Mercado

Bagaço de cana no forno da padaria

Na padaria de José Adriano Cruz, o forno onde são produzidos pães, bolos e salgados e que antes era todo movido a lenha recebe, desde 2007, uma parcela de matéria-prima diferente. Quando queimada, produz uma fumaça esbranquiçada, menos poluente, que ajudou o empresário a reduzir seus custos com limpeza. O mal cheiro resultante também é menor, assim como os gases poluentes, diminuindo as queixas das residências vizinhas ao seu estabelecimento. E ela ainda inicia o fogo bem mais rápido. O produto é difícil de ser reconhecido, mesmo visto de perto. Poucos ousariam dizer que se trata de bagaço de cana-de-açúcar.

Batizado de briquete, tem mostrado ano a ano sua viabilidade comercial para o setor sucroalcooleiro. Alinhado com os conceitos de sustentabilidade, o excedente de bagaço de cana que não é queimado para fazer funcionar as caldeiras das usinas, em vez de descartado, passa agora por processos semi-industriais que o transformam na matéria-prima utilizada por Cruz e outros empresários donos de panificadoras e pizzarias. Nos últimos três anos, o briquete tem angariado consumidores e começa a provocar um movimento em prol do aumento na sua produção. O desafio agora é inseri-lo em mercados de maior escala.

A Usina Vitória é pioneira no Estado na fabricação, mas o pontapé inicial no Nordeste foi dado pela Usina Sumaúma, situada em Alagoas. Sua iniciativa é fruto das mudanças ocasionadas pelo racionamento elétrico do começo da década. A necessidade de se economizar energia fez com que as usinas aumentassem a utilização de bagaço (resíduo da moagem) para fazerem trabalhar as caldeiras e estimulou o desenvolvimento de novas tecnolog! ias energéticas a base de cana-de-açúcar.

Quando passaram a usar o bagaço nas moenda, viram-se com o problema de gerenciar o excedente que não encontrava utilização prática. Pilhas se formavam no interior das usinas. Essas fermentavam com rapidez e adquiriam características inflamáveis, colocando em risco a segurança dos trabalhadores. Como a venda do bagaço in natura é pouco rentável, precisava-se encontrar um meio de aproveitar as sobras de maneira lucrativa, encontrado finalmente no briquete. Esse é vendido a R$ 220 a tonelada, enquanto que o bagaço em estado natural custa R$ 30 reais a tonelada.

Ganhando aceitação entre pequenos negócios, o briquete prepara-se para saltos maiores. Um dos mercados futuros vislumbrados é o polo gesseiro do Araripe.

“O fato de serem alvos constantes de fiscalizações dos órgãos ambientais por utilizarem lenha na produção do gesso, deixa as empresas desse setor em condições de trocarem sua matriz energética poluente e que potencializa o desmatamento das matas regionais pelo briquete”, menciona o presidente do Sindicato da Indústria do Açúcar e do Álcool no Estado de Pernambuco, Renato Cunha.