Apesar de a tempestade no segmento sucroalcooleiro já estar no fim, a bonança parece distante. Um novo boom de investimentos é esperado somente a partir de 2011. Assim, as indústrias fabricantes de usinas e equipamentos aguardam para 2010 um ano de recuperação “homeopática”. Alguns projetos parados dão sinais de lenta retomada. Renegociações de débitos ganham ritmo, e a expectativa é que o capital venha de grandes players consolidadores, que devem melhorar as unidades adquiridas, e também de outras indústrias do ramo, que estão agora recebendo recursos que estavam estancados nas instituições financeiras.
A Dedini Indústria de Base, líder neste mercado, espera vender algo próximo a R$ 1,3 bilhão em 2010, o que representa crescimen! to de 20% a 25% em relação ao retraído ano de 2009. O valor considera projetos em carteira e os que devem entrar ao longo do ano. No auge dos investimentos sucroalcooleiros no Brasil, em 2007, a Dedini chegou a vender R$ 3 bilhões em usinas e equipamentos em um único ano.
Os problemas financeiros estão sendo solucionados no ritmo “conta gotas”, mas avançam. “A dívida líquida das usinas é menor do que estava no começo do ano. Algumas saídas foram encontradas com as consolidações”, diz o CEO da Dedini, Sérgio Leme. Ele estima que o número de contratos em atraso caiu 50% do início para o fim de 2009. “Há ainda outra metade em fase final de negociação, com possibilidade de alongamento de prazo e recebimento. Certamente, esses players mais sólidos estão trazendo mais liquidez ao setor”.
A renegociação também passou pela Sermatec, a segunda maior fornecedora de usinas do país, mas ainda há um grande volume para voltar à ! mesa em 2010. “Nossos clientes conseguiram empréstimos-ponte e nos procuraram. Mas acreditamos que a maior parte será renegociada a partir de março”, diz o diretor-presidente da empresa, Antônio Carlos Christiano.
Com esse fôlego, a Sermatec, que tem participação de 40% no mercado de caldeiras para usinas sucroalcooleiras, seu carro-chefe, conta com vendas ao exterior para alavancar seus negócios em 2010. As exportações, que há dois anos representavam de 10% a 15% das vendas, podem atingir 50% neste novo ano, segundo Christiano. A indústria, que vendeu “ínfimos” R$ 100 milhões em 2009 – esse montante atingiu R$ 500 milhões no boom do etanol -, espera bater em 2010 R$ 600 milhões, graças a esperados embarques ao exterior. “Temos clientes em Angola, na Argentina e na Colômbia. As vendas externas podem até superar as do mercado interno”, aposta Christiano.
Apesar do abatimento em 2009 – a Sermatec demitiu 750 dos 2 mil funcionários que tinha em seu quadro – Christiano não perde o bom humor ao se referir aos últimos 12 meses. “Foi um bom ano…para ser esquecido”. A empresa também chegou a ter ociosidade de 50% no primeiro semestre. “Por isso, no segundo fomos atrás de trazer de volta os contratos que estavam suspensos para nos devolver a carga de trabalho em 2010”.
O ano de 2009 também não é motivo de boas lembranças para a Dedini. A empresa chegou a demitir 15% de seu quadro de funcionários e, agora, com o período de manutenção das usinas sucroalcooleiras na entressafra, recontratou, mas ainda fecha a temporada com um saldo negativo de demissões de cerca de 10%. “No primeiro semestre, o uso da nossa capacidade instalada chegou a apenas 50%. Devido à leve recuperação no fim do ano, estamos com uma média anual de 70%”.
A Dedini, que também é exportadora, ainda tem muito foco no segmento de açúcar e álcool, apesar de nos últi! mos quatro anos ter diversificado seu portfólio com os segmentos de mineração, saneamento e hidroenergia. “Em 2007, de 75% a 80% da nossa carteira eram sucroalcooleira. Atualmente, esse volume está em 40%”, afirma.
As perspectivas positivas para o ano também têm o aval do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), que espera emprestar em 2010 R$ 6 bilhões a segmento, como em 2009.