Quando Mário Barbosa deixou a presidência da Fosfertil e foi contratado por Alberto Weisser, em 1996, o CEO da Bunge deixou claro que sua principal missão era passar para frente as operações de fertilizantes do grupo no Brasil, concentrados na Serrana, administrada separadamente.
Barbosa, que começou em fertilizantes na Manah, companhia criada por seu sogro, Fernando Penteado Cardoso – hoje com 95 anos e na ativa – não obedeceu e convenceu Weisser que o melhor era comprar, e não vender.
Weisser escutou Barbosa (irmão de Fábio Barbosa, presidente da Febraban), e entre 1996 e 2000 marcas como Fertisul, IAP, Ouro Verde e a própria Manah passaram ao controle da Bunge. Consolidava-se a liderança que a empresa construiu no país na área e que continuará a ter nas vendas de adubos para os agricultores, em que seu “market share” é de 30%.
Como a Vale agora, Mário Barbosa mirava a! s participações que as companhias adquiridas tinham na Fosfertil e, consequentemente, no controle da produção de matérias-primas para adubos no país, que continua fortemente dependente de importações.
Catorze anos depois, com o fôlego da Bunge para novos investimentos que exigem enormes aportes de capital mais curto, Barbosa não conseguiu evitar a venda, ainda que Weisser não se arrependa por ter cedido aos argumentos daquele que se tornou o principal executivo da Bunge no Brasil nos últimos anos.
“Mário [que não concedeu entrevista] fez um trabalho fantástico. A criação de valor nesse período foi imensa, e ainda ficamos com a liderança no varejo. Só essa participação nas vendas finais vale mais, hoje, do que todo o setor há 14 anos”, disse Weisser ao Valor.
O negócio fechado com a Vale na manhã de ontem consolida uma reestruturação de negócios e gestão acelerada pela Bunge nos últimos anos, marcada pela manutenção de gastos em áreas originais de atuação c! omo soja e trigo, maior foco em logística, principalmente portos, fortes investimentos em um novo segmento – açúcar e álcool – e a integração de todas as atividades no país, que culminou com a contratação do ex-ministro Pedro Parente como CEO da Bunge Brasil.
Nessa estratégia, os investimentos anunciados pela multinacional no país, excluindo as promessas na área de fertilizantes, superaram R$ 5 bilhões do início de 2008 para cá, incluindo os US$ 1,5 bilhão acertados pela aquisição das usinas sucroalcooleiras do grupo Moema, a mais recente tacada de peso. Em 2008, o faturamento consolidado da múlti no Brasil, incluindo adubos, chegou a R$ 31,7 bilhões.
“Nosso foco mais importante no Brasil no momento é açúcar e álcool”, afirmou Weisser. Com as apostas recentes, a Bunge já é a terceira maior empresa do segmento sucroalcooleiro do país.
Segundo o CEO, os investi! mentos na prospecção de novas jazidas de fosfato são vultosos e de alto risco, e por isso a tendência nos últimos anos tem sido uma participação cada vez maior, nessa frente, de grandes mineradoras como Vale e BHP Billiton, empresas com enorme fluxo de caixa.
Weisser garante que a decisão de vender ativos de fertilizantes no Brasil neste momento não tem relação com o cenário difícil e a queda dos resultados globais da Bunge, como sustentam analistas e concorrentes. “Tivemos um ano difícil, mas estamos otimistas para 2010”, afirmou o executivo brasileiro. (FL)