Mercado

O futuro da cana-de-açúcar

Cultura secular, parte da economia pernambucana praticamente desde o descobrimento do Brasil, a cana-de-açúcar foi perdendo importância no Produto Interno Bruto (PIB) do estado e inicia o século 21 com a necessidade de se adaptar a uma economia diversificada, dominada por segmentos econômicos mais dinâmicos, como petróleo e gás e offshore. Se a produtividade aumentou cerca de 25% nos últimos 15 anos, alcançando uma média de 15 toneladas por hectare – as áreas de plantio foram reduzidas, cedendo espaço para indústrias e para o crescimento do Complexo Industrial Portuário d e Suape.

As safras de cana têm se mantido praticamente no mesmo patamar desde 1992. Há 17 anos a produção pernambucana foi de 17,2 milhões de toneladas; na safra passada o volume chegou aos 17,9 milhões – uma variação pequena, com altos e baixos ao longo do tempo e uma forte dependência da questão climática, especialmente do regime de chuvas anual.

A situação se repete nos demais estados doNordeste – região responsável por 12% do setor sucroalcooleiro brasileiro. Das 618 milhões de toneladas de cana da última safra, o Nordeste foi responsável por 10% do total. Das 38 milhões de toneladas de açúcar, 4,3 milhões foram produzidas na região; e dos 27 bilhões de litros de etanol, no Nordeste foram fabricados 2,1 bilhões.

Todos esses aspectos pesam na hora de questionar o espaço que o setor sucroalcooleiro terá no Pernambuco do futuro, não tão distante assim. Quem atua no setor não vê nos números uma decadência. ´O primeiro sintoma de uma economia moderna é a que tem escala e diversificação. É nisso que apostamos. O mundo do petróleo vai se comunicar cada vez mais com o etanol e um estado com uma refinaria e também etanol fará eles se unirem. Estaremos conectados nesse futuro´, aposta Renato Cunha, presidente do Sindicato das Indústrias do Açúcar e do Álcool de Pernambuco (Sindaçúcar).

Mais do que no biocombustível, os empresários esperam a integração com outros segmentos em expansão: no fornecimentode açúcar para a indústria alimentícia (doces, biscoitos e refrigerantes); na venda de álcool para as indústrias de bebidas e de medicamentos, no Polo Farmacoquímico; e na exportação de açúcar pelo terminal açucareiro do Porto de Suape – complementar ao do Recife.

´O mercado é muito bom. Não basta apenas o açúcar ser de boa qualidade. Aqui na Trapiche trabalhamos com o conceito de indústria alimentícia. É o açúcar e a energia. O etanol tem espaço certo no futuro do biocombustível e por isso considero que a nossa indústria está em total acordo com o novo momento de Pernambuco´, analisa Mário Jorge Aguiar, gerente-administrativo da usina Trapiche, no Litoral Sul do estado.

Para uma possível decadência da cultura canavieira na Zona da Mata pernambucana, há quem sonhe com o cultivo no Vale do São Francisco. Polêmico, por propor a monocultura da cana-de-açúcar irrigada com as águas do Velho Chico, o projeto já tem um exemplo de sucesso: a usina Agrovale, com a maior produtividade do país e maior longevidade das plantas.