Mercado

Brasil prepara etanol de 2ª geração a partir de caprinos

O etanol de 2ª geração deve ganhar nos próximos anos mais um contribuinte natural. A descoberta está ligada aos caprinos (bodes e cabras), que há cerca de dois anos tornaram-se alvos de pesquisas de profissionais de Brasília e do Ceará. O Brasil não está só, e países como França (opera com cupim) e Austrália (opera com Wallaby, um canguru menor) também integram esse cenário de alternativas à produção de biocombustíveis. “O caprino ingere as folhas ou os restos de vegetação para se alimentar. No rúmen, os microorganismos degradam o alimento – processo conhecido como quebra das fibras – em unidades de glicose que é fermentada e convertida em etanol”, diz Betania Quirino, pesquisadora da Embrapa Agroenergia do Distrito Federal.

Complexa, a pesquisa é desenvolvida no Ceará com caprinos da raça moxotó. Marco Bonfim, pesquisador-chefe da Embrapa Caprinos e Ovinos do Ceará, disse que o processo é feito através de uma cirurgia. “Nós fazemos uma pequena operação, chamada fistularuminal, a qual dá acesso direto ao estômago do animal. Retiramos as enzimas, degradadas. A partir daí, torna-se possível extrair o álcool para a produção de biocombustíveis”, diz Bonfim.

O procedimento é feito somente uma vez, porém, é introduzido no animal uma cânula (espécie de tampão), permanente para retirada da matéria. De acordo com o pesquisador, o bagaço da cana-de-açúcar é misturado na matéria-prima coletada. Bonfim afirmou ainda que o trabalho não é prejudicial à saúde dos caprinos.

No entanto, não é qualquer raça de caprinos que faz parte do programa de pesquisa. Bonfim explicou que a raça moxotó foi escolhida porque é nativa e se alimenta da vegetação do semi-árido nordestino. Segundo o pesquisador, esses animais são mais resistentes e têm melhor alimentação, fato que influencia no rompimento da fibra.

Os bodes e cabras são conservados na própria sede da entidade, e a matéria-prima é enviada a um laboratório da Universidade Católica de Brasília (UCB), parceira dos órgãos governamentais. A Universidade de Brasília (UnB) também disponibiliza um centro para as pesquisas.

Depois da quebra das fibras, inicia-se um outro trabalho específico. Com qualquer planta que possua celulose (açúcar), conforme atesta Betania, é possível obter etanol. “Mas, para isso, tem que degradar porque é uma molécula de açúcar complexa”, disse. A pesquisadora ainda completa: “Procuramos enzimas que sejam capazes de degradar as paredes das plantas liberando, então, o açúcar simples que a levedura consegue tornar em etanol”.

O projeto Metagenoma apresenta um estudo diferente do já praticado. “Normalmente, os pesquisadores estudam os microorganismos através do cultivo. O Metagenoma é uma técnica independente de cultivo, a qual se extrai o DNA desses microorganismos, e a partir disso [DNA], codificamos toda informação necessária para caracterizar as enzimas! “, explicou a pesquisadora da Embrapa.

Segundo Betania, o processo usual de cultivo corresponde a 1% dos microorganismos da natureza. “Imagina o quanto se pode descobrir dos outros 99%? É um universo a ser explorado”, completou.

O programa é inicial e, de acordo com Betania, resta caracterizas as enzimas e otimizar o processo de produção de etanol de 2ª geração. Durante dois anos, a instituição decifrou quatro modelos de enzimas. Para Bonfim, antes de comercializar, os laboratórios precisam produzir o etanol em escala industrial.

Safra de etanol

A safra 2008/2009 teve produção de 24,3 bilhões de litros de etanol, sendo 83% destinados ao mercado interno. Segundo a Agência Nacional de Petróleo, (ANP), no ano passado, foram comercializados no País 22,82 bilhões de litros de etanol, um aumento equivalente a 16% em relação a 2008.

Atualmente, o álcool dos postos de gasolina, produzido a partir da cana-de-açúcar, é considerado etanol de 1ª geração.

Outra cultura que é possível ao uso do etanol de 2ª geração é o sorgo, conforme matéria já publicada pelo DCI. Segundo a Embrapa Milho e Sorgo, são necessários investimentos em torno de 2 milhões de reais para adequar os laboratórios e adquirir equipamentos, como colheitadeiras. No Brasil, há cerca de 900 mil hectares plantados com sorgo granífero, utilizado, principalmente para alimentação de suínos e aves, além de ser usado na produção de farinha. Ainda segundo a entidade, para este ano é esperado 12 hectares de sorgo sacarino, no período que será complementar ao da produção de cana-de-açúcar.

O etanol de 2ª geração deve ganhar nos próximos anos mais um contribuinte natural: a descoberta está ligada aos caprinos (bodes e cabras), que há cerca de dois anos tornaram-se alvo de pesquisas de profissionais de Brasília e do Ceará. No entanto, o Brasil não está só, e países como França -com o cupim- e Austrália -com o Wallaby, um canguru menor- também integram esse cenário de alternativas à produção de biocombustíveis. “O caprino ingere as folhas ou os restos de vegetação para se alimentar. No rúmen, os microorganismos degradam o alimento em unidades de glicose que é fermentada e convertida em etanol”, afirma Betânia Quirino, pesquisadora da Embrapa Agroenergia do Distrito Federal. Complexa, a pesquisa é desenvolvida no Ceará com caprinos da raça moxotó.