Jornal do Commercio – RJ
Álcool está prestes a recuperar primazia
O consumo de álcool no Brasil está em movimento de recuperação e este mês voltará a superar a gasolina na preferência dos motoristas, permanecendo assim ao longo do ano.
A avaliação é do diretor-executivo da União da Indústria de Cana-deAçúcar (Unica), Eduardo Leão de Sousa (foto). Em dezembro passado, o consumo de etanol no Brasil havia sido 10% superior ao de gasolina.
Após a virada do ano, porém, a situação se inverteu. O consumo de etanol nos meses de janeiro, fevereiro e março, foi inferior ao de gasolina em 26,3%, 33,1% e 25,4%, respectivamente.
A cana-de-açúcar, hoje em dia, é sinônimo de sustentabilidade. A cultura não só é rentável para o produtor como é a principal matéria-prima para a produção de biocombustível brasileiro. A importância da cultura na economia nacional é enorme. O Brasil é o maior produtor e exportador de cana do mundo. Novas tecnologias como a cana crua, que faz a colheita sem queima, e a utilização dos resíduos de produção como adubo orgânico são mais um incentivo ao aspecto sustentável da cultura, que é tão importante para o país.
No Brasil, nós temos focalizado mais a produção de combustíveis na cana-de-açúcar. Essa é uma escolha muito feliz, porque a cana-de-açúcar tem várias vantagens em relação a outras culturas. Ela é uma planta muito bem adaptada ao Brasil, produz grande quantidade de material vegetal que podem ser transformados em combustível. É uma planta eficiente no uso da água, eficiente no uso de fertilizantes e insumos para a produção agrícola. Talvez seja a planta mais eficiente para captar esta energia solar. Ela é muito mais eficiente para utilizar água, então com a mesma quantidade de chuva ou de irrigação ela produz uma quantidade maior de material vegetal transformado em combustível do que qualquer outra espécie. Para produzir a mesma quantidade de etanol de milho (cultura utilizada nos EUA) são gastos três vezes mais fertilizantes do que para produzir esta mesma quantidade com cana-de-açúcar — explica Heitor Cantarela, pesquisador do Instituto Agronômico de Campinas e membro da coordenação do Programa Fapesp de Pesquisa em Bioenergia.
Além da vocação nata da cana-de-açúcar para a produção de energia limpa, algumas tecnologias aplicadas no campo também contribuem para a sustentabilidade. A adoção da cana crua, que é a colheita sem queima, é uma nova tecnologia que permite um grande aporte de matéria orgânica, de resíduos no solo e acaba enriquecendo o solo com o tempo, segundo o pesquisador. Fato de a cana não ser queimada também faz com que os nutrientes que estão presentes na palha e virariam cinza permaneçam no solo. Com isso, o agricultor economiza no gasto com fertilizantes. Cantarela diz que outra tecnologia sustentável é a transformação de resíduos do processamento da cana, como vinhaça e torta de filtro, em adubo orgânico. Novamente, o produtor enriquece o solo e gasta menos com fertilizantes comerciais.
É importante o agricultor saber que quando ele está plantando cana-de-açúcar ele não só está plantando uma cultura que lhe dá renda como está contribuindo para a economia do país e com o meio ambiente em nível global. É uma planta que ajuda a combater os gases de efeito estufa e tem várias vantagens do ponto de vista econômico e ambiental. Felizmente para o Brasil é uma cultura muito bem adaptada às nossas condições — comemora Cantarela.