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Cana-de-açúcar vs. petróleo

A preocupação mundial com o meio ambiente, visando a diminuição das emissões de CO2 na atmosfera, traz ao Brasil uma grande oportunidade de crescimento através da exploração total da “CANA-DE-AÇÚCAR”.

Com base em trabalho apresentado na 1a. Conferência sobre Investimentos em Infraestrutura e Energia no Brasil, em Frankfurt, Alemanha, pelo dr. José Luiz Olivério, Vice Presidente de Operações, da Dedini S/A Indústrias de Base, entendemos oportuna uma comparação entre estas duas matérias primas de geração de energia.

O que chama mais a atenção é o poder calorífico existente na cana-de-açúcar, em comparação ao poder calorífico existente no petróleo, pois a cana-de-açúcar é pura energia, conforme se verifica que uma tonelada de cana-de-açúcar se compõe de: 153 kg de açúcares, equivalentes a 608.000 quilocalorias; 276 kg de bagaço (50% de umidade), equivalentes a 598.000 quilocalorias; e 165 kg de palha (15% de umidade), equivalentes a 512.000 quilocalorias, totalizando 1.718.000 quilocalorias, enquanto que um barril de petróleo contém o equivalente a 1.386.000 quilocalorias. Com isso podemos concluir que o poder calorífico existente em uma tonelada de cana-de-açúcar, é equivalente ao extraído de 1,2 barris de petróleo.

Para demonstrar a grande oportunidade que está se apresentando com o máximo aproveitamento da cana-de-açúcar, principalmente por ela ser uma energia limpa e renovável, tomamos a liberdade de transcrever alguns dados:

– A produção atual de álcool, no Brasil é de 12,5 bilhões de litros, enquanto que nos Estados Unidos é de 6,5 bilhões e na China é de 2 bilhões;

– O Brasil tem uma área de 851 milhões de ha., com um potencial disponível para agricultura de 376 milhões de ha., sendo que a área atualmente utilizada para agricultura é de 52 milhões de ha., e a área utilizada para a cana-de-açúcar é de 5 milhões de ha., o que equivale a 10% da área cultivada, no Brasil, e 1,5% da área potencial disponível para agricultura;

– No aspecto social, atualmente, os empregos gerados no setor canavieiro, em 308 usinas de açúcar e álcool, é de cerca de um milhão de empregos diretos e cerca de 2,4 milhões de empregos indiretos. Se compararmos os empregos gerados nas diferentes fontes de energia, e tomando o setor de petróleo como referência, para cada emprego por este gerado, por barril de petróleo, o setor de energia elétrica gera 3 empregos; o setor de carvão 4 empregos; e o setor canavieiro 152 empregos por barril equivalente de petróleo, em termos energéticos.

– Outro dado importante é quanto ao investimento por emprego permanente, enquanto que, no setor de química e petroquímica, para geração de um emprego gasta-se US$ 220.000,00; no setor automobilístico gasta-se US$ 91.000,00; no setor de bens de consumo gasta-se US$ 44.000,00; e no setor canavieiro gasta-se US$ 9.876,00 para geração de um emprego;

– Os benefícios ambientais, que estão sendo realizados na agroindústria canavieira no Brasil, com a redução das emissões veiculares relacionadas à utilização do álcool combustível, são:

 100% dos componentes dos aditivos de chumbo (desde 1990);

 100% de SOx com álcool combustível (Etanol 100) e cerca de 20% na gasolina com 22% de álcool (Etanol 22);

 particulados: cerca de 100% de particulados de carbono e de sulfato em Etanol 100 e cerca de 20% em Etanol 22;

 componentes orgânicos voláteis com menor toxicidade e menor reatividade atmosférica;

 CO: maior redução nos veículos antigos Etanol 100 (até 70%) e Etanol 22 (até 40%) em comparação com a gasolina pura (Etanol 0);

– Na evolução tecnológica, voltada ao máximo de aproveitamento da cana-de-açúcar, citamos como marco da evolução, o Proálcool (1975), onde adquirimos o pleno domínio de todos os estágios da produção de álcool. Na década de 90, aconteceu expressivo aumento da produção de açúcar, onde adquirimos o pleno domínio de todos os estágios da produção de açúcar. Na década 2000 está acontecendo a evolução no aproveitamento integral da cana (bagaço, palha, subprodutos). Com tudo isso, podemos afirmar que a agroindústria brasileira desenvolveu e muitas vezes introduziu pioneiramente, completa tecnologia agrícola e industrial, acompanhando e, até, superando o estado da arte internacional.

Uma vez visto, o grande potencial existente com o aproveitamento máximo da cana-de-açúcar, é importante transportar, as conclusões acima, para um caso real de oportunidade.

Pelo protocolo de Kyoto, a partir de 2008, a Alemanha tem um compromisso de reduzir 8%, as emissões de CO2, com base nas emissões de 1990, que foram 1.012.443.000 T CO2. Com esse compromisso, a Alemanha terá que reduzir a partir de 2008 cerca de 80.995.000 T CO2, limitando as emissões a partir de 2008, em 931.448.000 T CO2.

O consumo anual de gasolina na Alemanha, em 2008, está projetado em 46.428.000.000 litros, sendo que as emissões de CO2/ano, serão da ordem de 106.784.400 T CO2/ano. Misturando 10% de álcool na gasolina, haverá uma redução de 9.610.596 T CO2/ano, que representa 12% do compromisso que a Alemanha tem no protocolo de Kyoto, ou seja, reduzir, a partir de 2008, a emissão de 80.995.000 T CO2/ano.

Como a Alemanha não tem condições de gerar uma produção de álcool deste porte, aí surge a oportunidade do Brasil fornecer o álcool, sem prejuízo da produção atual de açúcar e álcool.

Para isso, haverá a necessidade de uma produção adicional de 4.642.800.000 de litros de álcool no Brasil. Para esta produção de álcool, a produção anual adicional de cana-de-açúcar será de 58.035.000 T, com uma área adicional de cana de 870.525 ha., que representa apenas 1,67% da área utilizada para agricultura, e 0,23% da área potencial disponível para agricultura. A quantidade de usinas energéticas de álcool a serem implantadas, será de 32 usinas, com um investimento da ordem de US$ 2,9 bilhões. Para atingir a produção necessária até 2008, de 4.642.800.000 litros de álcool, deverão ser construídas de 5 a 6 usinas por ano, a partir de 2003, com capacidade de moagem de 1.800.000 T/cana/ano cada uma.

Estas usinas energéticas de álcool podem beneficiar tanto o Brasil quanto a Alemanha.

A Alemanha poderá fornecer os recursos financeiros para os investimentos das usinas energéticas no Brasil. O Brasil amortizaria o principal e juros e forneceria o álcool necessário para a redução das emissões de CO2 na Alemanha, atendendo ao protocolo de Kyoto.

Conforme se verifica, os benefícios oriundos de um acordo do tipo acima, são inúmeros, para ambos os países.

Para o Brasil, os principais beneficios são:

– a contribuição energética com a produção do álcool;

– os benefícios sociais, principalmente, o aumento de mais de cem mil novos empregos;

– os benefícios econômicos, sobre a balança de pagamentos e sobre a balança comercial;

– os benefícios ambientais pois esta produzindo uma energia limpa.

Para a Alemanha, os principais beneficios são:

– amortização do principal + juros do financiamento, proveniente das usinas energéticas financiadas;

– os benefícios sociais e ambientais através da mistura do álcool na gasolina, reduzindo a poluição decorrente das emissões veiculares nos centros urbanos, bem como reduzindo o CO2;

– os benefícios estratégicos, com a redução da dependência do petróleo;

– e o principal beneficio, que é o atendimento a seus compromissos internacionais decorrentes do protocolo de Kyoto.

Apresentamos apenas os benefícios de um acordo somente com a Alemanha. Estendendo esse acordo para outros países, como o Japão e os Estados Unidos, o potencial de desenvolvimento será muito maior.

Assim, conclamamos o novo Governo a procurar acordos deste tipo, que provocarão um desenvolvimento sustentado ao Brasil, atendendo:

– o aumento de novos empregos;

– o aumento do superávit da balança comercial;

– a melhoria da balança de pagamentos, além de

– contribuir também para o meio ambiente.

(Tarcisio Ângelo Mascarim é presidente do SIMESPI – Sindicato das Indústrias Metalúrgicas, Mecânicas, de Material Elétrico, Eletrônico, Siderúrgicas e Fundições de Piracicaba, Saltinho e Rio das Pedras)

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