Mercado

Selo atesta boas práticas nos canaviais

Ao receber o selo que atesta a origem socioambiental da cana plantada em 21 mil hectares que abastecem as usinas São Francisco e Santo Antônio, na região de Sertãozinho (SP), o Grupo Balbo – dono da marca Native – planeja aumentar em 20% as vendas externas de açúcar orgânico e conquistar o atraente mercado japonês, ainda inexplorado. “Com o carimbo, reconhecido internacionalmente, abre-se um mundo de oportunidades para crescimento”, avalia Leontino Balbo Júnior, diretor comercial.

Segundo Balbo, a busca brasileira por essa diferenciação de mercado ocorreu a partir de pressões do Whole Foods Market, uma das maiores redes de varejo dos EUA, que estabeleceu como meta ser pioneira mundial na venda de açúcar com o prestigiado selo do sapinho verde – o Rainforest Alliance Certified, conferido mundialmente pela Rede de Agricultura Sustentável (RAS).

“Já tem indústria que envasa sachê de açúcar na Inglaterra querendo o produto brasileiro certificado”, revela Balbo, explicando que “a onda da sustentabilidade entre clientes externos motivou o investimento na atual certificação, que comprova a existência de ações ambientais e sociais no cultivo de cana e seu beneficiamento”. Critérios como saúde e segurança, condições dignas de trabalho e boas relações com as comunidades do entorno, por exemplo, vão além das exigências impostas por selos orgânicos já conquistados pela marca Native – no total de quatro, voltados para aspectos ambientais, de conservação do solo, eliminação de agrotóxicos e plantio biodinâmico.

As usinas São Francisco e Santo Antônio já utilizam a colheita verde e mecanizada para 96,5% da produção e, a partir de agora, de acordo com as exigências da RAS, têm até 2013 para eliminar inteiramente a queima da cana. É obrigatório o respeito a acordos da Convenção da Organização Internacional do Trabalho e às legislações ambiental e trabalhista brasileiras. Os benefícios atingem 3,5 mil trabalhadores, incluindo os da indústria, do campo e temporários, empregados na época da safra nas usinas que receberam a certificação.

O selo obriga treinamento para exercício de funções e uso de equipamentos de proteção individual. As propriedades precisam ter sistema de gestão socioambiental e, em seus limites, não há trabalho infantil ou forçado. Crianças que residem nas fazendas têm acesso à escola e serviços de saúde. Na área ambiental, além de ser proibida caça e captura de animais silvestres, as áreas de conservação são recuperadas, preservadas e permanentemente monitoradas.

Ele informa que hoje, com solo bem cuidado e ambiente saudável livre de agrotóxicos, 325 espécies de vertebrados, incluindo onças, habitam os canaviais.

O grupo produz 70 mil toneladas anuais de açúcar orgânico para 67 países, com receita de R$ 140 milhões. Cerca de 80% destinam-se à indústria de alimentos – da italiana Ican, fabricante de chocolate, à americana Stonyfield Farm, que compra da empresa brasileira 9 mil toneladas por ano para produzir iogurtes orgânicos. O faturamento do grupo, na casa de R$ 700 milhões por ano, inclui a produção de açúcar convencional, agora também certificado. Nessa condição, o valor do produto poderá aumentar em até 15%, segundo estimativa da empresa, também fabricante de álcool orgânico. “Com o selo, o plano é em três anos dobrar para 24 milhões de litros as vendas desse ingrediente, especialmente para a indústria de cosméticos”, anuncia Balbo.

“Sabemos que essa primeira certificação já está estimulando outras usinas a seguirem o mesmo caminho”, revela Eduardo Trevisan, responsável pela área de projetos e mercado do Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola (Imaflora). A instituição coordenou no Brasil o processo de estudos e consultas públicas para criação das normas e critérios socioambientais para cana-de-açúcar, hoje adotadas em todo o mundo. “O selo agregará valor ao açúcar vendido nos supermercados nacionais e no mercado internacional”, prevê Trevisan.

Empresas como a Unilever, Kraft, Nestlé e Mars já divulgaram compromissos públicos para aumento gradual de compra de matéria-prima agrícola certificada pelo Rainforest Alliance Certified. No mundo, as áreas de cultivos agrícolas diferenciados pelos critérios socioambientais têm crescimento exponencial. No caso do café, já são no mundo mais de 120 mil hectares, com mais de 20% de áreas naturais conservadas. Em 2009, a extensão de parreirais certificados cresceu quase quatro vezes. A lichia cresceu 100%.