéia da dimensão do problema, para cada tonelada de carvão de coco inteiro produzido, são desperdiçados cerca de 105 kg de óleo e 600 kg de amido do mesocarpo. Quando essa projeção é feita visando atender a demanda desse mercado, esses números são expressivos.
Energia
No curto prazo, o aproveitamento do potencial energético do coco deve ser encarado como alternativa para viabilizar a exploração de 7 milhões de toneladas de coco produzidas anualmente no Maranhão e soerguer a economia do babaçu.
Essa visão deve envolver o desenho de ações coletivas de políticas públicas e privadas com o envolvimento das comunidades rurais com objetivo de se implantar projetos sustentáveis de um ponto de vista econômico, social e ecológico, que sejam exeqüíveis e que possam ser replicados nas várias comunidades rurais dos Estados do Maranhão, Piauí e Tocantins.
Essa estratégia envolve a utilização de tecnologia de quebra mecânica e separação dos constituintes do coco em escalas compatíveis e que minimizem os custos de logística. O epicarpo e endocarpo são utilizados como insumos energéticos e/ou transformação em carvão; o mesocarpo como fonte amido industrial e/ou carboidratos na formulação de ração animal juntamente com a torta protéica resultante da extração do óleo das amêndoas
Social
O projeto de produção integrada de babaçu como insumo bioenergético propiciará a inclusão social de milhares de famílias rurais que sobrevivem do extrativismo do coco babaçu com melhoria das condições de trabalho e aumento considerável da produtividade e da renda.
Paralelamente, a demanda crescente e a valorização do coco propiciarão a necessidade de que seja feito o manejo dos babaçuais para melhoria da produtividade. Em um futuro próximo a domesticação do babaçu é a saída.
Se houver investimento em pesquisa científica, através de melhoramento genético poderá ser reduzido o tempo para início da produção, aumento da produtividade e viabilizar o babaçu como cultura rentável e adaptada ao nosso ambiente.
* José Mário Frazão é engenheiro agrônomo, mestre em Agroecologia e pesquisador da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária – Embrapa.