No CANABIO25, Raffaella Rossetto vê o solo como legado. “Temos a obrigação de entregar às próximas gerações um solo capaz de cumprir todas as suas funções”. E essas funções vão muito além de produzir alimentos, fibras e biocombustíveis. “O solo é purificador de água, regulador do clima, reservatório de biodiversidade, fonte de genes, estabilizador de ecossistemas e base física das cidades”, explica.
Mas, segundo ela, é também o recurso natural que mais rapidamente destruímos—mesmo sabendo que leva cerca de mil anos para formar apenas 1 centímetro de solo.
A cidade subterrânea
Rossetto apresentou um slide uma “cidade invertida” subterrânea composta por minhocas, formigas, raízes, fungos, bactérias e microporos que movimentam água, ar e nutrientes.
Ela falou sobre a rizosfera. Nela, a planta libera compostos que atraem microrganismos benéficos e afastam patógenos. Nutrições erradas ou excessivas rompem esse equilíbrio e atraem microrganismos indesejáveis.
Conhecemos apenas 1% dos microrganismos
Segundo Rossetto, “ainda conhecemos talvez 1% dos microrganismos existentes no solo”. A biodiversidade abaixo da superfície é imensa e decisiva para a produtividade.
Mais matéria orgânica, mais vida, mais produtividade
A matéria orgânica foi apontada como o principal indicador de qualidade do solo. Solos ricos em matéria orgânica:
- têm maior fertilidade,
- apresentam agregados estáveis,
- retêm melhor água e nutrientes,
- sustentam maior biodiversidade,
- produzem mais.
Em estudos comparativos, solos de vegetação nativa registram índices superiores, mas canaviais manejados adequadamente podem se aproximar desse padrão.
Parceria com a natureza, não competição
A pesquisadora contrasta dois caminhos: “Enquanto a agricultura tradicional compete com a natureza, a regenerativa tenta ser parceira dela”, afirmou.
Raffaella destacou que o setor sucroenergético já aplica diversas práticas regenerativas:
- manutenção da palha
- preparo reduzido
- controle biológico
- manejo localizado de plantas daninhas
- uso crescente de biológicos
- adoção de indicadores
E acrescentou um ponto muitas vezes esquecido: a capacitação das equipes, que precisam entender a importância de cada decisão tomada no campo.
A íntegra da palestra de Raffaella Rossetto está disponível no canal do YouTube do JornalCana.