De olho na ampliação das margens operacionais, a Camera Agroalimentos, uma das maiores processadoras e comercializadoras de soja do Rio Grande do Sul, decidiu elevar os produtos industrializados à condição de principal fonte de faturamento, à frente da venda de grãos e insumos. A estratégia inclui a expansão da fábrica de óleo bruto e refinado em Santa Rosa, concluída neste ano, e a recente aquisição de uma unidade de beneficiamento de arroz em São Borja, além do ingresso no segmento de biocombustíveis.
A usina de biodiesel da empresa foi inaugurada dia 11 de novembro, em Ijuí, e a capacidade instalada nominal inicial de 144 mil litros por ano já será ampliada em 60% no segundo semestre do ano que vem. “Passamos a fazer investimentos mais fo rtes na verticalização da cadeia (de grãos) para aumentar a participação do segmento industrial”, explicou o diretor administrativo e financeiro, Fabio Magdaleno. No período de 2009 a 2011, a Camera vai investir R$ 75 milhões nesse processo.
De acordo com o executivo, a decisão foi tomada em 2005, quando os produtos industrializados correspondiam a apenas 15% do faturamento. Agora, o segmento já vai responder por 45% da receita bruta prevista de R$ 1,1 bilhão em 2010 e por 55% das vendas totais estimadas em R$ 1,45 bilhão para 2011. Ao mesmo tempo, a margem Ebitda, que mede a relação entre a geração de caixa e a receita líquida, partiu de cerca de 3% em 2005 e deve alcançar 5% em 2010 e 6% no ano que vem. As exportações diretas representam 10% das receitas.
Em 2009 e 2010, a Camera já investiu R$ 55 milhões na ampliação das operações industriais, sendo R$ 40 milhões na usina de biodiesel que opera com soja, canola, girassol e gordura animal. A empresa vendeu 12,75 milhõ es de litros no último leilão promovido pela Agência Nacional do Petróleo (ANP), para entrega no primeiro trimestre de 2011, e projeta um faturamento de R$ 200 milhões no segmento no ano que vem.
Segundo Magdaleno, a companhia decidiu ingressar no segmento de biocombustíveis porque domina praticamente toda a cadeia produtiva anterior, da aquisição dos grãos à produção do óleo bruto. Além de proporcionar margens mais generosas, a investida também pretende evitar que os 20 mil agricultores parceiros da empresa no Rio Grande do Sul sejam seduzidos a fornecer matéria-prima para concorrentes no mercado de biodiesel, explicou o diretor.
Neste ano, a Camera originou (adquiriu para industrialização e comercialização) 1,2 milhão de toneladas de soja, o equivalente a 11% da safra gaúcha do grão, e para 2011 a previsão é chegar a 1,35 milhão de toneladas, o que deverá significar mais de 14% da colheita do produto no Estado. No trigo, a participação deve subir de 17% para 21% da produção estadual no período e no milho, de 3% para 4%.
Outros R$ 10 milhões foram aplicados neste ano na fábrica de Santa Rosa, onde fica a sede da empresa, que teve a capacidade de produção de óleo de soja e canola ampliada em 50%, para 1,5 mil toneladas por dia, considerando o volume de grãos processados. Do total, 40% correspondem a produto refinado e o restante a óleo bruto, que antes era vendido para terceiros e agora será utilizado na fabricação de biodiesel.
Adquirida em 1999 da Olvebra, a unidade passou pela primeira grande ampliação (de 400 para 800 toneladas por dia) em 2005 e em 2007 começou também a fazer refino. Hoje a Camera produz 4 milhões de litros de óleo de soja refinado por mês e detém uma fatia de 40% do mercado gaúcho do produto, além de 5% em Santa Catarina. E, conforme Magdaleno, ainda há “muito espaço” para crescer na região Sul antes de partir para outros Estados do país.
Os R$ 5 milhões restantes investidos no período 2009/10 f oram direcionados para tecnologia da informação e melhorias operacionais e logísticas. Para 2011 a Camera prevê aportes de mais R$ 20 milhões, sendo parte direcionada para a planta de biodiesel, que terá a capacidade nominal ampliada para 230 milhões de litros por ano. Como a ANP autoriza a inscrição de até 80% da capacidade das usinas nos leilões de biocombustíveis, a empresa poderá vender 184 milhões de litros por ano do produto.