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“Temos de mostrar que etanol é um bom negócio”

Transformar o arroz excedente no Estado em etanol. Essa é a proposta de entidades ligadas à lavoura arrozeira que buscam alternativas para amenizar os prejuízos causados ao produtor em virtude do preço baixo do grão e garantir melhores rendas nos próximos anos.

A Agência de Desenvolvimento de São Borja (ADSB) está elaborando projeto que estuda a viabilidade da implantação de biorefinarias de etanol de arroz no Rio Grande do Sul, e que deve destinar de um a dois milhões de toneladas de arroz para a produção de 450 milhões a 900 milhões de litros de etanol ao ano. Os recursos para a execução desse projeto, que tem o apoio de produtores, indústrias de beneficiamento e empresas identificadas com o setor, estão na ordem de R$ 300 mil.

Roberto Hukai, presidente da Technoplan, empresa que atua na área de consultoria, está desenvolvendo os estudo e concedeu entrevista à Zero Hora.

Zero Hora – Qual o potencial do Rio Grande do Sul para a produção de etanol de arroz?

Roberto Hukai – O consumo de etanol no Estado, hoje, é de 1 bilhão de litros por ano. Com 2,5 milhões de toneladas de arroz, que é o excedente no Rio Grande do Sul, será possível produzir mais de 1 bilhão de litros. Como existe a previsão de um excedente de 8 milhões de toneladas até 2020, poderemos produzir mais de 3,5 bilhões de litros. Portanto, ao invés de o Estado importar 90% do etanol, poderá exportar dois terços da produção.

ZH – Em quanto tempo o Estado poderá iniciar a produção?

Hukai – Com o desenvolvimento do estudo teremos o primeiro cronograma, mas posso adiantar que a construção de uma usina para essa finalidade leva cerca de três anos.

ZH – Qual o custo que o Estado terá com a construção de usinas?

Hukai – O custo de capital da usina de etanol de arroz é cerca de 40% menor do que o custo de capital do etanol de cana-de-açúcar, que chega a aproximadamente US$ 800 por metro cúbico. A de arroz deve ficar entre US$ 500 e US$ 600. Esse valor é menor, pois no caso da cana, o uso da usina se dá em sete meses, já no arroz, será todo o ano. Agora, veja bem, não prometo produzir etanol de arroz, pela metade do preço. Não é isso. O custo de capital em termos de investimento é que é bem menor. Temos de mostrar (aos banqueiros) que esse é um bom negócio. O objetivo é colocar o estudo num modelo para que a comunidade financeira veja isso como uma ótima oportunidade. É uma nova vertente de negócios que pode se tornar uma indústria muito importante para o Estado e o Brasil.

ZH – De que forma o etanol pode ser utilizado na indústria?

Hukai – O etanol, além de combustível, é um produto que pode ser utilizado na indústria farmacêutica, de cosméticos, de bebidas e, principalmente, na alcoolquímica.

ZH – É possível conciliar a produção do arroz como alimento e também como etanol?

Hukai – Sempre vai existir o temor da redução do alimento em prol de biocombustível. Por exemplo, na Índia, houve redução na produção de alimento para produzir cana-de-açúcar, esse foi claramente um conflito. Nos EUA, que produz 40% do milho do mundo, grande parte do grão foi desviado para produzir bioetanol. Agora, no caso do Brasil é diferente, pois o país tem, só de pastagens, 220 milhões de hectares. Portanto, aqui não existe essa questão. O Rio Grande do Sul tem potencial para se tornar um grande produtor de etanol e de arroz. O etanol de arroz é nobre, mais refinado quimicamente, com menos impurezas.

ZH – Quantas usinas precisariam ser construídas no Estado?

Hukai – No momento, não é possível afirmar a quantidade ideal, mas a economia de escala é uma das coisas em estudo. Precisamos ver um tamanho em que a escala de produção seja economicamente viável. Aí teríamos o tamanho mínimo. Eu construiria as usinas na metade-sul e na região de Uruguaiana e São Borja.