Mercado

“Guerra” finda com alta

Os cuiabanos e os várzea-grandenses deverão preparar o bolso para o reajuste de preços dos combustíveis a partir da próxima semana. Cálculos apresentados pelo segmento revendedor não descartam patamares recordes de R$ 2,99 para o litro da gasolina e de até R$ 2,09 para o etanol hidratado nos postos Cuiabá e Várzea Grande. Em função de custos com frete, por exemplo, há cidades em que o litro do derivado de petróleo já ultrapassa a casa de R$ 3,30, como em Alta Floresta (800 quilômetros ao norte de Cuiabá).

Se as projeções se confirmarem – como os próprios frentistas alertaram no dia de ontem – chegará ao fim a competitividade do etanol frente à gasolina, já que o teto limite de 70% estará praticamente atingindo, pois o litro do primeiro representará 69,8% do valor de bomba do segundo. Para haver vantagem na preferência pelo derivado da cana-de-açúcar ele deve custar até 70% do valor da gasolina, visto que seu rendimento por quilômetro rodado é menor quando comparado ao derivado de petróleo.

A sensação de peso sobre o bolso poderá ser maior para os consumidores em função do fim da “guerra de preços”, que derrubou valores de bomba nas últimas três semanas, sucedido por uma alta geral. O sindicato acredita nestes patamares por considerar novas situações do mercado. A primeira é a recuperação automática das margens de lucros após a temporada de baixas. Segundo, a majoração do valor de pauta dos combustíveis aprovada pelo Conselho Nacional de Política Fazendária (Confaz) e por fim, reflexo da redução do percentual do etanol anidro na gasolina de 25% para 20%. Essa redução, em vigor desde o último dia 1°, não havia sido percebida pelos consumidores em função da “guerra de preços”.

Nas últimas semanas, por exemplo, o valor de bomba do etanol foi reduzido gradualmente de R$ 1,97 para R$ 1,84, passou a R$ 1,69 e em alguns momentos a R$ 1,64. Desde a última quinta-feira retomou o preço inicial médio de R$ 1,97. No mesmo período os preços da gasolina saíram de até R$ 2,89 para R$ 2,86, depois R$ 2,68 e até R$ 2,54, em Várzea Grande. Ontem vigorava R$ 2,87.

O vice-presidente do Sindipetróleo, Paulo Emboava, resumiu as últimas semanas de concorrência desleal: “preços predatórios”. Como completa, quando o mercado se aperta, como estava durante a “guerra de preços”, em algum momento os preços têm de voltar a um patamar que ofereça lucro, “é natural essa recuperação”. Ainda sobre o comportamento dos preços, Emboava frisa que preços altos não são bons para ninguém, nem para quem vende muito menos para quem compra. “Tem de haver equilíbrio aos dois lados”. O segmento se diz temeroso com o impacto dos novos preços, já que isso irá influenciar no volume de vendas.

O gerente de um posto na região da Avenida Miguel Sutil, em Cuiabá, que pediu anonimato, disse que o reflexo da alta é imediato no fluxo de vendas. “A pessoa vai continuar a abastecer R$ 30. Só que com a alta, os R$ 30 valerão menos e certamente, podendo, ela vai economizar e vamos vender menos”, alerta.

PMPF – O Preço Médio ao Consumidor Final (PMPF) é utilizado pela Secretaria de Estado de Fazenda (Sefaz) como base de cálculo para tributação de ICMS. É sobre esse valor que se coloca a alíquota e cobra-se o ICMS. No Estado, as alíquotas são de 25% sobre o etanol e a gasolina e 17% sobre o óleo diesel. De todos os valores em vigor no mercado mato-grossense (na bomba), a Sefaz/MT extrai uma média e é essa média que receberá a incidência das alíquotas de cada combustível para cobrança do ICMS.

O novo PMPF entra em vigor no dia 16. A pauta do óleo diesel passa de R$ 2,2382 para R$ 2,4941. Essa variação de 11,4% pode afetar em pouco mais de R$ 0,04 o preço do litro do óleo diesel nas bombas. O PMPF do etanol em R$ 1,8759 passará a R$ 2,3016, um reajuste de 22%, sendo que nas bombas o impacto pode alcançar R$ 0,10. Quanto à gasolina, o PMPF de R$ 2,8685 e será de R$ 2,9952. Neste último caso, o impacto pode ficar em, aproximadamente, R$ 0,03 nas bombas.

CIDE – A redução da alíquota da Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico (Cide) na importação e comercialização da gasolina poderá ser mascarada pela redução do percentual de etanol anidro, o que automaticamente, deixará o litro mais caro. A expectativa do mercado é de que em cada litro, a desoneração seja de R$ 0,04, já que o imposto passará de R$ 0,23 para R$ 0,19. Mas na prática esse valor poderá não ser observado. O valor da Cide sobre a gasolina de R$ 230 para R$ 192,60 por metro cúbico. “Os efeitos da medida são ainda uma incógnita, pois a redução do preço ao consumidor depende de repasses em toda a cadeia que integra o combustível”, frisa o Sindipetróleo.