Mercado

Aepet critica setor sucroalcooleiro

A importação de gasolina pela Petrobras, depois de quase 40 anos de autonomia, sob o pretexto do excesso de chuvas na Região Sudeste e do uso de boa parte da safra de cana para fabricação de açúcar, o que afetou a produção de álcool combustível, acendeu a luz de alerta no gabinete do presidente da Associação dos Engenheiros da Petrobras (Aepet), engenheiro Fernando Siqueira. “Não é uma compra significativa, mas evidencia a falta de confiabilidade do mercado consumidor no pessoal que produz etanol no Brasil”.

Siqueira mostra profundo desapontamento com os produtores do setor sucroalcooleiro. “A sorte deles é o surgimento do carro flex, senão o carro a álcool, que já respondeu por 95% do mercado nacional, teria desaparecido”, diz, sem esconder a decepção com a cadeia produtiva do açúcar e do álcool.

A iniciativa da Petrobras! , na opinão de Siqueira, é pontual e representa a compra de 2 milhões de barris produzidos na Venezuela, menos de 3% da produção nacional diária. Segundo nota da empresa, “para os meses subsequentes, a Petrobras está avaliando a necessidade de importação e, se existente, estimará o volume a ser importado”.

A gasolina importada faz parte do esforço para baixar o preço do etanol no mercado interno, porque as sucessivas altas afugentaram o consumidor que tem a opção de abastecer o tanque do carro com gasolina. No dia 11 de janeiro, o governo já havia reduzido de 25% para 20% a adição de etanol anidro na gasolina para “amenizar a disparada de preços”, segundo o Ministério de Minas e Energia.

“A questão é que o Brasil tem um mercado cativo de álcool combustível, mas não tem visão estratégica”, reclama o presidente da Aepet. “Este ano, além das chuvas por aqui, houve a estiagem na Índia, que provocou a retração da oferta de açúcar no mercado internacional. Aí, passamos a ! produzir açúcar e deixamos de lado o etanol. Não existe uma política de Estado para o setor, que é vital ao desenvolvimento do mundo inteiro”.

Ele aponta outro sinal da falta de determinação oficial na questão: a fusão da Shell com a Cosan, maior produtora brasileira de etanol. Segundo ele, está havendo uma desnacionalização progressiva do álcool brasileiro, seja pela compra estrangeira de terras de cultivo de cana no país, seja pela joint venture anunciada no primeiro dia deste mês.

Siqueira cita as reservas mundiais de petróleo conhecidas como o sinal mais grave de que novas fontes terão de ser, obrigatoriamente, encontradas. Lembra que os Estados Unidos, com 30 bilhões de barris de petróleo em reservas, goza de relativa tranquilidade por pelo menos três anos. As informações são da Agência Brasil.