
O setor canavieiro do Nordeste atravessa uma das fases mais difíceis de sua história recente, e um dos fatores mais determinantes dessa crise é a redução do preço pago pela matéria-prima, a cana-de-açúcar, cuja desvalorização em relação à safra anterior beira os 40%. E essa desvalorização, que impacta diretamente os produtores tem aprofundado fragilidades econômicas, diminuído a capacidade de investimento e comprometido a sustentabilidade da atividade em diversos estados nordestinos. Para o presidente da Associação dos Plantadores de Cana da Paraíba (Asplan), José Inácio de Morais, o momento pede união.
“A luta é muito grande e eu vejo pouca gente chegar junto. É muita crítica, muita cobrança e pouca gente para ajudar. É preciso chegar junto, se unir, porque unidos seremos mais fortes”, disse ele.
Ele lembra que a queda do preço da cana decorre de um conjunto de pressões econômicas, que no Nordeste se agravou com o fim da Cota Americana, a partir do tarifaço dos EUA, provocando um descompasso entre custo de produção e remuneração da cana no Nordeste.
“Enquanto os custos locais permanecem elevados, o valor pago pela matéria-prima não acompanha essas despesas, zerando as margens dos produtores. Isso é grave, o momento pede muita luta, perseverança e trabalho”, destaca José Inácio, lembrando que com preços como estão, os fornecedores ficam incapacitados de renovar canaviais, investir em tecnologia, ampliar irrigação ou adotar práticas que poderiam elevar a produtividade.
“O envelhecimento dos plantios e a falta de insumos adequados diminuem ainda mais o rendimento agrícola, criando um ciclo negativo que enfraquece toda a cadeia produtiva”, reitera ele.
Impacto da Desvalorização da Cana
Vale lembrar que no plano social, a desvalorização da cana contribui para o desemprego rural, o fechamento de propriedades agrícolas e o esvaziamento econômico de municípios que dependem fortemente da atividade.
“A reversão desse quadro passa por políticas de valorização do fornecedor, incentivos à irrigação, renegociação de dívidas, apoio técnico e estímulo à produção de etanol e energia renovável. Sem medidas estruturais que recompensem adequadamente a matéria-prima produzida no Nordeste, a tendência é a continuidade do processo de retração do setor canavieiro”, destaca ele que nesta sexta-feira (12) terá uma audiência junto com industriais do setor com o governador João Azevêdo. “Vamos levar a problemática para o governador e suplicar que ele nos ajude neste enfrentamento da crise”, afirma.
Reações e Perspectivas do Setor

A diretora da Asplan e produtora canavieira, Ana Cláudia, durante o evento Agro em Pauta, realizado nesta quarta-feira (10), na sede da entidade em João Pessoa, reforçou as palavras do presidente.
“Quero parabenizar o Sr. José Inácio pela gestão e lembrar que estamos todos passando pela mesma situação e dizer que a gente tem que se unir. Levar nossas lamentações aos nossos colegas, nossos vizinhos, nossos familiares. E a hora é agora. Precisamos nos unir para subir o preço, crescer e vencer e esse espaço de luta é a associação. Temos grandes líderes, grandes pessoas aqui dedicadas e a gente precisa fazer a nossa parte. Não é ficar no celular, não é ficar em casa discutindo um com o outro. É hora de união. Vamos dar as mãos e vamos se empoderar e ir para a luta para vencer. Ocupar os espaços, eu estava dizendo aqui, a gente precisa ir para a imprensa, tem que dar entrevista, ir para o rádio, falar. Tem muita gente que não sabe o que a gente está passando. Não sabem que se a gente quebrar, muita gente vai junto”, finalizou Ana Cláudia.
A Importância da Conscientização
“Meu filho está terminando o ensino médio em uma escola particular, onde os alunos não sabem que o álcool que colocam no carro, sai da cana-de-açúcar. Então a gente precisa mostrar que a cana é um patrimônio, é cultura, é nossa. É a cachaça, é o álcool que vai no carro”, finalizou ela.