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Estabilidade regulatória é essencial para atração de investimentos no setor energético, defende Ricardo Mussa

CEO da Raízen destaca necessidade de governança e previsibilidade no RenovaBio durante debate sobre transição climática no Brasil

Debate sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento na Fundação FHC (Foto: Fundação FHC – Vinicius Doti)
Debate sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento na Fundação FHC (Foto: Fundação FHC – Vinicius Doti)

O Brasil não deve adotar modelos externos de transição climática que estão distantes de sua realidade. Esta foi uma das principais conclusões do debate promovido pela Fundação FHC, neste mês, em contribuição à COP 30, que ocorrerá em Belém, em novembro de 2025. Durante o encontro, Ricardo Mussa, CEO da Raízen, defendeu que o país já está inserido no lado da solução para os desafios climáticos, mas destacou a necessidade de políticas públicas estáveis e eficazes para atrair investimentos e avançar em projetos de descarbonização.

“Não há dúvida de que o Brasil está do lado da solução para os problemas decorrentes da mudança climática, mas precisamos de legislações e políticas públicas adequadas para atrair mais investimentos externos e viabilizar bons projetos de descarbonização. O país também se vende mal lá fora, poucos conhecem nossos pontos positivos, enquanto os negativos são amplamente difundidos, prejudicando nossa imagem”, afirmou.

Um dos pontos centrais abordados por Mussa foi a necessidade de estabilidade nas regras do setor energético, tomando como exemplo o programa RenovaBio, criado em 2017 para incentivar o uso de biocombustíveis na matriz energética brasileira. O programa, baseado em metas nacionais de descarbonização e na compra de Créditos de Descarbonização (CBIOs), tem sido um motor essencial para o desenvolvimento do mercado de carbono no país.

“O RenovaBio é um mercado de carbono sofisticado, que se autorregula conforme a oferta de combustíveis renováveis. No entanto, para que funcione de forma eficaz, o programa precisa de boa governança e previsibilidade. Quando o governo interfere nas metas anuais, como ocorreu em 2022, isso prejudica a confiança e desestabiliza o sistema”, alertou.

O encontro também contou com a participação de Luciana Costa, diretora de Infraestrutura, Transição Energética e Mudança Climática do BNDES; Izabella Teixeira, ex-ministra do Meio Ambiente; e o economista José Roberto Mendonça de Barros. Os participantes destacaram que o Brasil possui características únicas no que diz respeito à transição climática e não deve adotar modelos externos sem considerar suas próprias particularidades.

Luciana Costa ressaltou que o Brasil já realiza sua transição energética há décadas e que, se o mundo estivesse na mesma posição do país, as discussões sobre aquecimento global teriam um tom diferente. “O setor energético brasileiro responde por apenas 18% das emissões de carbono do país, enquanto, no cenário global, essa cifra varia entre 65% e 70%. Não devemos importar problemas que não são nossos”, afirmou a diretora do BNDES.

Para que o Brasil realize todo seu potencial de ser líder global na transição climática, os participantes enfatizaram a importância da colaboração entre governo, setor privado, academia e sociedade civil. O desafio é superar a polarização atual em torno das questões ambientais e buscar soluções que equilibrem desenvolvimento econômico e sustentabilidade.

“O futuro exige um debate mais profundo e uma colaboração mais ampla entre todos os setores da sociedade para que o Brasil possa se posicionar como protagonista global na transição para uma economia de baixo carbono”, concluiu Mussa.