Mercado

Em plena safra, abastecer com álcool é desvantagem no DF

Apesar do aumento da oferta do produto e de uma queda, na média nacional, de 9,5%, no DF o custo do litro do biocombustível não compensa para o consumidor brasiliense. A servidora pública Fabiana Ferreira tem um carro flex e gostaria de abastecer sempre com álcool. Mas reclama que o custo do biocombustível nas bombas do DF nem sempre permitem dispensar a gasolina. O taxista José de Matos lamenta que, em razão do preço, não possa encher o tanque do carro mais vezes com o biocombustível.

O preço do álcool no Distrito Federal chegou a R$ 2,30 em janeiro deste ano, caiu para R$ 1,89 em abril, início da safra da cana-de-açúcar, e então estancou. Os moradores do DF que têm carro flex desde o início deste ano não puderam usufruir das vantagens do biocombustível, menos dispendioso e poluente do que a gasolina, e não há previsão de quando poderão fazê-lo. O mercado não sabe explicar porque o preço local não cai e culpa as distribuidoras. Como a safra da cana termina em novembro, só restam alguns meses para o consumidor economizar enchendo o tanque com etanol.

Como o álcool proporciona um rendimento do veículo 30% inferior àquele oferecido pelo derivado do petróleo, o preço do litro não pode custar mais do que 70% do valor da gasolina para que seu uso compense. Não é o que acontece no momento. Na maioria dos postos percorridos pela reportagem, o álcool era vendido aos mesmos R$ 1,89 e o derivado do petróleo, a R$ 2,69, o que significa que o preço do primeiro equivale a 72% do valor do segundo.

A tabela de preços da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), atualizada semanalmente, traz valores um pouco diferentes dos encontrados nas ruas para o litro do álcool e da gasolina. Como ela trabalha com uma média de custo para todo o DF, cota o primeiro a R$ 1,86 e a segunda a R$ 2,64 em julho. Mesmo levando-se em conta esses números, substituir o etanol pelo derivado do petróleo não é vantagem. Pelo mesmo cálculo, o álcool representa 70,45% do valor da gasolina.

Além disso, os registros mantidos pela ANP mostram uma diferença impressionante entre o cenário deste ano e a realidade de 2009 referente ao comportamento dos preços do álcool no DF. Em julho de 2009, o etanol era vendido a uma média de R$ 1,73 nas bombas, valor 9,2% mais caro do que a média deste ano e equivalente a 65,2% do preço da gasolina, então comercializada a R$ 2,65.

Queda maior

Outra comparação com 2009 chama a atenção. Naquele ano, entre abril e julho, o valor do álcool na bomba ajustou-se ao aumento de oferta pós-safra e recuou 5,9%, de R$ 1,84 para R$ 1,73, movimento considerado natural. Em igual período deste ano o preço passou de R$ 2,15 para R$ 1,85, um decréscimo de 13,4%. Na média nacional, de abril a julho deste ano, o preço do produto recuou 9,5%. Mesmo assim, o biocombustível não se tornou competitivo no mercado brasiliense.

Abdalla Jarjour, proprietário da rede Jarjour, conhecida no DF por cobrar sempre R$ 0,01 ou R$ 0,02 abaixo do mercado, afirma que não haverá redução do valor do álcool na bomba enquanto as distribuidoras não repassarem algum barateamento para o mercado. Ele acredita que haverá redução antes do fim da safra. Um palpite do empresário para a demora em baixar o valor do etanol em plena safra é que as revendedoras ainda estão com o produto comprado na entressafra, a preços altos. “Se for esse o caso, elas não vão baixar enquanto não terminar esse estoque. Do contrário, teriam prejuízo”, afirma.

O Correio entrou em contato com o presidente do Sindicato do Comércio Varejista de Combustíveis Automotivos e de Lubrificantes do Distrito Federal (Sinpetro-DF), José Carlos Ulhôa, mas se ele recusou a comentar o assunto.

Devido a despesas de frete, diferença no preço dos terrenos e alíquota mais alta do ICMS, as distribuidoras vendem a preços mais altos para os donos de postos do DF”

André Rocha, presidente do Sindicato da Indústria de Fabricação do Álcool do Estado de Goiás

Tributo local pesa no valor

O presidente do Sindicato da Indústria de Fabricação do Álcool do Estado de Goiás (Sifaeg), André Rocha, afirma que o DF , apesar de vizinho do estado, grande produtor de cana-de-açúcar, enfrenta diversas desvantagens referentes ao etanol. “Devido a despesas de frete, diferença no preço dos terrenos e alíquota mais alta do ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias), as distribuidoras vendem a preços mais altos para os donos de postos do Distrito Federal”, comentou.

A alíquota do ICMS para o etanol no DF, que compra boa parte de sua produção de Goiás, é de 25%. Segundo a tabela da ANP, na última semana de julho, as revendedoras de combustíveis venderam álcool a R$ 1,58 para o DF e a R$ 1,08 para o estado vizinho. Lá, o derivado da cana-de-açúcar fica entre R$ 1,11 e R$ 1,17 nas bombas.

Inviável

A servidora pública Fabiana Ferreira, 30 anos, tem carro flex e, por ela, abasteceria sempre com etanol. A escolha, porém, não tem sido economicamente viável nos últimos meses. Antes de parar no posto, ela costuma verificar os valores e fazer as contas para saber por qual combustível optar. Ontem, encontrou, na Asa Sul, o litro do álcool a R$ 1,83 e o da gasolina a R$ 2,67. Com o ponteiro na reserva, decidiu encher o tanque com etanol. “Quase não existe diferença de preço aqui em Brasília. Prefiro usar álcool, mas é difícil achar um posto onde, fazendo as contas, vale a pena optar por ele”, comentou.

A cada dois dias, o taxista José Morais de Matos, 71 anos, precisa abastecer. No posto em que tem desconto, paga R$ 1,74 pelo litro do álcool e R$ 2,54 pelo da gasolina. “Ainda é muito caro. O preço do álcool tinha que baixar pelo menos mais uns R$ 0,04 para valer a pena de verdade”, disse ele, que comprou carro flex por ser um defensor do etanol, menos poluente que a gasolina. “Não entendo isso”, completou.