Mercado

Nafta perde espaço para gás e etanol no Brasil

A nafta começa a perder espaço nos investimentos de novas matrizes petroquímicas do Brasil. Os atuais projetos em andamento para a construção de unidades produtoras de eteno e propeno, principais matérias-primas de resinas plásticas, estão focados em novas fontes, como o gás natural e o de refinaria (“offgas”), além do etanol.

As futuras centrais incluem o Comperj (Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro), da Petrobras, uma fábrica de polipropileno (PP) verde da Braskem, e o Complexo de Santa Vitória, joint venture entre a Dow Chemical e a trading japonesa Mitsui, para a produção de polietileno (PE) verde. Juntos, esses projetos estão estimados em cerca de US$ 13 bilhões e deverão entrar em operação nos próximos anos.

O Comperj, a maior central petroquímica em construção no país, está sendo desenhado para que a proporção nafta/gás fique em 30% e 70%, respectivamente, afirmou ao Valor Paulo Roberto da Costa, diretor de abastecimento da Petrobras. Pela configuração atual, o Comperj, localizado no município de Itaboraí (região metropolitana do Rio), começa a operar no fim de 2013. No início, vai produzir combustíveis, especialmente querosene de aviação (QAV), em uma refinaria com capacidade para processar 165 mil barris de óleo por dia. Essa unidade, assim como a segunda refinaria que deverá entrar em operação no fim de 2018, tem controle exclusivo da Petrobras.

Projetos do Comperj, de polietileno e de polipropileno verde alteram perfil dos investimentos no país

A segunda etapa vai englobar uma unidade de petroquímicos básicos (eteno, propeno, benzeno e outros) e unidades de produção de petroquímicos de segunda geração, especialmente as resinas que fazem parte do portfólio da Braskem. Atualmente, de acordo com Costa, 25% da obra da primeira refinaria está concluída.

Neste mês, a Braskem deverá definir como será sua fatia na fábrica petroquímica do Comperj. O conselho de administração da companhia nacional aprovou em março a participação da companhia nesse empreendimento.

A expectativa, quando estiver a pleno vapor, é que a petroquímica do Comperj tenha capacidade de produção anual para 900 mil toneladas de polipropileno, 960 mil toneladas de polietileno, 154 mil toneladas de butadieno, 400 mil toneladas de estireno, 380 mil de etilenoglicol, 355 mil toneladas de benzeno e 480 mil toneladas de p-xileno. O projeto inicial, que estava estimado em US$ 8,5 milhões, foi reavaliado. Fontes do setor estimam que o aporte total nesse complexo deve ficar em US$ 11 bilhões. A Petrobras não confirma esses investimentos.

Com o Comperj em operação, o gás natural ganha maior espaço na matriz petroquímica brasileira. “Os investimentos futuros não consideram plantas de nafta. Essa é uma tendência global e não será diferente no Brasil”, afirmou Otávio Carvalho, diretor da consultoria petroquímica Maxiquim. O etanol também começa a ganhar maior participação nos projetos de PP e PE verdes no Brasil. Pelo menos dois grandes empreendimentos em resinas verdes deverão elevar a importância do etanol como matriz petroquímica. “A tendência é que novas fábricas sejam construídas no Brasil, com matriz petroquímica diversificada.”

Conforme Costa, diretor de abastecimento da Petrobras, proporção de nafta e gás natural do Comperj será de 30% e 70%

Atualmente, a capacidade de produção de nafta para a produção de eteno está em 77% do total, informou Carvalho. O gás natural responde por 13%, com produção localizada na unidade da Braskem no Rio de Janeiro, a RioPol; e 5% de etanol – na fábrica de polietileno verde da Braskem no Rio Grande do Sul. Com os investimentos em curso no Comperj e os projetos da Dow e Braskem, a nafta para eteno reduzirá sua participação dos 77% para 55%.

Em Minas Gerais, na cidade de Santa Vitória, no Triângulo Mineiro, as multinacionais Dow e Mitsui, com 50% de participação cada uma, vão construir um complexo petroquímico verde envolvendo uma usina de etanol e uma fábrica de biopolímeros para a produção de polietileno. A fábrica deverá entrar em operação em 2013, com capacidade de até 350 mil toneladas por ano. O projeto está estimado em US$ 1,5 bilhão, mas ambas as companhias não confirmam valores.

“O polipropileno (PP) verde também será uma das alternativas para o futuro”, disse ao Valor Manoel Carnauba, vice-presidente de petroquímicos básicos da Braskem. A petroquímica, que está avaliando como será sua participação no Comperj, trabalha em paralelo para a produção de matérias-primas para a industrialização de resinas verdes. Maior petroquímica das Américas, a Braskem está diversificando sua matriz, com o projeto “Etileno 21” no México, com gás natural. Na América do Sul, os projetos do grupo na Venezuela, Peru e Bolívia, menos adiantados, contemplam gás natural, reduzindo a dependência da companhia em relação à nafta.

“As grandes oportunidades hoje são o gás e o pré-sal dará munição para isso”, afirmou. A Braskem deverá anunciar uma fábrica de polipropileno verde nos próximos meses, em um investimento que deve somar R$ 170 milhões. A expectativa é que essa unidade seja construída em um dos atuais polos de produção da Braskem, perto da região produtora de cana do Centro-Sul do Brasil, com capacidade para 30 mil toneladas/ano. Desde o fim do ano passado, a petroquímica colocou em operação sua planta de polietileno verde, em Triunfo (RS), com capacidade para 200 mil toneladas por ano.

A capacidade atual de produção de nafta para a produção de propeno está mais equilibrada: 50% para a matéria-prima nas unidades da Braskem e 50% nas refinarias da Petrobras. “A matéria-prima vem de duas fontes básicas: nafta e gás de refinaria. A Petrobras ainda precisa definir como será a proporção de gás de suas refinarias do Comperj para propeno. Esse balanço ainda não está fechado”, disse Carvalho, da Maxiquim. A capacidade produtiva de propeno no país hoje é de 2,75 milhões de toneladas/ano.

Segundo Costa, da Petrobras, não há projetos em curso para a produção de propeno a partir da nafta pela estatal. O Brasil é atualmente o único exportador de propeno da América Latina. No ano passado, as vendas externas foram de 166 mil toneladas, segundo a Maxiquim.

Todos os projetos de propeno base refino que estavam em andamento no Brasil foram completados em 2009, segundo a Maxiquim. O último foi a Refinaria Presidente Getúlio Vargas (Repar), em Araucária (PR).