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É hora de se mexer a favor do clima

É hora de se mexer, tanto individualmente quanto pressionando governos e empresas, para reduzir os efeitos das mudanças climáticas sobre o planeta.

Essa é a mensagem que o documentário “Zugzwang”, dirigido por Duto Sperry, deixou para a plateia do Encontros O Globo/Razão Social, semana passada. O filme, exibido no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), no Rio, precedeu um debate sobre as energias renováveis e o controle de emissões de gases de efeito estufa com o professor Eduardo Viola, da Faculdade de Relações Internacionais da Universidade de Brasília.

“Zugzwang” significa em alemão “compulsão pelo movimento” e se refere ao jogo de xadrez quando ele determina que é a vez de se jogar. Com imagens expressivas e palavras de especialistas e pessoas comuns, o filme mostra como o aquecimento global afeta a vida de todos e sua reversão depende de mudanças nas fontes de energia usadas e nos hábitos de consumo.

— O planeta é limitado. Nosso consumo tem que ser limitado — diz no filme a ambientalista Vandana Shiva, que ainda alerta para o fato de que o biocombustível não pode afetar a produção de alimentos.

O professor Viola, um dos especialistas que fala no filme, diz que parar o desmatamento também é fundamental dentro de uma economia de baixo carbono.

Na conversa com a editora da Razão Social, Amelia Gonzalez, e a plateia do CCBB, Viola ratificou: — O desmatamento na Amazônia sempre pareceu uma maldição, mas nos últimos anos tem diminuído por conta de algumas ações do governo, só faltavam metas e agora temos. Não é à toa que 25% da redução de emissões a que o Brasil está se comprometendo agora são a partir da proteção da floresta — disse Viola.

Ele acrescenta que essa mudança de visão se deve à pressão de coalizões empresariais e a out! ros fatores, como a candidatura da senadora Marina Silva (PV), que deu mais força para as ações do ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc. E o professor frisou que a meta brasileira de redução de emissões é a segunda melhor entre as apresentadas até o momento pelos países em desenvolvimento, sendo superada apenas pela da Coreia do Sul.

— Sem as metas de agora, o Brasil teria, em 2020, 36% a mais emissões do que em 2005. Com a redução, chegaremos aos mesmos níveis de 2005, ou 5% a menos — disse Viola.

O especialista acredita que uma solução viável para o Brasil é taxar as emissões de carbono, como já acontece em outras partes do mundo. E essa taxação, para dar certo, teria que acontecer através de leis. Se as metas do Plano Nacional de Mudanças Climáticas se tornarem leis, há mais chances de avanços nessa área.

Na opinião de Viola, a Conferência de Copenhague será um fracasso se comparada com o que era esperado na posse do presidente norte-americano Barack Obama. Ape! sar disso, ele ainda acredita em sua relevância: — As negociações continuam centrais.

É realmente fundamental que os três atores responsáveis por quase 60% das emissões de carbono do mundo cheguem a algum acordo: a União Europeia (com 16% das emissões mundiais), os Estados Unidos (com 20%) e a China (com 23%). Já vemos mudanças na China, que ainda polui muito, mas teve várias mudanças em sua política energética nos últimos dois anos. (No dia seguinte, a China anunciou que vai cortar de 40 a 45% de suas emissões de CO2 em relação ao tamanho do PIB até 2020.) Na plateia, o professor de Geografia Leonardo Benvindo questionou o fato de o Brasil investir pouco em energias eólica e solar, massificando muito as hidrelétricas: — Não é um paradoxo a atitude brasileira de inundar florestas com hidrelétricas enquanto diz reduzir o desmatamento? Viola confirma que as hidrelétricas já foram muito desastrosas para áreas de florestas, contribuindo inclusive para a emissão de metano, que é 2! 1 vezes mais poluente que o dióxido de carbono. Mas informa que agora as hidrelétricas não estão sendo mais construídas assim, que há um cuidado para se retirar a biomassa antes da inundação, concorda que as energias eólica e solar podem ser consideradas mais como energias do futuro do que os biocombustíveis. E compara também essas fontes pelo aspecto social: — A energia da cana, por exemplo, dá emprego, mas é um emprego muito ruim e ainda causa queimadas (a cana é queimada para permitir que os trabalhadores façam o corte manual).

Já a solar e a eólica geram empregos verdes, com uma mão de obra mais qualificada.

Preocupado, o engenheiro Carlos Moreira, que assistia ao debate, questionou o motivo de o governo, após a descoberta do pré-sal, não falar mais em biocombustível.

— O discurso mudou mesmo. E tem a questão de que o biodiesel de soja ainda tem a imagem muito ligada ao desmatamento da Amazônia, enquanto os de outras fontes têm demonstrado problemas de eficiência econômica.

Mas é preciso esclarecer que biocombustível não estraga, como já foi dito por aí — disse Viola.

O professor aplaude ainda outras ações do governo como, por exemplo, a redução do IPI dos automóveis que usam etanol ou têm baixa cilindrada para se reduzir as emissões influenciando o consumo. Mas na verdade, em vez de subsidiar a venda de carros, acredita que o ideal seria investir em meios de transportes mais limpos, como ferrovias. Amelia Gonzalez complementa: — Não adianta só mudar o combustível, as fontes de energia. Paralelo a isso é preciso mudar hábitos de consumo e de vida.