
Com perdas superiores a 33% no preço da matéria-prima, reflexo direto da desvalorização internacional do açúcar e do tarifaço dos Estados Unidos sobre produtos brasileiros, o Setor da Agroindústria Canavieira do Nordeste passa por uma grave crise que ultrapassa as oscilações normais do segmento.
E isso tem forte repercussão no contexto social nesta safra 2025/2026, que está em curso com risco de solução de continuidade para centenas de produtores de cana, várias usinas e milhares de trabalhadores no campo e nas indústrias da região. Para o enfrentamento da crise, o setor está pleiteando ajuda dos governos federal e estadual.
Em Pernambuco, segundo maior produtor de cana-de-açúcar do Nordeste, já há uma audiência pública marcada para o próximo dia 1º para debater a crise.
Na Paraíba, diretores da Associação dos Plantadores de Cana (Asplan PB) se mobilizam há algum tempo entre viagens à Brasília para buscar apoio de parlamentares na aprovação de uma subvenção de R$ 12,00 por tonelada de cana e já solicitaram audiência com o governador João Azevêdo para expor a situação e discutir soluções que minimizem a situação, principalmente de micro e pequenos produtores que são os que mais sofrem e representam 80% do segmento no estado.
Além disso, já entraram em entendimento com deputados estaduais que conhecem o setor para propor um debate público também na Assembleia Legislativa.
Impacto da Crise e Ações Necessárias

“A crise é grande, os produtores não vão conseguir honrar seus pagamentos sem ajuda porque a conta não fecha, estamos sendo remunerados abaixo do que investimos e a continuar assim, o produtor não terá condições nem de adubar sua cana”, afirma o presidente da Asplan, José Inácio.
Ele lembra que em 2024, neste mesmo período, o valor da cana era de R$ 175,00 por tonelada e que a projeção para novembro é de R$ 134,31, equivalente ao valor negociado há quatro anos atrás.
Além das tratativas com os governos locais, o setor se articula no Congresso para incluir na Medida Provisória 1.309, que instituiu o Plano Brasil Soberano, o auxílio emergencial, a título de equalização, de R$ 12,00 por tonelada.
“Esse valor não acaba a crise, mas ameniza a situação do produtor que, na atual conjuntura, é, de fato, desesperadora. Imagine você investir para produzir uma tonelada de cana e receber muito menos do que você investiu. É isso que está acontecendo”, reitera José Inácio.
O Futuro do Setor Canavieiro no Nordeste
O Consultor do setor, Gregório Maranhão, confirma que essa é a maior crise do segmento em duas décadas e afirma que qualquer ajuda que o estado venha a colocar à disposição do setor, é um investimento no próprio estado.
“É fundamental conscientizar os gestores públicos no plano federal e estadual, que o gesto de socorro atendendo o clamor das lideranças agroindustriais canavieiras do Nordeste não é favor, é investimento na região mais carente do Brasil, na cultura mais expressiva do Nordeste, a que mais emprega no campo. E repetindo o jargão do pedido de socorro à cana-de-açúcar nordestina é preciso lembrar que “se tá ruim com cana, muito pior sem ela”, para governo e governados”, finaliza Gregório.