Problemas climáticos durante o plantio e a colheita farão o Brasil acumular cerca de 50 milhões de toneladas de cana-de-açúcar em pé no final da safra 2009/2010. Segundo Antonio de Pádua Rodrigues, diretor técnico da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica), este volume de cana que deixará de ser processado reduzirá a produção nacional em mais de 2,5 milhões de toneladas de açúcar e 2 bilhões de litros de etanol, considerando o atual mix das usinas.
Além do produto deixado nas lavouras, a quantidade de Açúcar Total Recuperável (ATR) por tonelada de cana nesse ciclo deve ficar em 134,9 quilos, 4,3% inferior aos 140,9 quilos verificados na safra anterior. “Serão 6,5 milhões de quilos de ATR estocados no campo que podem ser transformados em açúcar e etanol”, afirmou o diretor da Unica.
Devido às chuvas atípicas durante o inverno a entidade revisou a moagem de cana estimada p! ara a Região Centro-Sul do País para 529,5 milhões de toneladas, 3,7% inferior à expectativa inicial e 4,9% superior à moagem verificada na safra anterior. Na primeira quinzena do mês de setembro, tradicionalmente o mais favorável à colheita, as usinas processaram 29,59 milhões de toneladas, inferior ao da mesma quinzena um ano atrás em 13,06%.
O excesso de chuvas reduziu o aproveitamento de tempo de moagem, resultando em uma perda de 11 dias efetivos nesta safra acima do total de dias perdidos na safra anterior. De acordo com informações da Unica, até o final de setembro, estima-se uma perda de 45 dias de moagem, contra 34 no mesmo período ano passado. A perda vem se acelerando desde junho.
Segundo Ivo Fouto, presidente da CanaVialis e Alellyx, as chuvas fora de época afetaram bastante a produtividade e reduziram a taxa de açúcar durante a maior curva de maturação da cana que ocorre, justamente, nesse período do ano. “Várias e grandes usinas ficaram paradas. Na época do plantio também houve interrupções. Isso vai afetar fortemente o mercado spot de açúcar”, avaliou Fouto.
O preço da commodity já subiu quase 50% nos últimos 30 dias, no entanto, isso não tem significado lucratividade para as usinas no País. De acordo com Fouto, a combinação de fatores do mercado neste ano foi complexa, levando a um custo operacional maior para a maioria das empresas. “Preços maiores não quer dizer operação sadia”, alertou. Segundo o executivo, as companhias continuam fazendo tratos mínimos, o que irá se refletir mais a frente.
De acordo com a Unica, já se sabe que o custo de produção aumentou nessa safra ao menos 5% que é percentual de queda na obtenção do produto final. O diretor da entidade destaca o encarecimento do custo logístico. “Transportamos grande parte de água junto com a cana, que tem seu peso no frete mas não é aproveitado na produção de açúcar ou etanol”, disse.
Pádua afirmou que os preços ainda são deficitários para as usin! as já que na composição entre açúcar e álcool a média continua mais baixa. Ele disse ainda que o preço do açúcar não foi para o caixa das empresas já que a cotação média do produto já embarcado foi de 16 centavos de dólar por libra-peso. Acima da média histórica, próxima dos 13 centavos de dólar por libra-peso, mas bem abaixo dos patamares atuais, na casa dos 21 centavos. O efeito é maximizado pelo fator câmbio já que no início das exportações o dólar era negociado a R$ 2,31. “Foram dois anos de preços não remuneradores e falta de crédito. O processo agora é de pagar essas contas”, disse Pádua, destacando que os projetos que estão entrando em operação tiveram início há mais de duas safras. “Não estamos assistindo nenhuma retomada”, completou.
Mercados
Açúcar e etanol vivem momentos distintos não só em precificação quanto em mercado. Enquanto as exportações de etanol caíram 27,35 desde o início da safra, em abril, as vendas internas do produto somaram 10,8 bilhões de litros até 15 de setembro, crescimento de 16,8% em relação ao mesmo período da safra anterior. Já o açúcar apresentou crescimento de 33,2% nas exportações no mesmo período da safra anterior. Com isso, apenas a venda externa de açúcar contribuiu com US$ 1 bilhão adicional na balança comercial brasileira.
O Brasil vai deixar de colher 50 milhões de toneladas de cana-de-açúcar ao final da safra 2009/10 por causa das chuvas.