Sai previsão da ISO sobre mercado mundial de açúcar e de etanol; saiba aqui

A primeira revisão da Organização Internacional do Açúcar (ISO) para o ciclo 2025/26 projeta um superávit global de 1,625 milhão de toneladas, revertendo o déficit estimado anteriormente e indicando um mercado apenas “modestamente confortável”.

Para 2024/25, o déficit mundial foi reduzido de 4,879 milhões para 2,916 milhões de toneladas após avanços na colheita de países do Hemisfério Sul.

A produção global deve atingir 181,77 milhões de toneladas em 2025/26, alta de 5,55 milhões t ante a safra anterior, puxada por recuperações na Índia, Tailândia e Paquistão. O consumo deve alcançar 180,142 milhões t, avanço de 0,56%. A ISO lembra que o uso mundial já havia registrado recorde histórico em 2023/24, com 181,207 milhões t.

Apesar da reversão para superávit, os estoques permanecem apertados. A relação estoque/uso deve cair para 52,74%, menor nível em nove anos, enquanto o estoque ajustado — descontadas perdas de refino — recua para menos de 43%, o piso em 15 anos.

Preços seguem pressionados, com açúcar na pior posição do índice da FAO

Em novembro (até o dia 11), o preço médio do açúcar bruto (ISA) ficou abaixo de US$ 0,14/lb, atingindo o menor valor em 57 meses. Entre agosto e outubro, a cotação recuou 9%, de US$ 16,74 para US$ 15,21 centavos/lb. Nos mercados domésticos, somente Índia e México registraram alta de 1% no período, enquanto o açúcar cristal brasileiro caiu para R$ 2.299/t, o menor nível em três anos.

A ISO mantém visão neutra para os próximos três meses, apoiada no superávit modesto, sazonalidade elevada e ampla disponibilidade exportável.

Cenário de Commodities e o Açúcar

Outras commodities ajudam a compor o ambiente baixista: o milho caiu para US$ 4,02/bushel, mínima de um ano; o cacau despencou 15,1%, para US$ 5.948/t; o Brent recuou para US$ 63,98/barril em outubro. O dólar, por sua vez, perdeu força e caiu para 121 pontos no índice DXY, após ter atingido 130 em janeiro.

Comércio mundial fica praticamente estável com exportações em 64,7 milhões t

A ISO projeta exportações globais de 64,733 milhões de toneladas em 2025/26, ligeiramente acima da previsão anterior (63,890 milhões t) e da temporada passada. As importações devem somar 62,962 milhões t, abaixo das 63,768 milhões t projetadas em agosto.

Para 2024/25, os dados mostram superávit comercial marginal de 227 mil toneladas, com 64,740 milhões t embarcadas.

Etanol cresce no mundo, mas Brasil recua e Índia dispara

A produção mundial de etanol deverá alcançar 120,6 bilhões de litros em 2025, alta de 1,7% sobre 2024, enquanto o consumo sobe 2,6%, para 120,5 bilhões de litros. Em uma revisão mais ampla, que inclui novos dados, a ISO também projeta avanço maior: 122 bilhões de litros de produção (+2,3%) e 121,7 bilhões de consumo (+3,3%).

Os Estados Unidos seguem líderes, com produção prevista recorde de 61,5 bilhões de litros. O Brasil, ao contrário, deve cair para 32,7 bilhões de litros (ou 33,34 bilhões considerando revisões posteriores), abaixo de 2024, devido à priorização do açúcar. A Índia registra a aceleração mais forte: de 7,2 bilhões para 9,5 bilhões de litros nas projeções tradicionais, e até 10,5 bilhões em cenários atualizados, impulsionada pelo uso crescente de grãos (mais de 60% da oferta) para atingir a mistura de 20%.

A Europa avança para 6,84 bilhões de litros, apoiada na expansão do E10. Vietnã e Indonésia implementam E10 e E5 em 2026.

Coprodutos: oferta de melaço melhora em 2026 e cogeração segue retraída

A produção de melaço deve ter oferta mais abundante em 2026, especialmente após a retirada do imposto de exportação da Índia e maior produção na América do Norte, América Central, Tailândia e Indonésia. Em 2025, porém, o mercado segue restrito: exportações globais atingiram 2,55 milhões t nos primeiros nove meses (+7%), enquanto importações asiáticas caíram 9%, para 1,17 milhão t.

Na cogeração, o Brasil registrou 7.076 GWh até junho (-10,4%) e 15.558 GWh até setembro (-2,9%). A Índia somou 9.663 GWh (-6,9%), o menor nível em várias temporadas. Na Alemanha, a Südzucker iniciou a construção de uma planta de biometano baseada em pellets de polpa de beterraba.

Adoçantes: HFCS recua e cresce a migração para sistemas plant-based

A produção de xarope de milho rico em frutose (HFCS) nos EUA deve cair para 7,3 milhões t em 2025 e 7,2 milhões t em 2026, refletindo menor demanda interna e importações moderadas do México. Na UE, a produção de isoglicose segue estagnada em 2025/26.

Nos Estados Unidos, cresce o uso de adoçantes à base de plantas e blends, apoiado em redução de consumo per capita de açúcar. A Coca-Cola registrou aumento em refrigerantes de baixo ou zero açúcar e bebidas proteicas, especialmente entre consumidores que utilizam medicamentos GLP-1. Uma nova proteína doce obteve status GRAS no país, enquanto campanhas para banir o aspartame ganham força nos EUA e na Europa.

Cenário internacional: OMC continua travada e TLCs avançam de forma fragmentada

Na OMC, continuam as dificuldades para fechar resultados agrícolas para a MC14, com negociações abertas há 24 anos.

Nos acordos regionais, Canadá e Mercosul retomam negociações; UE conclui pacto com Indonésia; Índia-EFTA entra em vigor; Mercosul e EFTA assinam tratado; China e ASEAN consolidam seu TLC atualizado. A AGOA expirou nos EUA. A UE criou salvaguardas adicionais para produtores agrícolas no acordo UE-Mercosul. O novo acordo UE-Ucrânia estabelece quota de 100 mil toneladas, abaixo das exportações previstas de 320 mil t em 2024.

A chamada “Rodada Trump” continua a alterar a geopolítica comercial, com novos acordos envolvendo Camboja, Malásia, Coreia do Sul, Tailândia, Vietnã e Uzbequistão, além de um acordo parcial com a China.