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Estudo vê desperdício de energia em canavial

Estudos do Centro de Tecnologia Canavieira de São Paulo comprovam: um verdadeiro tesouro está sendo jogado fora, todos os dias, quando o assunto é geração de energia. Trata-se da palha da cana-de-açúcar, hoje desprezada mesmo pelas usinas que produzem energia elétrica através da queima do bagaço da cana. A região de Ribeirão Preto pode, mais uma vez, servir de modelo para todo o setor sucroalcooleiro do País. Segundo o coordenador de pesquisas do CTC, Suleiman José Hassuani, o uso da palha na geração de energia pelas usinas de cana pode garantir eletricidade para até 13 milhões de residências. São, em média, 12,6 toneladas de palha desperdiçada por hectare.

A cada safra, ainda de acordo com ele, são 84 milhões de toneladas de palha deixadas nos canaviais brasileiros. Esse material seria suficiente, se utilizado em sua totalidade, para gerar pelo meno s 40 milhões de megawatts-hora, ou pouco menos da metade do que gera a usina de Itaipu. O total seria suficiente para abastecer Ribeirão Preto, Guarulhos, Campinas, São José dos Campos, São José do Rio Preto, Diadema e Sorocaba. “É produção de energia renovável, limpa e que pode contribuir com o faturamento das usinas mas que, hoje, está sendo desperdiçada”, crê o coordenador da secretaria, Ricardo Viegas.

Só as usinas da região de Ribeirão Preto, são mais de 3 milhões de toneladas de palha da cana desperdiçados a cada safra. Esse montante seria suficiente para abastecer completamente as 12 cidades da microrregião de Ribeirão Preto, que possuem uma população de um milhão de habitantes, por nove meses do ano. Ainda assim, a região é uma das únicas do país que, embora em pequena quantidade, já utiliza a palha da cana. Em março, a região de Ribeirão ganhou três usinas de geração de energia renovável. O investimento uma parceria entre a CPFL Paulista e usinas da região, prevê a produção a partir do bagaço da cana e irá gerar 145MW de energia, suficiente para abastecer as cidade de Ribeirão Preto e Sertãozinho durante todo o ano.

O empreendimento começou a funcionar em 2011 em parceria com as usinas da Pedra, em Serrana, Buriti, em Buritizal e Ipê, em Nova Independência. Os investimentos chegarão a R$ 366,5 milhões, com participação integral da CPFL nos três empreendimentos. Vale lembrar que a região de Ribeirão tem 1,7 milhão de hectares de cana, segundo a União de Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica).

Para o professor de economia Antonio Vicente Golfeto, que estuda o setor sucroalcooleiro há mais de três décadas, a utilização da energia de biomassa como forma auxiliar de geração de recursos foi pouco aproveitada até o momento, mas deve se tornar, nos próximos anos, parte importante do negócio. “A palha da cana era vista, até poucos anos, como um fator gerador de custo, já que era pre ciso separá-la da cana antes de moer. O mesmo acontecia com o bagaço, até pouco mais de uma década. Hoje, eles são fator de geração de renda e devem receber, acredito, cada vez mais atenção das usinas”, crê.

Realidade

Suleiman José Hassuani faz questão de ressaltar que, levando-se em conta as usinas que, hoje, já produzem energia, os projetos de geração de energia elétrica a partir da queima de bagaço de cana-de-açúcar, tornaram-se um diferencial para o desenvolvimento sustentável do País. Avaliações indicam que os canaviais brasileiros, hoje, teriam capacidade de gerar energia equivalente à cerca de 14.000 MW. Capacidade semelhante a da usina hidrelétrica de Itaipu.

Atualmente, porém, a participação da bioeletricidade na matriz energética brasileira é de 3%, o que equivale a aproximadamente 1.400 M.W. Estima-se que em 2020, serão 14.400 M.W. “A utilização da palha de cana é parte fundamental para que esse potencial seja alcançado”, ressalta. Vale lembrar que o processo mais utilizado e que ainda engatinha no Brasil é a queima do bagaço da cana. Das 432 usinas no Brasil, 100 tem co-geração de energia por meio do bagaço A palha de cana praticamente não é utilizada para a geração de energia, já que a maioria das indústrias canavieiras usa a palha como proteção para o solo dos canaviais.

Segundo um estudo da Escola Superior de Agronomia Luiz de Queiroz, vinculada à Universidade de São Paulo de Piracicaba, as usinas devem começar a pensar com mais cuidado esse hábito. “A queima do palhiço, dentro da quantidade preconizada pelo nosso estudo, é capaz de incrementar a produção de energia gerada hoje em pelo menos 70%”, comenta Manoel Almeida, pesquisador da Esalq.

Meio ambiente

Outro atrativo para a produção de energia elétrica a partir dos resíduos da cana é o apelo ambiental. Tanto que empresas que comprarem energia elétrica produzida em usina de cana poderão receber o Selo Verde a partir de agosto. Um protocolo de intenções foi assinado no último dia 6 de junho entre o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, e o presidente da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica), Marcos Jank. “A certificação é um reconhecimento da bioeletricidade como energia limpa”, afirmou Marcos Jank. Segundo ele, as usinas de cana estão preparadas para produzir uma quantidade de energia equivalente a três vezes a que será produzida pela Usina Hidrelétrica de Belo Monte. “Temos três usinas de Belo Monte adormecidas. Precisamos despertá-las”, finalizou ele.

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