Mercado

Matéria-prima e preços são os gargalos

Sem investimentos que impulsionem o setor, os biocombustíveis convivem com o sufoco dos custos. No último leilão da Agência Nacional de Petróleo Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), o preço do biodiesel atingiu R$ 2,04/litro, queda de 12% em relação a edição anterior. A derrubada dos valores é reflexo do crescimento da oferta e acende a luz amarela para o segmento. Na avaliação do diretor da consultoria especializada Biodiesel BR, Miguel ngelo Vedana, a média de preços dos próximos leilões deve oscilar próximo aos R$ 2,15, menor que o percentual do ano passado de R$ 2,3.

A matéria-prima é atualmente grande gargalo do setor e está sujeita a escalada das commodities. No país, 85% do biodiesel ainda é produzido de soja. Alexandre Grimaldi, diretor da Ecominas Gestão de Resíduos, transforma óleo vegetal usado em biodiesel, uma tecnologia alternativa. “Não temos qualquer incentivo financeiro. Os biocombustíveis têm implicações macro, ambientais e na de saúde pública, é uma opção política.” Para o especialista, a regulamentação do mercado também é um peso. Ele aponta que a ANP prevê a venda do produto em leilões oficiais para a Petrobras e distribuidores. “Se o mercado fosse livre, haveria maior incentivo aos investimentos e à produção. Outra questão é que como ofertante, a Petrobras pode influenciar os preços.”

Com a elevação de preços nas bombas interferindo na decisão do consumidor, a União da Indústria da Cana-de-açúcar (Unica) defende uma reformulação também na indústria automotiva. A reivindicação diz respeito aos veículos flex, que ajudaram a ressuscitar o etanol. De acordo com Antônio de Pádua Rodrigues, diretor-técnico da entidade, as montadoras de automóveis precisam melhorar a relação de consumo entre o álcool combustível e a gasolina. Em média, para os motores flex, vale a pena abastecer com álcool, quando o combustível custa 70% do p reço da gasolina, isso porque o derivado da cana é mais volátil que o combustível fóssil e o consumo é mais rápido. “A indústria poderia melhorar essa relação, com mais vantagem para o etanol”, barganha Rodrigues.

Estudioso do mercado, Grimaldi aponta que o Brasil tem tecnologias prontas desde a década de 40, mas não há financiamento para tirar o conhecimento das prateleiras. “Basta comparar os investimentos em bioenergia de países como Estados Unidos e China e os recursos disponíveis no Brasil.” No caso do biodiesel, o produto é apontado também como importante para a balança comercial brasileira. Em 2010, o país importou cerca de 9 bilhões de litros de diesel, aumento de 207% em relação aos 3,5 bilhões de litros importados em 2009. Cerca de 18% do produto consumido internamente é importado.

A reportagem entrou em contato com o Ministério de Minas e Energia, mas não obteve retorno.