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Vinhaça ajuda a despoluir água têxtil

Até o fim do ano, um novo método de tratamento de efluentes da indústria têxtil, que utiliza a vinhaça proveniente da agroindústria da cana-de-açúcar, deve estar disponível no mercado. Em estudo há cerca de oito anos no laboratório de Ecologia Aplicada do Centro de Energia Nuclear na Agricultura, da Universidade de São Paulo (Cena/USP), em Piracicaba (SP), o procedimento dispensa o iodo ativado, produto amplamente empregado pela indústria têxtil, mas que gera um resíduo altamente tóxico, cujo destino são aterros industriais.

O processo, segundo explica a professora orientadora do estudo, Regina Teres a Rosim Monteiro, consiste na aplicação de enzimas na água contaminada com o corante índigo, que, embora de difícil degradação é o mais utilizado pela indústria têxtil. Ao entrar em contato com a água, essas enzimas aceleram o processo de degradação dos poluentes, resultando no rápido clareamento da água. “Se essa água escuro for despejada direto no ambiente, ela prejudica a fotossíntese dos organismos do meio receptor”, explica. “Com o tratamento, após 15 dias, o nível de toxicidade da água cai para zero.”

Fungos. A produção das enzimas usadas na despoluição dos efluentes é feita na vinhaça, resíduo obtido em altos volumes durante o processo de fermentação da cana. Conforme Regina, isso é possível por meio da utilização de fungos do gênero Pleurotus, que quando cultivados na vinhaça produzem as enzimas. “Inicialmente nós utilizávamos os fungos como agentes despoluidores. Mas percebemos que as enzimas eram muito mais eficientes quando entravam em contato com os resíduos têxteis.”

A pesquisa também se debruça sobre o tratamento da vinhaça. Segundo Regina, ao utilizá-la para produzir as enzimas necessárias para a despoluição do corante índigo, a pesquisa está conseguindo, também, o clareamento e a diminuição do odor do produto.

“Para produzir 1 litro de etanol, geram-se cerca de 9 litros de vinhaça. Parte disso volta para o ambiente em forma de adubo. O problema é que não é possível dar esse destino a todo o produto, já que ele é muito rico em cálcio e seu uso em fertiirrigação tem de ser dosado.”

Reúso. O objetivo do estudo então é utilizar os fungos para despoluir esses resíduos até um nível onde eles possam ser adotados como água de reúso pelas usinas de açúcar.

Uma outra frente da pesquisa verifica ainda a possibilidade de utilizar os fungos cultivados para a produção de ração, já que suas propriedades são as mesmas dos cultivados convencionalmente.