Açúcar

Açúcar: tarifas dos EUA podem pressionar o mercado

Fundamentos continuam baixistas e riscos macro, como novas tarifas americanas e desvalorização do real, podem pressionar o mercado de açúcar

Ilustração: brgfx no Freepik
Ilustração: brgfx no Freepik

Os preços do açúcar se recuperaram na semana passada, apoiados por dados divulgados sobre a demanda (Paquistão e Filipinas) no último relatório da Única, e por fundamentos mais amplos que sugerem que a queda para 15,5 c/lb pode ter sido uma reação exagerada.

Os indicadores técnicos, como o RSI e o MACD, mudaram, apontando para uma tendência mais altista.

Os preços do açúcar bruto voltaram a subir acima do nível de retração de Fibonacci de 38,2% pela primeira vez desde junho, sinalizando potencialmente um novo interesse de compra.

“No entanto, os fundamentos continuam mais fracos do que nas últimas três ou quatro temporadas, com o índice de estoque/uso começando a se recompor. Embora concordemos que os preços deveriam estar sendo negociados em níveis mais altos (pelo menos 17-18 c/lb), há limites claros, tornando improvável um retorno às máximas de 2023-2024”, observa Lívea Coda, Coordenadora de Inteligência de Mercado da Hedgepoint Global Markets.

A analista também ressalta que olhando para o futuro, o cenário macroeconômico será um fator importante. Na última quarta-feira (9), o governo americano emitiu avisos de tarifas para 23 países, com taxas que variam de 20% a 50%. O efeito imediato sobre o índice do dólar foi de alta.

A perspectiva inflacionária, juntamente com os fortes dados do mercado de trabalho divulgados na semana anterior, abalou as expectativas de flexibilização monetária, dando suporte à moeda americana no curto prazo. Como resultado, o índice do dólar se manteve firme, encerrando a semana em 97,9, com uma variação de 0,8% em relação à semana anterior.

Em contrapartida, o real se enfraqueceu devido à alta tarifa imposta ao Brasil e ao fato de os EUA terem representado 12% das exportações brasileiras em 2024, recuando para o nível 5,57 na quarta-feira e para 5,54 no final da semana, depois que o mercado digeriu o anúncio.

Impacto das Tarifas e Incertezas Políticas

A analista observa que, entretanto, a combinação de tarifas e incerteza política aumentou a percepção de risco do mercado em relação aos EUA. Isso pode exercer uma pressão adicional sobre o índice do dólar no médio e longo prazo, mantendo-o abaixo dos níveis observados nos anos anteriores e, potencialmente, impactando o mercado mais amplo de commodities e dando suporte a valorização do real.

“Embora as tarifas tenham impacto limitado sobre o mercado de açúcar, uma desvalorização do real pode ser vista como baixista para o açúcar, pois pode incentivar maiores volumes de exportação do Brasil. Essa tendência afetou o ímpeto do adoçante, que perdeu parte de seus ganhos na quinta-feira. No entanto, a maior parte da safra 2025/26 já foi precificada, limitando o impacto dos movimentos cambiais sobre o contrato de curto prazo do adoçante”, explica.

Recuperação dos Preços do Açúcar Bruto e Perspectivas Futuras

Para a analista, a recente recuperação dos preços do açúcar bruto é particularmente relevante. As preocupações anteriores sobre uma mudança de mix do açúcar para o etanol no Centro-Sul do Brasil diminuíram, especialmente depois que os preços se recuperaram acima de 16 c/lb, aumentando a sua vantagem contra o hidratado no estado de São Paulo. “Embora alguns ajustes marginais ainda possam ocorrer em Goiás e Mato Grosso, sua participação combinada no volume de cana é de cerca de 13%, e eles já operam com um mix de açúcar mais baixo, restringindo seu impacto no mix agregado”, diz.

Lívea Coda explica que a recente recuperação dos preços do açúcar tornou o adoçante um pouco menos atraente para os compradores chineses, que estavam ativos desde maio, aproveitando os preços anteriormente baixos. “Embora isso não exclua novas importações, os compradores chineses, conhecidos por sua abordagem cautelosa, podem optar por adiar novas compras, especialmente porque as perspectivas de safra no Hemisfério Norte continuam a melhora”, afirma.

Impacto das Monções na Índia e Estimativas de Exportação

As monções progrediram bem em toda a Índia, e os níveis dos reservatórios de água continuam saudáveis. O país registrou maior plantio em comparação com a última temporada e espera-se uma recuperação na produção de açúcar. No entanto, os volumes de exportação continuam dependendo de decisões governamentais e podem ser autorizados somente ao decorrer da temporada.

“Embora mantenhamos uma estimativa conservadora de exportação de 500 kt, há potencial para que os volumes atinjam até 1,5 Mt, resultado que contribuiria para uma perspectiva ainda mais baixista do mercado global de açúcar, aumentando a pressão sobre o contrato de março 26”, diz.