
Artigo exclusivo publicado na edição 358 da revista do JornalCana
Vivemos uma era de profundas transformações ambientais e humanas. As usinas de açúcar e etanol, inseridas nesse cenário desafiador, enfrentam uma crescente complexidade para manter sua competitividade.
Três grandes vetores impactam diretamente suas operações: as mudanças climáticas, que tornam a produtividade e a qualidade da matéria-prima mais voláteis; as mudanças demográficas, que afetam a disponibilidade e o engajamento da força de trabalho; e as pressões crescentes dos critérios ESG, que exigem novas posturas e entregas em sustentabilidade, governança e responsabilidade social.

Superar esses desafios não será possível com as competências do passado. A nova realidade exige uma nova forma de pensar e agir. Precisamos integrar três dimensões: o entendimento profundo do comportamento humano (Pessoas), a habilidade de lidar com múltiplas variáveis e cenários (Processos), e o uso inteligente e conectado da tecnologia (Tecnologia). Esse tripé nos leva à proposta de uma nova competência: a Inteligência NeuroDigital.
A Inteligência NeuroDigital é a integração de três inteligências complementares: a Neurocientífica, que empodera pessoas com base em como o cérebro aprende, decide e se adapta; a Organizacional, que estrutura as empresas como organismos vivos em constante transformação; e a Digital, que amplia a capacidade humana por meio de dados, automações e inteligência artificial.
Esse foi também o enfoque da minha palestra de encerramento na 53ª Reunião Anual Conjunta da ASSCT – American Society of Sugar Cane Technologists, realizada no final de junho, na Flórida (EUA), onde defendi que essa nova competência se mostra decisiva para formar culturas resilientes, lideranças mais conscientes e decisões mais alinhadas à realidade das usinas.
Na prática, a adoção da Inteligência NeuroDigital se traduz em ações concretas. Um dos caminhos fundamentais é transformar a gestão de pessoas a partir da neurociência. Aplicar princípios como a neuroplasticidade — a capacidade do cérebro de se adaptar — em ambientes que estimulem o aprendizado ativo, o erro como ferramenta e a motivação intrínseca, pode gerar equipes mais engajadas e inovadoras. Outro exemplo é o uso da neuromotivação estratégica, que considera os quatro impulsos humanos no trabalho: adquirir, formar laços, compreender e se defender. Ao invés de reprimi-los, atendê-los com estímulos práticos fortalece o vínculo entre o colaborador e a organização.
Neuromotivação Estratégica

Nesse contexto, ganha destaque o GPS – Guia de Posicionamento Superior©. Esse método de minha autoria, baseado em estudos e experiências em neurociência, propõe uma avaliação estruturada de quatro pilares fundamentais do ser humano: Pilar, Personalidade, Propósito e Posicionamento.
Mais do que um teste de perfil, o GPS se apresenta como uma bússola de clareza ao ser humano e a quaisquer organizações sociais, como empresas e mercados. A ideia é promover autoconhecimento e facilitar o realinhamento consciente de pessoas e times, respeitando suas características essenciais e transformando-as em potência de evolução.

Outro passo essencial para incorporar a Inteligência NeuroDigital é a avaliação de maturidade digital. Essa avaliação, feita de forma isenta e com profundo conhecimento do ambiente industrial, permite mapear o grau de integração entre pessoas, processos e tecnologias. Revela oportunidades ocultas e alerta para armadilhas comuns, como o excesso de foco em componentes tecnológicos em detrimento das entregas sustentáveis da inovação.

A partir dessa leitura, é possível montar squads interdisciplinares com o apoio de inteligência artificial. Esses times reúnem colaboradores das áreas operacional, técnica e estratégica, construindo juntos programas de transformação digital autênticos e alinhados com a realidade da usina. O uso de IA eleva a capacidade de simulação, diagnóstico e decisão, mesmo com dados limitados, promovendo soluções mais ágeis e eficazes.
Por fim, é importante destacar que estamos evoluindo do uso básico de IA — como o machine learning — para níveis mais avançados, como a cognição artificial. Essa última representa a capacidade dos sistemas tecnológicos de compreender o contexto, adaptar estratégias e tomar decisões alinhadas aos objetivos organizacionais. É nesse estágio que soluções como o S-PAA, software de Otimização em Tempo Real, se tornam referência mundial.
A Inteligência NeuroDigital é mais do que um conceito: é uma competência transformadora que une ciência, cultura e tecnologia. É ela que permitirá às usinas se tornarem verdadeiramente vivas, humanas e adaptativas — prontas para prosperar em um mundo em constante reinvenção.
“Sonhe grande. Comece pequeno. Mas comece logo — e cresça integrado.”