Mercado

Petrolíferas avançam no setor de álcool

A consolidação do mercado de álcool combustível brasileiro por meio de parcerias entre empresas petrolíferas e sucroalcooleiras é uma tendência, afirmam especialistas consultados pela Folha.

Anteontem, a Petrobras Distribuidora e a Petrobras Biocombustível, subsidiárias da Petrobras, anunciaram contrato com a Açúcar Guarani no valor de R$ 2,1 bilhões para fornecimento de até 2,2 bilhões de litros de etanol em quatro anos.

O contrato é parte da parceria estratégica firmada em abril entre a Tereos Internacional, da qual a Guarani é subsidiária, e a Petrobras Biocombustível.

À época, a Petrob ras disse em comunicado que o objetivo da parceria era “acelerar seu crescimento na indústria brasileira de etanol, açúcar e bioenergia”.

Em agosto, Shell e Cosan já haviam anunciado acordo vinculante para a formação de uma joint venture para a produção e a comercialização de etanol.

COMPETITIVIDADE

O movimento ocorre, para Plínio Nastari, presidente da consultoria de etanol e açúcar Datagro, porque o álcool de cana já é visto como competitivo ante o petróleo.

Além disso, ele destaca o valor baixo dos ativos de produção em relação aos do mercado de energia em geral, o que torna mais barata a entrada no setor.

Adriano Pires, consultor em energia e diretor do CBIE (Centro Brasileiro de Infraestrutura), ressalta ainda o que chama de “commoditização” do etanol, que se transformou em “um combustível que não é mais uma alternativa, e sim uma realidade”.

“Não que vá virar o novo petróleo, ou que o Brasil vá virar a “Arábia Saudita verde”, como o presidente Lula já afirmou. Mas o etanol vai ser importante para a mistura com a gasolina, para deixá-la mais limpa”, diz.

Para Amarílis Romano, consultora em biocombustíveis da Tendências, as empresas estão buscando entrar no setor com o know-how de quem é grande no mercado.

“O mercado de energia é maior que só petróleo, e sempre cai bem uma participação em biocombustíveis.”

DESNACIONALIZAÇÃO

Pires afirma que o combustível, historicamente “verde-amarelo”, está sofrendo uma “desnacionalização” com a saída das famílias tradicionais do processo de solidificação e profissionalização das sucroalcooleiras.

“Talvez tirando a ETH [Bioenergia, da Odebrecht], que é uma empresa genuinamente brasileira, os grupos que estão consolidando o setor têm sempre a presença estrangeira”, diz.

Análise divulgada no início deste ano pela EPE (Empresa de Pesquisa Energética) e pelo Ministério de Minas e Energia aponta que a participação estrang eira na capacidade de moagem de cana passou de inexpressiva, na safra 2005/ 2006, para 40% na safra 2010/ 2011.