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Supervalorização da da mamona é reconhecida pelo governo federal

Coordenador do Departamento de Combustíveis Renováveis do Ministério das Minas e Energia, Ricardo Gusmão Dornelles justificou, no evento, o incentivo dado à mamona no início do Programa Nacional de Biocombustíveis. Hoje, a mamona é, comprovadamente, uma oleaginosa de menor rendimento energético dentre as espécies pesquisadas nos últimos 10 anos. Dornelles explicou que à época do início da discussão em torno de novos combustíveis vegetais, a mamona, juntamente com a palma (dendê), era uma das duas únicas variedades com recomendação técnica para plantio. As pesquisas de outras plantas, como o pinhão manso, ainda estavam em fase inicial. Sem recomendação agronômica, o agricultor não teria direito ao seguro-safra. O especialista reconheceu que a avaliação excessivamente positiva do futuro da mamona para o uso energético.

Para Ricardo Dornelles, o tema energia continuará despertando amplos e acalorados debates. Ele levantou alguns questionamentos quanto ao futuro do setor energético como um todo. A crise econômica mundial motivou reavaliações e postergações de investimentos no Brasil e no mundo. Afirmou, também, que o planeta ainda é fortemente dependente dos combustíveis fósseis, principalmente de carvão e petróleo. No caso do petróleo o leque de países exportadores ainda é muito limitado.

Para o palestrante, o debate em torno de novas fontes energéticas ainda é bastante inconsistente em todo o mundo. A promoção de mudanças que minimizem o aquecimento global esbarra em prazos que não podem ser abreviados, posto que a pesquisa científica demanda tempo e experimentação. Ressaltou também o fato de não haver um organismo internacional, com a importância das organizações relacionadas à ONU, reconhecido para ser o palco do debate energético. A ausência de um fórum legítimo permite que falácias que relacionam os biocombustíveis ao aumento da fome sejam difundidas.

– A grande vitória do Brasil na convenção da FAO foi sair de lá sem que houvesse consenso. Se viesse o consenso, ele seria para prejudicar os interesses dos paises em desenvolvimento – disse Dornelles, em referencia à cúpula da Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação (FAO), ocorrida em Roma, em 2008, quando o presidente Lula disse a emblemática frase “Os biocombustíveis não são os vilões. Vejo com indignação que muitos dos dedos que apontam contra a energia limpa dos biocombustíveis estão sujos de óleo e carvão”.

Ricardo Dornelles foi enfático ao questionar a “invisibilidade” dos biocombustíveis no debate sobre sustentabilidade, além de criticar veementemente as barreiras tarifárias e não tarifárias aos combustíveis vegetais brasileiros. Citou como uma das barreiras não tarifárias a lei norte-americana contra o uso indireto da terra, que, de forma transversa e deturpada, pune o biocombustível brasileiro pelo plantio da soja,! que, em tese, avança contra a Amazônia. Lembrou que, pela baixa produtividade do produto, a soja é primordialmente um alimento, e que em nenhum momento se teve o apoio do Programa Nacional de Biocombustíveis para desmatar a Floresta Amazônica.

Interesses de ordem econômica dificultam a transformação do etanol e dos biocombustível em commoditie. Ele encerrou a palestra lembrando um fato relevante sobre a história do etanol:

– O Pró-álcool, ao longo de seus quase 30 anos, promoveu a economia de 921 milhões de barris de petróleo, o equivalente a nove anos de consumo atual, tendo impedido emissões de 850 milhões de toneladas de CO2. É um exemplo de que é possível haver um programa bem-sucedido de substituição de derivados de petróleo – concluiu.