Usinas brasileiras de cana, o mercado internacional de açúcar e analistas não ficaram sensibilizados pelas ameaças de governo de aumentar a oferta de etanol a qualquer custo, dizendo ideias como a tarifa de exportação de açúcar ou limitações para o financiamento na produção do produto seriam difíceis de implementar e poderiam não ter efeito no setor.
Analistas dizem que a tarifa poderia simplesmente provocar um aumento nos preços internacionais, dada a importância do Brasil no mercado, especialmente em um período de estoques apertados.
“Se eles (do governo) impuserem uma taxa sobre as exportações, aí os preços do açúcar vão subir”, disse Leonardo Bichara, analista da Organização Internacional do Açúcar (OIA), acrescentando que tal medida poderia resultar em menos incentivos para a produção de etanol.
Mas Júlio Maria Borges, diretor da consultoria Job Economia, disse que ainda é muito cedo para ter uma imagem mais clara sobre como o governo pode reorganizar a política para açúcar e etanol.
Nos últimos anos, o governo reduziu o porcentual de mistura do etanol à gasolina para 20 por cento ao lidar com o assunto. Mas as repetidas ameaças de impor tarifa sobre exportações de açúcar nunca se materializaram, e muitos analistas questionam a probabilidade de isso ocorrer em um momento no qual o superávit comercial do Brasil está diminuindo.
Analistas estão céticos sobre como o governo pode implementar medidas como levar usinas a priorizar a produção de etanol em detrimento do açúcar.
“Todas estas medidas que estão sendo avaliadas assustam investidores, embora eu não veja como isso poderá ser implementado”, disse Eduardo Pereira de Carvalho, diretor da Expressão, consultoria em processos de aquisições de companhias de açúcar e etanol.
No l ongo prazo, o etanol permanece de certa forma mais atrativo que o açúcar, e a capacidade industrial para produzir o etanol pode ser expandida – sem necessariamente às custas da produção do açúcar.
Uma oferta mais regulada de etanol, possivelmente através da formação de estoques pela Petrobras e a concentração das vendas na entressafra, pode significar menos volatilidade de preços, que é o maior problema atualmente.
Uma das medidas possíveis é a mudança do status de etanol para “combustível estratégico” em vez de commodity agrícola, o que significa que a Agência Nacional de Petróleo (ANP) pode manter controles sobre o setor da produção à distribuição.
“Se as regras da ANP para petróleo e diesel como compras programadas de distribuidores forem estendidas para o etanol, isto pode ser positivo … Será mudança para melhor”, disse Plínio Nastari, da consultoria Datagro.
Em todos as propostas estudadas, um grande problema prevalece para as usinas: a Petrobras mantém os preços da gasolina independentes das flutuações do mercado global, o que efetivamente funciona como um teto para os preços de etanol em que o biocombustível não pode competir.
“O apetite para novas usinas é muito baixo porque o etanol tem que competir com os preços controlados da gasolina”, disse o presidente da União da Indústria de Cana-de-açúcar (Unica).
(Reportagem adicional de Peter Murphy, em Brasília)