Diversos estudos governamentais e análises acadêmicas evidenciaram a existência de um fantástico potencial, pouco explorado no Brasil, que é a produção de eletricidade, com queima do bagaço da cana-de-açúcar e posterior venda às concessionárias da distribuição. A exploração desse resíduo das indústrias sucroalcooleiras traz incontestáveis benefícios ao meio ambiente, agregando ao sistema produtor uma energia de custo competitivo com as demais ofertadas, imune às constantes variações dos preços do petróleo, gás natural, eólicas e solar. As indústrias do açúcar e do etanol produzem um considerabilíssimo volume de bagaço, que pode tornar-se um grande transtorno, no que tange ao seu armazenamento e disposição. – Daí, ao longo dos anos, as empresas do setor canavieiro dedicarem-se à instalação de sistemas de processamento, responsáveis pelo consumo de grande parte do bagaço, notadamente nas caldeiras, que estão exigindo modernizações tecnológicas, com vistas ao seu maior rendimento e eficiência. Destaca-se, desta forma, entre as demais energias extraídas da biomassa, o bagaço, ao lado da lenha, carvão vegetal, casca de arroz, babaçu e outras. Na próxima safra de 2012/13, o Brasil deverá colher perto de 600 milhões de toneladas de cana, com um crescimento ainda modesto, diante dos crescentes consumos do açúcar e do etanol. Caberá ao centro-sul brasileiro cerca de 90% da matéria prima produzida, entre nós, por mais de 300 usinas.
Falta-nos, uma firme e translúcida diretriz de comercialização da eletricidade do bagaço, em face dos seus incontestáveis benefícios de geração descentralizada e próxima aos pontos de carga das distribuidoras, bem como da oferta nos períodos de seca dos reservatórios das hidroelétricas. A efetivação da venda dos excedentes elétricos das indústrias canavieiras deverá repercutir, favoravelmente, na redução dos custos do etanol. Para a produção elétrica, com o uso do bagaço, são necessários investimentos menores àqueles voltados às térmicas de gás natural, eólicas, solares, óleo combustível, nucleares e hidroelétricas. Além de um prazo bem mais curto, de 18 meses, para o início de funcionamento e comercialização.
Existem vários estudos, no sentido do estabelecimento do fator de conversão da produção do bagaço, em função da tonelada da cana esmagada. Foi adotado o valor médio de 260 kg de resíduo seco/tonelada de cana produzida. Perto de 95% dos resíduos do bagaço gerados são, atualmente, queimados nas caldeiras para a produção de vapor nas usinas sucroalcooleiras e 5% podem ser destinados à geração elétrica. Largo período, o bagaço da cana-de-açúcar foi considerado um entrave para as indústrias. Para que não houvesse sobra, ele se queimava, predatoriamente, nas caldeiras. Podem, ainda, as indústrias co-geradoras de eletricidade beneficiar-se de créditos de carbono, diante dos mecanismos do protocolo de Kyoto. A fim de que haja o maior incremento na geração elétrica com o uso da biomassa da cana, torna-se imprescindível algumas condições. Com tais investimentos, as indústrias sucroalcooleiras poderiam gerar, adicionalmente, cerca de 15 mil MW, o equivalente à capacidade total de Itaipu.
Luiz Gonzaga Bertelli é presidente da Academia Pau