Mercado

Safra da cana deixa de atender a demanda

A produção de cana de açúcar brasileira não será suficiente para garantir a produção de etanol e atender a demanda do mercado brasileiro a partir deste ano. A afirmação foi feita ontem, em São Paulo, pelo presidente da União da Industria da Cana-de-açúcar (Unica), Marcos Sawaya Jank, que projetou até 2020 uma necessidade de produção de cana no Brasil superior a 1,3 bilhão de toneladas para atender plenamente a demanda por etanol e açúcar, ante a expectativa real de 974 milhões de toneladas. Segundo a entidade, essa será a principal pauta discutida com o governo federal, produtores e indústria, além do setor automotivo, nesse ano. “Nós precisamos urgentemente iniciar conversas e entendemos que o governo está disposto a isso”, comentou Jank.

Na safra 2011/2012, o Brasil deve produzir 632 milhões de toneladas de cana, sendo que a necessidade atual para atender a demanda interna e externa é 23% maior, ou seja, 775,6 milhões de toneladas. Na safra 2015/2016, a diferença sobe para mais de 25%, com uma produção esperada de 778 milhões de toneladas de cana contra uma necessidade de 975,7 milhões de toneladas.

Já em 2020/2021, a oferta brasileira estará 41% menor do que a necessidade, sendo que a expectativa em relação a safra de cana será de 974 milhões de toneladas, ante uma necessidade superior a 1,3 bilhão de toneladas do produto. “Esse cenário nos mostra que, do jeito que as coisas estão, os carros flex usarão, caso não haja um crescimento na oferta, cada vez menos etanol. Vamos passar de 45% de carros flex usando etanol na safra 2011/2012, para 37% em 2020. Nós precisamos urgentemente iniciar as conversas entre o governo e o setor para fazer ajustes no que se refere a uma harmonização dos impostos e toda a questão de abastecimento”, frisou o presidente da entidade.

Na ocasião, a Unica apresentou a sua projeção sobre a produção de cana nos estados do centro-sul do Brasil em 2011/2012 que deve alcançar 568,5 milhões de toneladas, volume 2,11% maior do que os 556,74 milhões de toneladas processadas na safra 2010/2011. O diretor técnico da entidade, Antonio de Pádua, contou que nos últimos dois anos o setor tem crescido aquém das expectativas, ou seja, em média apenas 3% ao ano, contra um crescimento projetado de 10%.

A entidade destacou que a principal razão para esse recuo no crescimento do setor foi a baixa frequência na renovação dos canaviais, que na média histórica compreendia a 15% da área total plantada, e nas duas ultimas safras não ultrapassou 8%. “Essa renovação muito aquém do normal, quase metade do que deveria, carrega uma herança para a safra seguinte que é o envelhecimento do canavial. A nossa safra já estava envelhecida no ano passado e vai ficar ainda mais neste ano. Isso está puxando para baixo a produtividade agrícola, entretanto, não afeta a concentração de açúcar [ATR]”, comentou.

Além dess e motivo, o diretor colocou outras razões para o lento crescimento da safra canavieira. Entre elas os problemas climáticos, que geraram perdas de produtividade. As reduções de área da cana bisada, que sobra no campo até a próxima safra, gerando uma qualidade superior ao produto. E a colheita mecanizada, que gera grande quantidade de impurezas na cana recebida pelas usinas.

Novas unidades

Para esta safra o setor deve receber 5 novas unidades de produção, sendo uma em Goiás, três em Mato Grosso do Sul, e uma no Estado de São Paulo. Sendo que esta última ainda gera dúvidas quanto ao seu funcionamento de fato neste ano. Além disso, Pádua contou que oito usinas que produziam exclusivamente o etanol passarão a fabricar açúcar também. Entretanto, a participação do etanol não deve cair muito. “Nessa safra fala-se muito em produzir mais açúcar do que etanol e isso não procede. Iremos produzir 2,7 bilhões de litros de etanol a mais este ano e cinco milhões de toneladas a ma is de açúcar. Se transformarmos esses números eles são equivalentes. A participação do açúcar passará de 44,7% na safra 2010/2011, para 45,3% nesta safra. O etanol ainda será responsável por 54,7% no uso da cana. O crescimento nos últimos anos foi prioritariamente do etanol”, acrescentou ele.

O presidente da Unica afirmou, que a flexibilidade das usinas para produzir o etanol e o açúcar é a grande vantagem do mercado brasileiro. Para ele, a baixa oferta do combustível nos últimos dois anos, e a possível falta nesta safra é o reflexo de baixas produções e não da migração do etanol para o açúcar conforme as especulações. “De certa forma faltou cana para o etanol e para o açúcar. Se tivéssemos feito mais etanol a gritaria seria por falta de açúcar. Hoje, o mundo inteiro se vê às voltas com problemas de alta dos alimentos e essa flexibilidade ajudou a abastecer o mundo com açúcar. Outro fator é a demanda que cresce mais do que conseguimos produzir”, finalizou Marcos Jank.