Mercado

Com preços em alta, consumo de etanol despenca

O consumo de etanol não resistiu aos altos preços e despencou em janeiro. Segundo dados do Sindicato das Empresas Distribuidoras de Combustíveis e Lubrificantes (Sindicom), as vendas do combustível pelas maiores companhias do setor caíram 25%, na comparação com janeiro do ano passado. Se comparada a dezembro de 2008, quando o consumo bateu recorde, a queda é de 40%. A mudança no mercado já reverteu a curva de alta nos preços do hidratado nas usinas de São Paulo.

A queda nas vendas é reflexo direto da disparada do preço do etanol, que subiu 11,06% na primeira quadrissemana de fevereiro, segundo a Fipe ? em janeiro já havia registrado alta de 12,93%. “Apenas na semana passada, minha distribuidora repassou uma alta de 10%”, comentou o presidente da Federação Nacional do Comércio Varejista de Combustíveis (Fecombust! íveis), Paulo Miranda. Nas bombas, o etanol hoje só é competitivo em relação à gasolina no Mato Grosso, que é grande produtor do combustível.

Mesmo em São Paulo, maior produtor nacional, vale à pena hoje usar a gasolina. “Tenho um carro bicombustível e só uso gasolina há semanas”, conta o presidente do Sindicato do Comércio Varejista de Derivados de Petróleo de São Paulo (Sincopetro), José Alberto Paiva Gouveia. As vendas de etanol no Estado continuam altas, diz ele, mas num ritmo menor do que o verificado no ano passado. “Ainda não houve uma migração total para a gasolina”, destacou.

As vendas de etanol hidratado cresceram 23,9% em 2009, informou ontem a ANP, desempenho creditado a uma combinação entre baixo preço durante o ano e crescimento na venda de carros bicombustíveis. Em dezembro, o consumo do produto atingiu o recorde histórico de 1,509 bilhão de litros no País. A manutenção desse ritmo poderia provocar desabastecimento ao final da entressafra, em março.

Além de garantir produto até o início da colheita, a redução nas vendas já provoca reflexos nos preços. Dados do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), da USP, mostram que o etanol hidratado fechou a semana passada a R$ 1,16 nas usinas de São Paulo, na segunda semana consecutiva de queda. O valor é 3,33% inferior à máxima do ano, na penúltima semana de janeiro, de R$ 1,20.

“O consumo vinha crescendo a uma taxa superior a 20% ao ano e agora cai de forma bastante acentuada”, destaca o diretor do Sindicom, Dietmar Schupp. A entidade defende a regulação do mercado pelo consumidor, que tem a opção de comprar o combustível mais barato, em vez de medidas intervencionistas do governo.

A redução do consumo de etanol já começa a provocar desafios logísticos. Em substituição ao etanol, o consumo de gasolina cresceu 17% em janeiro, na comparação com o mesmo mês do ano anterior, segundo estimativas do Sindicom. Com isso, as distribuidoras estão sendo obrigadas a transportar mais gasolina para mercados onde há grande alta do consumo. É o caso da Refinaria Gabriel Passos, em Betim, que está operando no limite da capacidade, com necessidade de importação de gasolina de outros Estados para Minas Gerais.

BALANÇO

A ANP informou ontem que o mercado consumidor de combustíveis no País cresceu 2,7% em 2009, atingindo 108,8 bilhões de litros. “Apesar da crise, são números que mostram a exuberância do mercado”, avaliou o diretor da agência reguladora Alan Kardec, para quem o Brasil se destacou no mundo, já que “outros países tiveram queda no consumo”. A expectativa para 2010, segundo Kardec, é de crescimento acima do PIB, superando o bom desempenho de 2008, quando aumentou em 9% em relação ao ano anterior.

O etanol hidratado foi o que teve o maior crescimento, atingindo 16,471 bilhões de litros, enquanto a gasolina teve acréscimo de apenas 0,9%. Considerando também o anidro adicionado à gasolina, o consumo total de etanol c! hegou a 22,823 bilhões de litros, um aumento de 16,5% sobre o ano anterior.

Um dos destaques do mercado, segundo o diretor, a performance do diesel: apesar de apresentar uma queda de 1% em seu consumo em relação ao ano de 2008, a demanda foi considerada “razoável”, já que o ano teve uma retração na indústria.