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Vantagem perto do limite

O preço do litro do etanol hidratado, em Cuiabá, vai fechar o mês de agosto com tristes recordes ao consumidor. Além de acumular alta de 86% em dois anos, um novo reajuste de preços elevou o valor de bomba para um dos maiores níveis já registrados para este período: R$ 1,99. E para fechar o ciclo de “inferno astral” do combustível, em plena safra ele pode deixar de ser competitivo em relação à gasolina, pois na comparação de preços, o hidratado atinge 69% do valor do derivado de petróleo, num teto limitado a 70%.

A ameaça à competitividade começou no último final de semana quando os preços do litro do etanol começaram a ser reajustados nos postos de Cuiabá e Várzea Grande, passando de cerca de R$ 1,65 a R$ 1,67 pa ra valores entre R$ 1,98 e R$ 1,99, alta de R$ 0,32, ou, 20%. A alteração atingiu também a gasolina que cedeu de R$ 2,67 para até R$ 2,89, majoração de R$ 0,22, ou, 8,23%. No caso do etanol, a diferença de preços pode indicar um desembolso de R$ 15 a mais para cada 50 litros, ou, a cada ´tanqueda´.

A vantagem do etanol sobre a gasolina só existe quando o valor de bomba do primeiro atinge até 70% do valor do segundo, pois motores movidos a etanol queimam mais combustível e por isso rendem menos em relação ao derivado de petróleo. Diante dos novos valores exibidos pelo varejo, o etanol está, em plena safra da cana-de-açúcar, muito perto do limite de 70% ao representar quase 69% do preço de bomba da gasolina. A vantagem que em anos anteriores só começava a ser ameaçada após o fim da moagem da cana, a partir de dezembro, dá sinais de que virá muito antes. Em geral, para saber qual dos dois combustíveis é mais vantajoso na relação custo-benefício, basta dividir o valor de bomb a do hidratado pelo da gasolina e multiplicar o resultado por 100. Até 70% a preferência deve ser pelo hidratado, acima disso, a gasolina é a melhor opção para cada quilômetro rodado.

AMEAÇA – Na edição do último domingo, o Diário chamou a atenção para escalada de preços do litro do etanol durante a safra da cana. Em agosto de 2009, o valor de bomba teve média de R$ 1,07. Ao comparar com o preço atual (R$ 1,99), a majoração sobe para 86%. E segundo o setor produtivo não há previsão de reversão no quadro. Em decorrência da seca que castigou a safra mato-grossense a partir do segundo semestre do ano passado, há perdas de cerca de 5,5% sobre a produção de cana, mas o impacto da seca sobre o produto, ou seja, etanol e açúcar, ainda não está mensurado. “Fora a perda consumada, a atual estiagem pode comprometer o restante da safra. Isso aliado aos entraves que podem prejudicar o plantio em janeiro, fevereiro e março do ano que vem, não teremos apenas a safra de 2011 e de 2012 comprometida, como também a de 2013, já que a cana precisa de 18 meses para poder ser colhida. Diante deste retrato atual, fica evidente que a farra de preços vista em 2009, não vai mais se repetir”, explica o diretor-executivo do Sindicato das Indústrias sucroalcooleiras de Mato Grosso, Jorge dos Santos. Naquele ano, o etanol pôde ser encontrado na bomba por até R$ 0,99.

Ainda como explica Santos, os preços em adoção até o ano passado, sempre abaixo de R$ 1,50 na bomba, eram valores irreais que não remuneravam as usinas, as distribuidoras e nem as revendas. “Aliás, abaixo de R$ 1,60 na bomba, não há remuneração para nenhum elo”. E foi justamente a falta de remuneração, como frisa Santos, que deixou o setor produtivo sem condições de investimentos, “a farra de preços comprometeu o futuro, e esse futuro é justamente o agora”.

Nos próximos dias, o segmento se reunirá para avaliar os impactos das perdas de produç ão sobre os produtos. Segundo Santos, existem duas questões cruciais que precisam de respostas e que poderão decretar a tônica das próximas duas safras, de 2012 e de 2013. “Qual é o impacto da perda de 5,5% sobre a produção de etanol e de açúcar e ainda, saber até quando a nossa safra vai, já que temos menos cana para colher. Em São Paulo, por exemplo, a safra terminará um mês antes, já em outubro”.

ALTA – Em nota, o Sindicato do Comércio Varejista de Derivados de Petróleo, Gás Natural e Bicombustíveis de Mato Grosso- (Sindipetroleo) esclarece que o aumento de preços é na verdade um repasse de alta vinda das distribuidoras. “Alguns postos ainda não alteraram os valores, porque contam com estoque antigo. Para não entrarem no vermelho, estes postos poderão alterar os preços conforme os valores repassados pelas distribuidoras na próxima aquisição de combustível”, o que ocorrerá no decorrer desta semana. O presidente da entidade, Aldo Locatelli, frisa que “a revenda está inse rida numa cadeia. Quando os preços são reajustados nas usinas, altera-se o preço nas distribuidoras, não sendo possível que os postos ignorem essas alterações, pois ele precisa manter o seu negócio”.