Mercado

País deve ser prioridade da política externa, dizem empresários dos EUA

Decidida a não deixar que o Brasil saia das prioridades da política externa dos Estados Unidos nem perder espaço no mercado brasileiro para os competidores estrangeiros, a influente Câmara de Comércio dos Estados Unidos pretende comandar o lobby no Congresso americano para acabar com subsídios e taxas que distorcem o comércio do etanol e de outros produtos, como o algodão, informou o vice-presidente da instituição, Myron Brillant. Em contrapartida, as empresas americanas querem maior engajamento do setor privado brasileiro em demandas “estratégicas”, como o tratando bilateral para evitar bitributação entre os dois países.

“Precisamos eliminar o subsídio ao etanol e fazê-lo na lei agrícola já do próximo ano, agora que o Congresso (dos EUA) está bem mais disposto a encarar essas questões”, comentou. Brillant cobrou maior “ambição” dos governos e do setor privado brasileiro para garantir mais resulta dos da cooperação econômica entre os dois países, antes mesmo da visita da presidente Dilma Rousseff aos Estados Unidos, no início do próximo ano.

Brillant, que dedicou a semana a um roteiro de contatos com executivos e autoridades entre São Paulo, Brasília e Rio, diz que é preciso, porém, consolidar uma “visão estratégica” para a atuação dos dois países, enquanto se resolvem “questões táticas”, como o fim dos subsídios ao etanol americano – que ele quer ver decidido já na próxima lei agrícola dos Estados Unidos, a ser votada em 2012. As oportunidades de negócio em infraestrutura, inovação e tecnologia e a consolidação dos competidores asiáticos e europeus no mercado brasileiro estão entre as razões do esforço da Câmara de Comércio para garantir ao Brasil a atenção e interesse do governo dos Estados Unidos.

“Os Estados Unidos sempre olham para a Europa e começam a olhar mais a China, mas seria um erro subestimar o potencial do Brasil nas questões internacionais”, argumenta.

Entre as questões “táticas” os executivos americanos apontam a necessidade de evitar que o Congresso americano volte atrás no acordo sobre subsídios ao algodão, que garantiu redução dos benefícios aos produtores americanos e financiamento de pesquisas no Brasil. Mas também reivindicam maior “flexibilidade” nas exigências de conteúdo local nas compras beneficiadas pelo programa de apoio à exploração do petróleo da camada do pré-sal.

O interesse dos empresários americanos se volta até para áreas pouco exploradas na relação bilateral, como a atuação nos órgãos internacionais encarregados da padronização de normas técnicas. O Brasil tem evitado participar de órgãos em que as regras parecem contrariar padrões adotados nacionalmente, mas deveria, em vez disso, engajar-se mais para atuar com parceiros como os Estados Unidos na conformação dessas regras, sugere o diretor-executivo da seção americana do Conselho Empresarial Brasil-Estados Unidos, Steven Bipes. “Equipamentos médicos são um dos setores onde o Brasil poderia atuar”, exemplifica.

“Se olharmos qualquer assunto, hoje, seja a Rodada Doha, na Organização Mundial do Comércio, seja energia, mudança climática, infraestrutura ou segurança no ciberespaço, o Brasil tem atuação cada vez mais forte e potencial de impacto nas percepções regionais e globais”, comenta Brillant, para quem essa situação não ocorria havia dez anos. “O Brasil é mais capaz e interessado em modelar as questões globais do que nunca antes.”

Os executivos americanos reconhecem que, embora mantenha seu poder no cenário global, os Estados Unidos têm sido obrigados a ceder espaço para outros atores, como a China, e que há uma acumulação de preocupações sobre a agenda do governo americano, além dos problemas econômicos, como as duas guerras, no Iraque e no Afeganistão, as delicadas relações com a China e a situação do Oriente Médio. O Brasil deve ser chamado a atuar como parceiro nessas questões geopolíticas, defende Brillant.

Diferentemente do setor privado brasileiro, que tem pressionado o Congresso para contestar o tratado de troca de informações fiscais entre o Brasil e os Estados Unidos, por temer violação do sigilo fiscal, os executivos da Câmara de Comércio americana defendem que o acordo seja aprovado, como passo importante para o futuro tratado contra bitributação.