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Raízen foca em eletrificação de usinas e exportação de energia para Europa

CEO da companhia destaca uso eficiente da biomassa e aposta no etanol de segunda geração como estratégia sustentável para o futuro

Raízen foca em eletrificação de usinas e exportação de energia para Europa

Durante o Bradesco BBI AgroSummit, realizado em São Paulo, nesta semana, o CEO da Raízen, Ricardo Mussa, apresentou um plano ousado de eletrificação das usinas da empresa, com o objetivo de transformar o Brasil em um exportador líquido de energia para a Europa. Mussa destacou as oportunidades de sinergia entre os setores agrícola e energético, com foco na utilização eficiente da biomassa derivada da cana-de-açúcar.

Segundo o executivo, a cana-de-açúcar é uma fonte poderosa de energia renovável, mas apenas uma parte de seu potencial é explorada de forma eficiente. Ele explicou que a energia da cana está distribuída de forma quase igual entre o caldo, o bagaço e a palha, com cada um desses componentes representando cerca de um terço do total energético da planta.

Atualmente, a Raízen utiliza o bagaço para produzir etanol de segunda geração (E2G) e aproximadamente 70% do bagaço é destinado à geração de vapor e eletricidade nas próprias usinas. No entanto, Mussa defende que eletrificar as operações das usinas seria uma solução mais eficiente, permitindo que a biomassa seja liberada para a produção de biocombustíveis, aumentando o potencial de exportação de energia. “Se eu pudesse eletrificar todo o parque industrial da Raízen, seria o equivalente a 1,8 vezes a energia de Itaipu apenas para destilar o etanol”, explicou Mussa.

A estratégia da Raízen para a eletrificação de suas usinas está diretamente alinhada com o uso de fontes de energia solar e eólica. Como essas energias são difíceis de armazenar, Mussa propõe convertê-las em biocombustíveis. Ele prevê que, no futuro, o Brasil terá um excedente de energia solar e eólica, e a melhor forma de exportar essa energia será transformá-la em um combustível líquido. “A maneira de exportar energia eólica é através do biocombustível”, disse ele. O plano é eletrificar o máximo possível as operações, gerando biomassa excedente que possa ser convertida em combustível para exportação.

Ricardo Mussa

Quase toda a produção de etanol de segunda geração (E2G) da Raízen já é destinada ao mercado europeu, onde o biocombustível é valorizado por não competir com a produção de alimentos. Isso permite à empresa acessar prêmios mais altos, fortalecendo sua posição no mercado global de energia limpa.

Durante o evento, Mussa também abordou o futuro dos combustíveis sustentáveis de aviação (SAF, em inglês), que ele acredita ser o primeiro segmento a se descarbonizar. No painel sobre biocombustíveis, o CEO enfatizou a necessidade de políticas públicas que incentivem a produção de SAF no Brasil. Segundo ele, o país tem condições privilegiadas para liderar esse mercado, especialmente pela abundância de etanol e pela proximidade de regiões estratégicas, como Paulínia-SP, próximo ao porto de Santos.

Mussa argumentou que a produção local de SAF reduziria custos e emissões, eliminando a necessidade de transportar etanol para os Estados Unidos, onde ele é convertido em SAF antes de ser exportado para a Europa. Essa integração poderia tornar o Brasil um player central na produção global de combustíveis sustentáveis para a aviação.

Embora a Raízen tenha focado suas operações no mercado externo, o executivo reconheceu o crescimento do etanol de milho no Brasil. Ele destacou que o etanol de milho está desempenhando um papel fundamental no mercado doméstico, substituindo a gasolina e promovendo a expansão de postos de combustíveis. “O etanol de milho está transformando o mercado de combustíveis e abrindo espaço para novas bombas de combustível no Brasil”, afirmou.

O CEO admitiu que, se pudesse voltar atrás, teria investido mais no setor de etanol de milho, reconhecendo que subestimou o potencial dessa indústria. No entanto, ele ressaltou que, no momento, a Raízen não tem planos para novas aquisições, já que a empresa ainda está integrando uma compra feita há três anos. O foco atual da empresa é reduzir custos e melhorar a eficiência operacional.