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A colheita da cana-de-açúcar

Em meados de setembro inicia-se mais uma colheita do nosso principal produto agrícola. Como sempre, vem à tona a velha e recorrente questão da queima dessa gramínea com o propósito de facilitar o seu corte, colheita e transporte para as unidades produtoras de açúcar e álcool. Todo mundo dá palpite em busca da melhor alternativa e poucos apresentam soluções adequadas à realidade alagoana. Para os céticos e determinadas faixas de ambientalista, a solução pura e simples é o corte e colheita da cana “crua” por meio de colheitadeira mecânica e a abolição completa da queima dos canaviais e o consequente desemprego em massa dos cortadores de cana. O argumento é reforçado pela comparação com determinadas regiões de São Paulo, Paraná, Minas Gerais e outras regiões do Centro-Oeste do Brasil, que estão buscando essa solução, amparada por leis estaduais que estabeleceram prazo até 2015 para a completa adoção dessa tecnologia.

Ocorre, porém, que a safra nas regiões Sudeste e Centro-Oeste é realizada no outono/inverno, com predominância de frio muito intenso para os padrões brasileiros e baixíssima umidade do ar. Há grande concentração de poeira na atmosfera, venta mais e o pó se deposita na superfície. O ar frio é mais denso e não sobe, aumentando a concentração de poluentes na atmosfera (inversão térmica). A baixa umidade do ar associada aos particulados da queima da cana é muito prejudicial à respiração humana. Essas são as razões fundamentais para a proibição da queima da cana-de-açúcar nessas regiões, com a consequente colheita mecanizada, facilitada pelo fato do plantio dessa cultura ser realizado em áreas quase que totalmente planas.

No Nordeste e, particularmente, em Alagoas, a safra acontece no período de primavera/verão, sempre quente e com elevada umidade. O ar mais quente e menos denso, leva as partículas de impureza para o alto, gerando muito menos poeira depositada na superfície. Diferentemente daquelas regiões, o nosso ar mais quente e menos denso, sobe bastante, dispersando e diminuindo consideravelmente a concentração de poluentes na atmosfera com a conseqüente inexistência de inversão térmica. Nossa alta umidade do ar atua favoravelmente sobre os particulados da queima da cana, diminuindo bastante os efeitos nefastos sobre a respiração humana. Por outro lado, mais de 1/3 da nossa área de plantio situa-se em áreas acidentadas impossibilitando a adoção da colheita mecanizada.

(*) É professor da Ufal (evilá[email protected]).