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A cada dia, álcool perde mais para a gasolina

Até janeiro, quando o Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Prestação de Serviços (ICMS) do etanol cairá de 25% para 22% em Minas Gerais, proprietários de carros flex devem ter poucos motivos para abastecer o veículo com álcool hidratado. O combustível não é mais vantajoso em relação à gasolina na maior parte dos postos do estado, com valores que superam 70% do preço do derivado do petróleo, percentual considerado limite para sua viabilidade.

Nas últimas quatro semanas, o etanol vem sofrendo sucessivos reajustes nas bombas da capital e já pulou de uma média de R$ 1,68 para R$ 1,76, alta de 4,8%, segundo levantamento da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP). De acordo com o Sindicato da Indústria do Açúcar e do Álcool de Minas Gerais (Siamig/Sindaçúcar – MG), o cenário atual pode ser justificado pela nova política de vendas dos 43 usineiros no estado.

“O setor estava descapitalizado e era preciso fazer caixa. Com isso, vendeu-se abaixo dos preços de custo, o que fez com que até um mês atrás o etanol estivesse viável”, explica Luiz Custódio Cotta Martins, presidente do sindicato. “Com preços melhores praticados nessa safra, os produtores se capitalizaram mais cedo e , com a folga de caixa, não estão vendendo mais abaixo do custo”, acrescenta. A recuperação do consumo também justifica a pressão nos preços. “Está crescendo comparativamente ao início do ano, principalmente porque o álcool tinha alcançado um patamar de vantagem em relação à gasolina”, explica Sérgio Prado, representante da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica).

O resultado é uma nova surpresa a cada reposição de estoque. “No intervalo de três a quatro dias entre um pedido e outro, já há reajuste”, afirma Paulo Miranda Soares presidente do Sindicato do Comércio Varejista de Derivados do Petróleo do Estado de Minas Gerais (Minaspetro). Hoje, o gerente do posto Ponte Nova, Márcio Soares, espera aumento no custo da carga, o que fatalmente será repassado ao consumidor. “Ainda não sei exatamente qual será o valor, mas a distribuidora já sinalizou que será inevitável”, afirma. Até então, as altas consecutivas registradas pelo posto não chegavam com a mesma força às bombas, mas a partir de hoje o álcool, que até ontem era comercializado a R$ 1,77, deve passar de R$ 1,80.

Mesmo com a escalada no valor do etanol, o taxista Wanderley Vasconcelos ainda faz opção pelo combustível. “Acho que ainda estou economizando optando pelo álcool. Se começar a aumentar muito, com certeza vou fazer a conta para ver se compensa, porque não costumo verificar o que fica mais barato”, afirma. O engenheiro Márcio Geraldo Borges, que, por sua vez, sempre compara o preço do álcool e da gasolina antes de abastecer. Há mais ou menos um mês ele tem optado pela gasolina. “A vantagem do carro flex é que posso escolher de acordo com o momento. Sempre faço uma conta rápida, de cabeça”, pondera.

“Acho que estou economizando com o álcool. Se aumentar muito, com certeza vou fazer a conta para ver se compensa” (Wanderley Vasconselos, taxista)

ESTOQUE EM ALTA O temor de uma entressafra como a última, quando os preços do álcool superaram a casa dos R$ 2 e levaram o governo a reduzir o percentual de anidro na gasolina de 25% para 20%, é descartado por empresários do setor. Mesmo com uma safra aquém da esperada, os usineiros estão mais estocados e devem ter produto suficiente para dezembro a abril. “Os usineiros estão com condições de financiar a estocagem e com isso, a expectativa é de que não haja oscilações tão bruscas nos preços”, afirma o representante da Unica, Sérgio Prado.

TEMPO SECO A produção vai superar a de 2009, mas não como o esperado. “Ao contrário do ano passado, quando choveu muito, este ano não choveu. Com o tempo seco, a cana não atingiu o ponto de corte ideal. Com isso, além de terminar o corte mais cedo, ainda não alcançaremos a previsão de colheita”, explica. A safra deve fechar com 570 milhões de toneladas de cana produzida, quando a expectativa era de 596 milhões em todo o Brasil. Em Minas Gerais, o patamar de 56 milhões de toneladas também não deve ser atingindo, ficando em cerca de 55 milhões, segundo Luiz Custódio.

A falta de chuvas durante o corte deve ter reflexos também na próxima safra que, em decorrência das condições climáticas, não deve crescer em relação à deste ano. “A produtividade do ano que vem será menor porque não teve chuva durante o corte para brotamento da cana”, afirma Luiz Custódio. Sem contar o baixo número de novas usinas previstas para entrarem em operação. “A cada ano era uma média de 20 novas empresas, mas com a crise econômica e corte dos investimentos, em 2011 prevemos apenas quatro”, acrescenta.