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Produção do etanol: o quanto precisa crescer

A crise mundial do petróleo em 1973, com suas graves consequências econômicas no Brasil, altamente dependente do produto, provocou necessidade urgente de criação de um novo combustível. Nossa imensidão de terras agriculturáveis, e conhecimento técnico, induziram o governo a criar, em 1975, o Proálcool. Programa que incentivava a instalação de destilarias em todo o Brasil com aumento na produção do etanol. Fomentou-se também a produção de carros movidos a etanol. Tais ações diminuíram a dependência do petróleo, e deram ao Brasil visibilidade como o primeiro país a produzir combustível limpo e renovável, inclusive copiado por países desenvolvidos.

No entanto, logo na década de 80 faltou etanol no país. Necessitou-se importar este produto (parte originado de uvas) gerando descrédito em relação aos novos automóveis. Extremo paradoxo. Criador do progra ma, com imensas condições, importando produto de qualidade inferior, que tinha de passar por reprocessamento nas destilarias para atender as condições técnicas exigidas pelos automóveis.

Novo choque do petróleo, aliado às manifestações internacionais de apoio à produção do etanol pela sua importância para o meio ambiente, deram novo alento ao setor: aumento de produção, desenvolvimento de tecnologias quanto à produtividade, melhorias de motores, incentivos, etc. Voltamos a ser referência mundial no uso deste novo combustível. Iniciou-se aqui no país, adição do produto à gasolina, chegando hoje até 25% na proporção. Em 2003 foi lançado o carro Flex. Automóvel movido a etanol ou gasolina, de acordo com a conveniência econômica. Porém errou-se feio nas previsões de aceitação do novo carro. Ninguém poderia prever que só em 2010 já seriam vendidos quase três milhões do flex.

Este crescimento de consumo gerou recentemente nova falta do produto no país obrigando a importação d e grande volume (feito de milho) dos USA e provocando aumento no preço da gasolina. Novo paradoxo. O país que copiou o exemplo brasileiro, com condições bem mais adversas de produção e consequentemente custosas, agora sendo fornecedor.

À vista do que acontece hoje no Brasil em relação ao consumo e produção de etanol, temos que nos preparar para evitar um apagão no ano da copa (2014). Produzimos cerca de 16 bilhões de litros por ano. Temos 10 milhões de hectares com cana de açúcar. Parte desta cana é usada na produção do açúcar, que quando tem um valor de mercado mais atraente provoca aumento de sua produção e diminui a do etanol.

Projeta-se para 2014, consumo de 38 bilhões de litros de etanol hidratado. Teremos que duplicar a área plantada de cana de açúcar e mais que dobrar a produção. Tarefa quase impossível. Necessitam-se, pois, medidas imediatas. Com nossa terra, clima, tecnologia, experiência, podemos, no futuro, nos dar ao luxo de só usar energia limpa e ren ovável (biomassa, eólica, solar) e exportar o petróleo e derivados para os países carentes.

Eliezer Menezes

Economista

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