O momento do país, devido à campanha eleitoral precipitada, não favorece grandes decisões. Mas há questões que talvez não possam esperar, já que vão formatar a feição econômica e social do país nos próximos anos, envolvem decisões que valem centenas de bilhões de reais e há riscos de que os resultados não sejam os esperados.

A exploração do petróleo do pré-sal, a prioridade ao etanol como combustível alternativo no mundo, o financiamento de longo prazo do crescimento econômico daqui para frente e a valorização do real são tais questões inadiáveis tratadas como resolvidas. Não estão.

As decisões tomadas, como formar reservas cambiais sem fim, agora já de US$ 231,3 bilhões, para tentar, sem grande sucesso, conter a queda livre do dólar, ou a tomar, como o novo modelo de exploração para o pré-sal, que poderá exigir investimentos de US$ 500 bilhões em 10 anos, por aí, não estão bem resolvidas. Talvez nem estejam bem formuladas, já que, no mais das vezes, encaminhadas como temas axiomáticos, tão evidentes que dispensariam necessidade de prova.

É o que se julga, por exemplo, para o álcool como substitutivo de combustíveis derivados do petróleo, meio tão eficiente que deveria tornar-se um dos standards de energia limpa no mundo nos marcos da conferência das Nações Unidas sobre o clima, marcada para dezembro em Copenhague, Dinamarca. No Brasil, o álcool é sucesso absoluto, como atesta a preferência pelos veículos flex, que já representam mais de 90% de todos os modelos vendidos. Mas talvez fique por aí.

À margem da assembleia do Fundo Monetário Internacional (FMI) e do Banco Mundial, realizada este ano em Istambul, semana passada, técnicos brasileiros ouviram más notícias de um alto funcionário do governo japonês do primeiro-ministro Yukio Hatoyama, eleito no fim! de agosto, terminando com a hegemonia de quase cinco décadas ininterruptas do Partido Liberal Democrático.

O governo Hatoyama, segundo relato do funcionário japonês, tomou a decisão de adotar o carro elétrico como padrão a desenvolver no lugar dos motores a gasolina ou diesel, associada à substituição da geração termoelétrica a carvão ou óleo por centrais nucleares.

É uma decisão com enormes consequências não só para a indústria automotiva, da qual o Japão é carro-chefe, inclusive nos EUA, mas para o desenvolvimento das baterias elétricas, em que fabricantes japoneses também estão na liderança, a energia nuclear, idem com batatas, e o futuro do petróleo e do etanol de cana e de milho.

A QUESTÃO ESSENCIAL

O compromisso japonês com o corte de emissões de carbono antecede o governo do Partido Democrático do Japão de Yukio Hatoyama. O que ele fez foi ratificá-lo, colocando-o como independente do que sair da conferência de Copenhague. A meta pretendida é cortar 25% das emissões de carbono. Análise da Japan External Trade Organization, órgão oficial de apoio ao comércio exterior, diz que “a economia verde não é uma questão de custo, segurança ou inovação, mas de sobrevivência”, além de “essencial para a “recuperação da economia global”. O governo de Barack Obama dá a mesma dimensão ao assunto.

CHEGAMOS ATRASADOS?

Por aqui, no entanto, a questão ambiental é tratada como espécie de troca: os países ricos fazem sua parte e o governo entra com o controle das queimadas da Amazônia e créditos de carbono. Não é só a isso que se resume a questão climática. Ela já parece implicar a tomada de decisões estruturais, como a opção pelo carro elétrico, que impactam fundamentos de longo prazo do crescimento nacional.

O padrão do etanol, no quadro assumido pelo Japão, pode condená-lo a ficar insulado no Brasil, além de abortar o seu comércio como commodity e a variante do álcool de milho desenvolvida nos EUA. Ao pré-sal também implica questionamentos. Se emergir a tendência de substituição do petróleo, movida por sanções e metas estabelecidas pelo pacto de Copenhague, o modelo do pré-sal deverá ser outro – com ritmo mais intenso de exploração e menos investimento público.

AGENDA INTERDITADA

Nada disso está no centro das preocupações nacionais, como se vê pelas discussões sobre a modelagem do pré-sal na Câmara. A questão climática per si, fora das rodas de ativistas, é discutida como se fosse objeto de barganha internacional. Os problemas da economia, tipo real caro e o financiamento do investimento produtivo, então, estão na agenda como assuntos conjunturais, não sintomas de fim de ciclo do Estado esbanjador e do crescimento com poupança externa. É a nova agenda interditada do país, pelo menos até as eleições.