Mercado

Ano começa com grande influência dos fundos

Feliz 2008 para todos. Esse é o primeiro relatório do ano e depois de 2 semanas de descanso e parece que estamos num mercado completamente diferente daquele visto antes do Natal.

O ano estreou com uma posição em aberto recorde de mais de 1.000.000 de contratos. As tradings estão vendidas em 46 milhões de toneladas, enquanto fundos e especuladores estão pesadamente comprados. E são eles – e apenas eles – que estão segurando esse mercado.

O ano de 2008 começa com uma grande influência dos fundos que ajustam suas posições comprando, alterando a curva de longo prazo. Longo prazo? Sim, porque se você observar bem o Março 2008 subiu apenas 27 pontos do Natal para cá, enquanto o Março 2009 subiu 73 pontos no mesmo período. O mercado olha 2009 com tom altista. Tanto é que os preços para o ano que vem já negociaram acima 13 centavos de dólar por libra-peso.

A demanda pelo físico vai se refletir no Março 2008 ou através do preço ou através dos prêmios, portanto nunca é demais falar que os fundamentos não mudaram. O spread Março Maio mostra a falta de demanda, com um carrego de quase 24% ao ano. Mercado em cash and carry vigoroso normalmente atrai os fundos para a compra de commodities.

Um trader me disse, parafraseando a historinha do lobo em pele de cordeiro, que o mercado está repleto de touros em pele de urso, ou seja, os baixistas (bearish) estão travestidos de altistas (bullish). Vamos ver no que vai dar essa briga.

Em 20 dias de pregão tivemos um intervalo de variação no Março de 2008 de quase 200 pontos (mínima de 982 em 7 de dezembro e máxima de 1178 em 8 de janeiro), ou seja, 44 dólares por tonelada. Haja nervos.

Pontos

Alguns pontos fundamentalistas devem ser observados: a) a queda do preço dos fretes deve melhorar o prêmio; b) a indicação de que a produção indiana está caindo, e c) importadores desconsiderando açúcar indiano devido a uma série de problemas. O contra-ponto é a recessão americana, a desaceleração da economia mundial e o preço do petróleo.

Comentamos há algumas semanas que os preços para 2008 deveriam ficar entre 10.50 e 11.50 centavos de dólar por libra-peso, e 2009 entre 12.50 e 13.50. Acho que podemos acrescentar mais 100 pontos nessa previsão.

Dois índices criados e testados pela Archer Consulting serão divulgados regularmente. O primeiro índice mostra o volume de negócios médios diários que efetivamente indicam acréscimo de posição e conseqüentemente a disposição do mercado de efetuar seus hedges.

Quanto mais alto o índice, mais indica que os participantes estão satisfeitos com os níveis de preço. Lembrando que isso pode ocorrer na alta (hedge de venda) ou na baixa (hedge de compra). O índice varia de 0 (pouco hedge) a 10 (muito hedge). O índice hoje está em 8,6.

O segundo índice mostra quantas toneladas são necessárias para mover o mercado 1 ponto. Quanto maior a quantidade de toneladas necessárias para mover o mercado 1 ponto, maior o desejo reprimido do mercado de fazer o hedge e, portanto, grandes volumes de compra encontram vendedores e vice-versa.

Quanto menor a quantidade de toneladas para mover o mercado 1 ponto, maior a suscetibilidade do mercado a mudanças bruscas e especulativas. Em outras palavras, mais nervoso está o mercado. Por exemplo, em 2006 naquele frenesi altista o mercado movia 1 ponto com apenas 190 toneladas. Hoje precisa de 100.000.

A volatilidade das opções explodiu. Dissemos aqui tantas vezes que a compra de opções era uma excelente oportunidade tanto para os hedges de compra (comprando opções de compra) quanto para os hedges de venda (comprando opções de venda), em função do baixo valor dos prêmios.

Nas ultimas 3 semanas a volatilidade subiu mais de 6%, encarecendo as opções. Deve subir mais. Convém observar o momento certo de vender, de olho na relação tempo x volatilidade. No entanto, usinas devem observar se os atuais níveis de preço remuneram o acionista. Lucro no bolso e canja de galinha não fazem mal para ninguém.

Nossa dica em vários relatórios seguidos era que os consumidores (compradores de açúcar no mercado interno) deveriam fazer seus hedges de compra o máximo que pudessem ao longo da curva, pois os preços estavam muito atraentes.

* Arnaldo Luiz Corrêa é diretor da Archer Consulting (www.archerconsulting.com.br). Artigo publicado dia 14/01/2008 no site Agroind.