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ZAE Cana: setor se mobiliza para alterar projeto no Congresso

“Precisamos nos organizar e unir forças para alterar esse projeto no Congresso Nacional. Não podemos aceitar que um trabalho elaborado sem critérios técnicos embargue as melhores áreas para o cultivo da cana no país, freando o desenvolvimento do estado”, conclamou o vice-presidente da Federação da Agricultura e Pecuária de Mato Grosso (Famato), Normando Corral, durante Audiência Pública realizada na terça-feira (6) que reuniu diversas autoridades e produtores da área sucroalcooleira na Assembleia Legislativa, para a primeira discussão sobre o Zoneamento Agroecológico da Cana-de-açúcar, que proíbe o plantio da cultura em 81,5% do território brasileiro.

Em uma breve apresentação, o superintendente do Imea (Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária), Seneri K. Paludo, mostrou que a área de 243 mil hectares (ha) ocupada pela cana no estado emprega 16,7 mil trabalhadores diretos e 66,8 indiretos, gerando R$ 2,37 bilhões para a economia mato-grossense. Segundo Paludo, numa projeção de crescimento de apenas 5% no setor, os índices saltariam para 1,1 milhão de ha, com geração de 76,5 mil postos de trabalho diretos e 350 mil indiretos, elevando a receita para R$ 10,3 bi. “Mato Grosso está perdendo uma oportunidade única no caminho do desenvolvimento sustentável. Afinal, a tomada de decisão para definir o zoneamento é técnica, ambiental ou política?”, indagou.

Nas áreas técnica e ambiental, o professor Dr. Godofredo Vitti, da Esalq/USP, provou que o projeto não tem consistência uma vez que as áreas cultivadas em Mato Grosso apresentam excelentes condições agronômicas de plantio como: clima quente, úmido e seco, solos profundos e topografia plana. Isto, além das características sustentáveis que a produção apresenta, podendo utilizar cerca de 107 mil ha de áreas degradadas apenas na região de Juara (Médio-Norte). “O etanol de cana é capaz de reduzir em até 91% a emissão de gases de efeito estufa. Se a cana poluísse como pregam os ambientalistas o estado de São Paulo já estaria morto”, disse Vitti.

O ZAE proíbe a construção de novas usinas e a expansão do plantio em qualquer área da Amazônia, Pantanal, da Bacia do Alto Paraguai ou em vegetação nativa de outros biomas. De acordo com os novos critérios, a expansão da cana-de-açúcar poderá ocorrer em 7,5% de território nacional, no entanto para Mato Grosso este índice será zero. A proibição atinge 115 dos 141 municípios do estado, sendo que os 26 que não serão impedidos de produzir são grandes produtores de grãos e, por conta da segurança alimentar, não plantam cana.

“Queremos o direito de produzir em harmonia com o meio ambiente, pois não podemos ver tantas injustiças num setor que gera milhares de empregos e movimenta a economia de boa parte do estado. Deve-se lembrar que essa decisão se reflete na população urbana do país, que precisa de alimento, combustível, roupas, entre tantos outros produtos oriundos da agropecuária e fornecidos por Mato Grosso. Temos que partir para o enfrentamento e corrigir a legislação ambiental. Não é possível continuarmos nessa insegurança jurídica”, pontuou o deputado federal Homero Pereira.

O presidente da Assembleia Legislativa, José Riva, demonstrou preocupação com as atitudes que o Governo Federal vem tomando em relação a Mato Grosso. “Estamos extremamente preocupados, porque o zoneamento do Estado já tratou dessa questão com a sociedade mato-grossense e agora vem a exclusão de regiões que há mais de 25 anos estão consolidadas, causando penalidades ao produtor. Isso me estranha muito”, frisou.