Um estudo inédito realizado pela ConectarAGRO, em parceria com a Universidade Federal de Viçosa (UFV), revelou que 66,55% da área produtiva de cana-de-açúcar no Brasil já conta com cobertura de internet móvel 4G ou 5G.
Os dados mostram avanços na conectividade no campo, fator essencial para modernização da agricultura e adoção de novas tecnologias.
A pesquisa identificou que o Brasil possui 9,3 milhões de hectares plantados com cana-de-açúcar na safra 2022/2023.
Desse total, 6,19 milhões de hectares têm acesso à internet móvel de alta velocidade, possibilitando a implementação de soluções tecnológicas como sensoriamento remoto, monitoramento em tempo real e máquinas autônomas.
Estados mais conectados
Os estados líderes na produção da cultura também são os mais conectados.
- São Paulo, maior produtor do país, possui 5,6 milhões de hectares cultivados e 76% dessa área com cobertura móvel.
- Outros estados como Minas Gerais (53%) e Goiás (37%) apresentam níveis de conectividade variáveis, evidenciando o potencial de expansão da infraestrutura digital no campo.
No ranking dos municípios mais conectados, Fernando Prestes (SP), Novais (SP) e Iracemápolis (SP) apresentam 100% de cobertura móvel sobre suas áreas cultivadas.
Em contrapartida, grandes áreas produtoras como Alto Araguaia (MT) e Itaquiraí (MS) ainda não contam com conectividade móvel, evidenciando a necessidade de investimentos para ampliação da infraestrutura digital.
Além de cobertura de internet, estudo analisa irrigação
Além da conectividade, o estudo também analisou a prática da irrigação na canavicultura e sua relação com a infraestrutura digital.
Apesar da importância da irrigação para a produtividade agrícola, a pesquisa aponta que a adoção dessa prática ainda é limitada em diversas regiões.
Apenas 1% da área total cultivada com cana no Brasil é irrigada, com um grande potencial de expansão.
Dentre os municípios que mais utilizam irrigação, Juazeiro (BA) lidera com 19.877 hectares irrigados, seguido por Jaíba (MG) com 11.835 hectares e Paracatu (MG) com 6.800 hectares.
O estudo também revelou que a conectividade móvel acompanha essa tendência em algumas regiões: em Juazeiro, 69% da área irrigada tem cobertura móvel 4G ou 5G, enquanto em Jaíba esse percentual é de 74%.
No entanto, a pesquisa indica que ainda há desafios a serem superados. Municípios como Unaí (MG), que tem 86% de sua área cultivada com cana irrigada, não possuem conectividade móvel sobre essas áreas, o que limita a implementação de tecnologias avançadas no manejo agrícola.
Impacto econômico e tecnológico
A conectividade no campo permite não apenas a automação e otimização da produção, mas também a disseminação do conhecimento entre os produtores rurais.
O acesso à internet viabiliza assistência técnica remota, cursos online e consulta de dados estratégicos, tornando-se um diferencial competitivo para o setor sucroenergético.
O estudo destacou uma correlação relevante entre níveis de conectividade e produtividade em áreas irrigadas.
Em Fernando Prestes (SP), município com 100% de cobertura móvel, a produtividade atinge 85.000 kg/ha.
Já em Alto Araguaia (MT), que não dispõe de cobertura móvel, esse índice é de 47.470 kg/ha.
“Vale lembrar que essa relação não quer dizer, necessariamente, que uma coisa causa a outra. A produtividade no campo depende de vários outros fatores, como o clima, a altitude, o tipo de solo, a temperatura e até o jeito como a terra é cuidada”, ressalta Paola Campiello, presidente da ConectarAGRO.
A relação entre tecnologia e eficiência produtiva reforça a importância de políticas públicas e iniciativas privadas voltadas para a ampliação da conectividade no campo.
O acesso à internet de qualidade não é apenas uma questão de modernização, mas um fator decisivo para a competitividade do setor agrícola brasileiro.
Regiões com maior cobertura digital demonstram melhor aproveitamento dos recursos naturais, maior eficiência na gestão da produção e menores perdas.
“A ausência de conectividade em determinadas regiões não impacta apenas a digitalização da produção, mas também compromete a qualidade de vida dos trabalhadores do campo. Estar desconectado significa, muitas vezes, estar afastado da própria família, das oportunidades de qualificação online e até de serviços básicos que hoje dependem da internet. Essa realidade tem dificultado a retenção de talentos no setor, especialmente entre os profissionais mais jovens e qualificados, que buscam qualidade de vida aliada à perspectiva de crescimento profissional. A conectividade, portanto, também é um fator-chave para manter o capital humano no campo”, complementa Campiello.
Ainda há um longo caminho a ser percorrido para garantir que toda a cadeia produtiva da cana-de-açúcar tenha acesso às mesmas oportunidades tecnológicas. A expansão da conectividade será fundamental para impulsionar a produtividade, reduzir desigualdades regionais e fortalecer a posição do Brasil como líder global no setor sucroenergético.