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Açúcar sobe 10% e afeta preços de refrigerantes, doces e sorvetes

Os bolos e doces feitos pela dona de casa Marinelma Gomes, presidente da Associação de Donas de Casa da Bahia, para comemorar os recém-completados sete anos da entidade, foram aprovados pelos que participaram da celebração. Porém, o efeito sentido no bolso de quem organizou a festa não teve o mesmo sabor doce. “Quando há um aumento de preço em um item tão essencial, como o açúcar, quem cuida do lar é o primeiro a sentir”, garante Marinelma, que precisou comprar 30 quilos de açúcar durante os preparativos da festa e se deparou com preços nada saborosos.

Segundo especialistas consultados pelo CORREIO, uma série de fatores, como o fim da safra da cana-de-açúcar do período 2010/2011, a crise internacional na oferta do produto (causada, sobretudo, por fatores climáticos que afetaram a Índia nos últimos anos), as chuvas de 2009 e a seca de 2010 no Sudeste do país, além da falta de investimento interno na lavoura levaram a uma alta no preço do açúcar, que já chega a 10% nas usinas.

“Nós evitamos repassar os preços para os produtos, mas a alta do açúcar já beira os 10% nos supermercados. Além disso, já afetou o setor de bomboniere (balas e doces) em cerca de 7%, bem como as misturas para bolo”, explica o diretor comercial do Atakarejo, David Barbuda.

O aumento no preço da produção do açúcar cristal, o queridinho da região Nordeste, chegou a 20,43% nos últimos 12 meses, de acordo com o Índice de Preços ao Consumidor (IPC-DI), divulgado pela Fundação Getúlio Vargas (FGV). “É difícil evitar um repasse aos produtos finais com um aumento desses ”, admite o economista André Braz, pesquisador da fundação.

Para ele, no entanto, o aumento só não é mais preocupante porque o açúcar refinado, mais consumido no Sudeste do país e considerado indicador de inflação, teve queda de 1,95% no mesmo período.

Outro produto que tem o açúcar em seus ingredientes e apresentou alta nos preços é o sorvete. A Fábrica de Sorvetes, sediada no bairro de São Cristóvão, reajustou, no início de março, o valor do produto em 11%. O pote de 10 litros, que custava R$ 45, agora está R$ 60.

“No início de 2010, a saca de 50 quilos de açúcar custava R$ 65, e agora já sai por R$ 100. Além disso, as polpas de fruta, essências e coberturas também sofreram alta”, argumenta Eduardo Costa, proprietário da fábrica.

E não é só isso. Por conta da alta do açúcar, os ovos de páscoa estão, este ano, até 4% mais caros e a garrafa pet de refrigerante de dois litros sofreu um aumento de 18%, passando de R$ 3,29 para R$ 3,89.

Para o dir etor de relações institucionais da Agrovale, maior produtora de açúcar da Bahia, Carlos Gilberto Farias, a alta tem causas internas e externas, e estimula os usineiros a produzir mais açúcar, mas acaba prejudicando a oferta de etanol, por exemplo.

“No momento da moagem da cana-de-açúcar, algumas fábricas, de produção reversível, podem escolher produzir álcool ou açúcar. O segundo tem compensado”, assegura.

Preço do etanol fica mais caro em todo o país

Um dos itens que mais pesaram no bolso do consumidor foi o etanol, cujo aumento chegou a 14% em março, nos postos do todo o país, de acordo com dados da Agência Nacional de Petroleo (ANP). Em média, o preço do combustível chegou a R$ 2,10 em março, contra R$ 1,891 em fevereiro.

Na comparação com março de 2010, o aumento foi 14,56%. Já a gasolina ficou em R$ 2,661 no mês passado, contra os R$ 2,615 de fevereiro, o equivalente a uma alta de 1,76%. “Além do aumento do açúcar, muitos outros fatores desaceleraram a pr odução do etanol, como a falta de investimento do setor privado na lavoura e as duas últimas safras frustradas por questões meteorológicas”, explicou Sérgio Prado, representante da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica) em Ribeirão Preto. Em Salvador, o litro do etanol já chega a R$ 2,40.