O secretário do Meio Ambiente do Estado de São Paulo, Xico Graziano, já está de malas prontas para viajar junto com a comitiva brasileira para Copenhague, onde serão discutidas propostas para redução da emissão de gases causadores de efeito-estufa. Apesar das promessas dos principais países poluidores de chegar à Dinamarca com metas para a diminuição da emissão de CO2, o engenheiro agrônomo não está empolgado com as negociações dos termos da segunda parte do Protocolo de Kyoto: “Será um processo muito complicado, de alto grau de enrolação”. Nesta entrevista, concedida em seu gabinete em São Paulo, o ex-presidente do Incra (1995) acredita que as práticas de sustentabilidade só farão sentido para o mundo se elas estiverem atreladas a interesses econômicos. “Ninguém produz etanol porque é ecologista. O etanol é produzido porque dá dinheiro”, exemplifica. Leia abaixo os principais trechos da entrevista:
EXAME – Qual será o maior prejuízo das mudanças climáticas para o Brasil caso o país não adote posturas mais rígidas de preservação do meio ambiente nos próximos anos?
Xico Graziano – O governo federal não tem a visão de que o enfretamento da agenda das mudanças climáticas criará novas oportunidades para a economia brasileira ao invés de se opor ao crescimento. Eu acho que ainda prevalece no governo federal a visão conservadora de que essa agenda é restritiva ao crescimento. A minha visão não é essa. A agenda de descarbonificar a economia vai criar novas alternativas de um novo padrão que tem a ver com novas empresas – ou com as empresas atuais, se elas renovarem suas tecnologias. O etanol é energia renovada e está gerando empresa e renda. Infelizmente, o presidente Lula ainda cede ao lobby do petróleo e dos setores mais conservadores da economia, permanecendo de mãos atadas.
EXAME – Há estimativas de que, para o Brasil, o custo da negligência com o meio ambiente seja de 3,6 trilhões de reais até 2050.
Xico Graziano – E é um prejuízo e tanto, não acha? Sem contar os impactos naturais no país. O nível dos oceanos poderá subir. Podemos ter problemas de zona litorânea, não como a Índia terá, ou como as ilhas pacíficas terão. Mas vamos ter problemas desse tipo. A savanização da Amazônia também é projetada. A desertificação do nordeste, idem. Serão terríveis as conseqüências…
EXAME – O senhor acha que um dos motivos da savanização da Amazônia é a falta de fiscalização?
Xico Graziano – Acho que falta mais manutenção de uma economia numa região onde vivem 25 milhões de pessoas, voltadas às atividades madeireiras, agropecuárias e de subsistência. É claro que falta fiscalização porque cada vez mais existe roubo de madeira. Mas faltam alternativas econômicas para essas famílias, que há 100 anos estão vendendo móveis como este (bate com a mão direita em sua mesa de madeira).
EXAME – Quais seriam essas alternativas econômicas?
Xico Graziano – Temos de criar um bolsa-floresta para remunerar essa população…
EXAME – Como assim?
Xico Graziano – Ao invés da pessoa fazer serralheria, ela teria outra atividade de subsistência oferecida pelo governo. É claro que não dá para ignorar que a madeira é exportada e rende dólar para o Brasil. Mas temos de pensar em uma forma de substituir a economia atual na região por outra mais eficaz, ecologicamente falando.