Mercado

Com início da safra, etanol pode ficar mais barato

Pela primeira vez na história do Real, o etanol chegou a R$ 2,299 em Sorocaba, segundo dados da Agência Nacional do Petróleo, Gás e Biocombustíveis (ANP). A situação preocupa consumidores e donos de postos de combustíveis. A boa notícia trazida pelo Sindicato do Comércio Varejista de Derivados de Petróleo do Estado de São Paulo (Sincopetro) é que o preço do derivado da cana de açúcar deve apresentar retração. Na última sexta-feira, o presidente do sindicato que reúne empresários do setor, Jorge Marques, falou com exclusividade ao Cruzeiro do Sul sobre a atual crise do etanol.

Marques informa que entre os dias 31 e 1º de abril algumas usinas anu nciaram etanol a preços mais baixos. Ele explica que provavelmente este fato seja consequência do início da safra da cana-de-açúcar, que começa este mês. Os consumidores, porém, deve demorar um pouco mais para sentir a retração. Há 25 anos no setor, o presidente do sindicato acredita que o mercado de combustível passou por um colapso momentâneo pela falta de etanol, fato que descobriu outro gargalo do País: a produção de gasolina. Confira a seguir os principais trechos da entrevista:

Cruzeiro do Sul – O pessoal está preocupado com o etanol. O preço deve continuar subindo?

Jorge Marques – Hoje já tem um fato novo. Alguns revendedores conseguiram comprar mais barato do que na última viagem que eles tinham comprado. Então, em primeiro de abril algumas usinas talvez revisaram os preços. É uma coisa recente e eu não posso afirmar que realmente vai começar a diminuir o preço.

CS-E este mais barato foi quanto?

JM – Houve uma redução na primeira oferta em torno de 10% e h oje um pouquinho mais. Isto de ontem para hoje (sexta-feira). Eles sempre falam que o início da safra é abril, maio. Então, quer dizer que se alguma usina começou antes, ela sai no mercado ofertando. Aciona todos os vendedores e fala “hoje eu estou vendendo neste preço”, daí a pressa é dela. Se ela não tem, não sei, às vezes, a logística para armazenar o produto, ela tem que fazer o escoamento do que ela já tem.

CS- E quando esta possível retração chega para os consumidores?

JM – Nos postos, a reação é um pouco mais lenta. Os postos estão estocados com etanol que eles compraram mais caro. Na bomba, então, ele vai vender este etanol e tem que esperar girar para começar a comprar. Este é um preço, mas ainda não houve a compra. Acho que no início da semana, já comece, talvez, uma tendência de queda. Eu estava agora mesmo conversando com um revendedor e ele também me falou que é possível que já haja uma pequena redução pois ele também recebeu esta cotação hoje. Os repasses são gradativos, não são lineares do tipo recebeu 10% repassa 10%. Ele faz uma composição, às vezes até para recompor uma margem que ele perdeu até porque essas duas últimas semanas foram extremamente ruins para os postos.

CS- Por que?

JM – Porque temos uma situação absurda. Você pega uma situação do dia 28 de fevereiro a pessoa ter vendido o etanol a R$ 1,80 na bomba. No dia 28 de março ele estava pagando R$ 2,02 para comprar. Então quer dizer que ele vendeu há um mês, ainda não recebeu no caso de uma venda de cartão e ele não tem dinheiro para comprar a mesma quantidade. Ele tem uma margem operacional. Ele trabalhou de graça. Foi extremamente nocivo.

CS – Isto acontece todos os anos? Como o empresário se prepara para este período de entressafra?

JM – Ficou bem característico que entre novembro e começo de abril é o período de entressafra então o pessoal já está mais ou menos preparado para isto, mas não nesses índices que aconteceram neste ano. Neste ano fico u muito claro… no ano passado houve uma redução de anidro para aumentar a oferta no mercado e diminuir o preço. Este ano não, o governo usou esta política de aumento de preços para inibir o consumo de uma forma drástica e foi o que aconteceu.

CS – Mas por que o governo quis frear o consumo?

JM – Ao invés de diminuir o percentual de anidro (na gasolina) ele fez um cálculo de que não ia dar a quantidade de anidro no mercado. Eles acompanham semana por semana e chegaram à conclusão de que não ia dar. Já está sendo feito uma importação do etanol que vai funcionar como uma reserva e de gasolina também. Aqui nós temos que sair do âmbito municipal e ir para o macro, para a ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis)… Foi uma medida muito drástica.

O preço nunca passou da casa dos R$ 2 e criou uma séria de consequências. O consumidor migrou de forma maciça para a gasolina e aí apareceu um outro gargalo, o da gasolina. A Petrobrás está trabalhando na capacidade máxima e já fez também uma importação de gasolina para ter estoque. Aí por uma consequência cruzada, a gasolina subiu por conta do aumento do álcool. O governo repassa também em função da guerra na Líbia, o barril do petróleo… sempre justifica alguma coisa.

CS – Teve queda no consumo de etanol em Sorocaba?

JM – Caiu uns 50%. Eu não tenho esses números em litros para te informar, mas pelo que o pessoal passou foi um verdadeiro tombo.

CS – Quantos postos nós temos em Sorocaba? Quantas pessoas trabalham no setor?

JM – Hoje nós temos 115 postos. A gente pode fazer uma média de dez pessoas por posto, mas temos postos que empregam mais de 50.

CS – Esta crise do etanol pode provocar algum impacto como fechamento de postos ou demissão de funcionários?

JM – Não, eu acho que não. O posto também vende outros combustíveis e você continua precisando da mesma mão de obra. O que a gente pode resumir desta situação é que foi uma desorganização momen tânea, meio um colapso pela falta de um produto muito representativo na matriz o governo, como forma de não haver o desabastecimento empurrou todo mundo para a gasolina.

CS – Há quanto tempo você está no setor?

JM – Estou há pouco tempo, 25 anos.

CS – Você já viu alguma situação parecida?

JM – No caso do etanol, nos anos 90, houve falta do produto na época do Collor. Houve um problema sério pois ele sequestrou todo o dinheiro do povo e foi bem nesta época da entressafra. Não tinha álcool e eles ainda levaram o dinheiro embora. Não tinha dinheiro e não tinha álcool. No dia seguinte todo mundo tinha R$ 50. Nesta época eu tinha um posto e aconteceu uma coisa engraçada. Eu estava em uma cidadezinha que tinha três postos e quando ele assumiu e decretou este plano. Como o combustível sempre foi caro – para você comprar um caminhão era complicado – as pessoas ficaram com medo pensando que o prazo de pagamento é bem curto, mas e se não vender?

O consumidor não tin ha dinheiro e os donos de postos ficaram com medo, então recusavam o produto. Na ocasião, não tinha álcool e estava todo mundo sem dinheiro e eu pensei que a gente tinha que quebrar isto daí. Então conversei com o gerente do Banco do Brasil e ele falou “manda ver que eu seguro”. Liguei para um rapaz que eu conhecia em uma rádio e disse: “se você quiser anunciar, é serviço de utilidade pública. Diz que o posto tal, está recebendo um caminhão de álcool”. Só que a gente só vendia à vista e quando encostou o caminhão vendemos tudo em uma tarde. Foram 15 mil litros, era fila de virar a quadra. Então a gente já tinha dinheiro para comprar outro (caminhão).

CS – Quantos postos nós tínhamos na cidade em 2009?

JM – É um número que eu não tenho pronto pelo seguinte: houve um trabalho, uma fiscalização muito forte da Secretaria da Fazenda para normalizar o mercado. O “De olho na bomba”. Inclusive eu queria até destacar o excelente trabalho da Secretaria da Fazenda. Nossa regional foi bastante atuante então, nosso índice de não conformidade é bem baixo. Teve o fechamento de uma rede com 13 unidades na região. Eles fizeram um trabalho longo até conseguir esta determinação. Inclusive foram feitas mudanças nas atribuições e a secretaria agora também tem a atribuição de fiscalizar o volume. A gente tem tido informações de fraudes, às vezes, no volume. São Paulo tem detectado muito este problema. O pessoal estava muito focado na adulteração que, de uma forma ou de outra, tem como você comprovar, agora o volume é uma fraude meio estranha. Foram descobertos sistemas supercomplexos, coisa de engenharia mesmo, não é fraude de pé-de-chinelo.

CS – Qual o papel do sindicato?

JM – O nosso papel é de fazer um trabalho de encaminhamento, conscientizar os setores, as autoridades, trazer e levar informações. A gente está sempre atualizando os nossos revendedores de todas as mudanças. Este é um setor muito regulado pelo governo, sempre foi. A gente é bastante cerc ado. Estamos sempre fazendo reuniões com os associados falando de leis ambientais, comerciais, trabalhistas que vão surgindo, para manter o revendedor atualizado. Temos uma pessoa que faz visitas periódicas aos associados e temos uma série de serviços que são oferecidos aos nossos revendedores. São 31 cidades com mais de 300 postos na nossa área de atuação. Fazemos reuniões mensais nessas regiões. Vamos fazer uma agora dia 13 com o assunto da Nota Fiscal Eletrônica.