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Para preencher as vagas, vale até anúncio na missa

Em agosto do ano passado, o executivo Luis Felli, diretor de operação da ETH, viveu uma cena que poderia passar batido em qualquer outro canavial, mas que acabou sendo um divisor de águas para a companhia. Ao disparar um interrogatório sobre o andamento do negócio para a líder de frente de uma das usinas – até então habituada a só obedecer ordens -, ele não recebia nenhuma resposta. “Ela olhava para mim e não falava nada. Foi aí que resolvemos desenhar um novo programa de treinamento”, conta o executivo, que veio da Braskem.

A partir desse episódio, a ETH passou a levar para as usinas a filosofia do mestre de obras da empreiteira Odebrecht. “Há três, quatro anos, o líder de frente cortava cana. Agora, tem de conhecer a operação e fazer o processo andar, como se fosse o dono”, explica Felli.

O líder de frente é responsável por um grupo de 25 funcionários e um ativo de R$ 9 milhões (colheitadeiras, basicamente). Até o final da safra, que termina em março, 700 dos 947 líderes de frente passarão pelo treinamento. “No setor, as decisões estão nas mãos do dono. No nosso caso, tem de ser diferente. Só conseguimos crescer tão rápido por causa da cultura de delegação da Odebrecht”, diz Felli.

Os líderes de frente são apenas parte da história. Em quatro anos, a empresa teve de contratar um exército de 15 mil pessoas. Para preencher as vagas, a ETH anunciava em carros de som e até na missa principal das cidadezinhas. Como a maior parte das usinas está em regiões sem tradição de cana-de-açúcar, a tarefa de encontrar mão de obra mostrou-se ainda mais inglória. “Buscamos gente sem experiência, mas com vontade. Às vezes era babá, auxiliar de padeiro. Na unidade de Costa Rica (inaugurada na quinta-feira passada), tem uma faxineira que virou operadora de plantadora. Na família dela, todos agora trabalham na usina”, conta Genésio Lemos Couto, diretor de pessoas e sustentabilidade, que veio da Odebrecht em Angola.

Os operários foram treinados com ajuda do Sesi e do Centro Paula Souza. “O que realmente surpreende na história é a capacidade de encontrar e treinar pessoas”, diz Plínio Nastari, presidente da consultoria Datagro. Todos os municípios onde a ETH está presente têm uma população conjunta de 127 mil habitantes, pelos cálculos de Lemos. Só o quadro de funcionários da companhia responde por 12% desse total. / P.C.