O mapa do plantio da cana-de-açúcar no Brasil ganhará uma nova forma. Desde a semana passada, com a publicação do Decreto presidencial nº 6.961, foi instaurado o zoneamento agroecológico da cultura. Mais do que uma restrição ao aumento desorganizado da área de cultivo da cana, a medida busca fomentar no setor sucroalcooleiro uma evolução tecnológica e comercial calcada na sustentabilidade, segundo defendem os especialistas envolvidos na sua elaboração. Agora, a cana-de-açúcar pode avançar por no máximo 63,4 milhões de hectares no País nos próximos anos. Em Pernambuco, a área de expansão é de cerca de 205 mil hectares.
O primeiro reflexo é no mercado externo do etanol. A União Europeia sempre fe! z ressalvas ao produto brasileiro sob a alegação de que parte da Floresta Amazônica era desmatada para aumento do plantio de cana-de-açúcar e que a segurança alimentar estava em xeque com o crescimento desmedido da lavoura. Essa posição refratária ao combustível nacional era o pontapé inicial para implementação de rígidas barreiras tarifárias nos países do Velho Continente.
Com a delimitação prevista por lei, não há mais como sustentar tal argumento, pois um dos pontos principais do zoneamento comprovou a possibilidade de se incrementar o cultivo de cana “sem afetar diretamente as terras utilizadas para a produção de alimentos” e respeitando os terrenos dos principais biomas brasileiros. Para tanto, foram excluídas da nova geografia de cultivo terras da Amazônia, Pantanal e da Bacia do Alto Paraguai (na parte sul da Região Centro-Oeste).
“Hoje temos cerca de sete milhões de hectares no Brasil para cana-de-açúcar. Desses, algo em torno de 3,5 milhões de hectares s! ão para produção de etanol. Nós estamos apontando mais 63 milhões para o aumento da produção, respeitando as questões ambientais. Tem área suficiente”, destacou Cid Caldas, coordenador-geral de açúcar e álcool da Secretaria de Produção e Agroenergia do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa).
Outra preocupação foi estimular a mecanização da lavoura, incluindo como área com potencial de expansão aquelas indicadas para suportar a colheita feita com máquinas. Geralmente, as melhores terras para tanto são as que apresentam poucos declives. “O ganho com isso não se restringe ao crescimento da produtividade. Há um componente importante na melhoria social, pois ao estimular a modernização do cultivo estamos ajudando a eliminar as condições precárias de trabalho no corte manual da cana. Há ainda a questão de redução nas queimadas e a consequente diminuição nas emissões de gás carbônico”, acrescentou o coordenador do zoneamento na Empresa Brasileira de Pesquisa Agro! pecuária (Embrapa), Celso Manzatto.
A pesquisa genética no setor também receberá incremento, segundo os técnicos. De maneira detalhada, o zoneamento apresenta no seu texto, a partir da qualidade do solo e clima dominante na região, quais terras são consideradas de alta produtividade e quais são de baixa. Com esses indicadores em mãos, o produtor saberá que variedade plantar. “Investirá no plantio de espécies com maior resistência a pragas e doenças, pois saberá o potencial do seu solo”, explica Manzatto.